Autoria: Membro do CP
É virtualmente impossível que qualquer estudante matriculado no Instituto Superior Técnico nos últimos anos não tenha inscritos na sua memória os Inquéritos à Qualidade das Unidades Curriculares (QUC).
À medida que os dias nos vão aproximando de uma determinada interrupção letiva, e o final do semestre começa a espreitar por entre as folhas do calendário, irrompem também os lembretes para que não abdiquemos de dar as nossas respostas, através de uma avaliação numa escala de 1 a 9, às perguntas que são colocadas em quatro campos distintos – Carga de Trabalho, Organização da Unidade Curricular, Avaliação e Docência – e que se propõem a retratar a qualidade das práticas pedagógicas em cada Unidade Curricular (UC). É nesta lógica que a participação nos mesmos não pode deixar de ser incentivada, e que surge a necessidade de desmistificar algumas convicções amplamente aceites que possam comprometer a disponibilidade dos estudantes para deixarem as suas respostas, desde logo a ideia de que são inconsequentes ou que não têm capacidade de se traduzir em mudanças nos anos subsequentes.
Com efeito, às 700 UC que semestralmente funcionavam antes da reestruturação do Técnico somaram-se mais 275, perfazendo um total de 975 UC que serão submetidas a este processo de escrutínio. Se, em qualquer uma destas, uma das quatro dimensões de análise previamente elencadas merecer uma nota igual ou inferior a 5, essa mesma UC entra em observação ou mesmo em auditoria, no caso desta avaliação ser dada a mais do que uma das categorias, ou se comportamentos identificados como incorretos persistirem após o período de observação. Estas auditorias, cujos resultados são públicos, compreendem reuniões que envolvem o Corpo Docente da UC visada, delegados e coordenadores de curso, conduzidas com o objetivo de analisar os aspetos que motivaram insatisfação, sugerindo-se medidas que os possam enfrentar e discutindo-se a sua implementação. Ao longo dos últimos cinco anos, 20 UC entraram em observação e 3 foram auditadas.
No que à docência diz respeito, uma avaliação de 9 atribui a um docente um diploma de excelência, enquanto que uma nota inferior a 5 em dois semestres seguidos ou inferior a 6 em três semestres consecutivos leva a que o docente seja automaticamente abrangido por um programa de observação de aulas. Geralmente, três a cinco docentes são submetidos a este procedimento no final de cada semestre, com melhorias de desempenho assinaladas nos anos seguintes. Finalmente, é também relevante ter em consideração que as avaliações que emergem dos Inquéritos QUC são utilizados como critério de avaliação dos docentes, que são consideradas para o procedimento de progressão interna na carreira, bem como para a renovação de contratos de Professores Convidados.
Todavia, reconhecer a importância dos Inquéritos QUC não pode ser dissociável da promoção de uma constante reflexão em torno do seu modelo, nem da persistente aferição da sua adequação à realidade que pretendem caracterizar. Por isso, mais do que exaltar as qualidades e resultados deste mecanismo, importa também desenvolver um trabalho crítico de modernização e atualização do mesmo, perante os novos tempos que vamos coletivamente moldando, assegurando que continua a servir os interesses dos estudantes e, de forma transversal, todo o Universo Técnico.
Num contexto em que as fronteiras entre aulas teóricas e práticas se esbatem e abraçamos cada vez mais o dinamismo das aulas teórico-práticas, torna-se também necessário assegurar que os Inquéritos QUC permitem avaliar fielmente as novas experiências de aprendizagem em sala de aula, por exemplo, permitindo caracterizar a forma como se deu a conjugação entre as duas vertentes. Quando transitamos para um modelo em que os docentes são incentivados a privilegiar momentos de avaliação contínua, retirando peso aos habitualmente mais ameaçadores testes e exames, surge a necessidade de avaliar de forma mais pormenorizada e exaustiva a implementação e conjugação de modelos de avaliação que entretanto se popularizaram, como projetos, quizzes, fichas e monitorizações de aprendizagem em sala de aula. Se o estudo autónomo é fomentado e a disponibilização de novas formas de materiais de estudo e aprendizagem, designadamente flipped classrooms, assume uma centralidade superlativizada, é também importante procurar aferir a satisfação dos estudantes quanto aos recursos que lhes são fornecidos, criando-se igualmente campos preparados para escrutinar estas inovações.
A estes exemplos de possíveis reestruturações certamente se somarão muitas outras sugestões e contributos dos restantes elementos da comunidade educativa do Técnico. Será juntando todas essas peças que será possível aprimorar um instrumento tão importante para a qualidade das práticas pedagógicas do IST como são os Inquéritos QUC, adequando-os às exigências da nova realidade da nossa Instituição. Neste sentido, não pode haver outro caminho que não seja o da abertura ao diálogo e participação sinérgica de todas as partes que constituem a Escola, com o máximo empenho dos seus Órgãos, por forma a, uma vez mais, concretizarmos, neste capítulo, as transformações que o presente exige e o futuro anseia. Conscientes da necessidade de responder a qualquer falha ou lacuna que se apresente por diante, trabalharemos com transparência, espírito de coletivo e indefetível empenho no processo de contínua melhoria dos nossos QUC.