“Aumenta tudo, aumenta a luta!”: Estudantes da NOVA FCSH lutam contra os sucessivos aumentos nos preços da alimentação

Autoria: Duarte Mihuta (LEEC)

No passado dia 29 de fevereiro, a Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (AEFCSH) organizou uma concentração contra os recentes aumentos nos preços do bar da faculdade e da refeição social para o valor de 2,89€.

Com a aproximação das 12h30, hora para a qual a ação de luta foi convocada – coincidente com a hora de almoço – formou-se a recorrente fila na cantina de Ação Social da Faculdade, que chegou a alargar-se para além das portas da cantina, até à rua.  Enquanto a concentração se formava junto à entrada da cantina, dirigentes associativos da AEFCSH gritavam palavras de ordem, como: “Aumenta tudo! Aumenta a luta!” e “Ação, ação, ação social não existe em Portugal!”. A ação de luta, integrando a própria fila para a cantina, atraiu os estudantes que, mesmo não se mobilizando, se juntaram a esta ao prosseguirem com os seus dia-a-dias ao esperarem pela sua vez de obter a refeição social.

Estudantes formam uma fila que parte da cantina, enquanto uma dirigente da AEFCSH grita palavras de ordem no megafone. Fotografia: AEFCSH.

Os estudantes saíram depois à rua, concentrando-se à frente da Torre B, edifício na qual a cantina se encontra inserida, continuando as palavras de ordem, acrescidos também de uma faixa, onde era possível ler: “Aumenta tudo! Aumenta a luta!”. A ação de protesto encerrou com as intervenções de Gabriel Costa, dirigente da AEFCSH, e Guilherme Vaz, Presidente da Direção da AEFCSH, que denunciaram os problemas estruturais que causaram os aumentos dos preços: o subfinanciamento dos Serviços de Ação Social (SAS), causado pelo subfinanciamento crónico do Ensino Superior (ES), foi colocada a necessidade de lutar contra todos os entraves à entrada e permanência no ES face à sub representação dos estudantes nos órgãos de gestão da faculdade e o peso que este aumento dos preços, acoplado a anteriores aumentos no preço da refeição social e do custo geral de vida tem na vida de cada estudante.


Madalena Viegas, que estuda na faculdade, relatou que tem “sentido na pele os múltiplos problemas do Ensino Superior” e que “no presente semestre deparámo-nos com a subida de preços, na cantina e no bar social”.

“As despesas que temos são cada vez maiores e qualquer aumento reflete um peso significativo na carteira, ao fim do mês. Tenho consciência das dificuldades extremas pelas quais colegas passam e não me conformo.”

Acredita também que os estudantes se devem unir e lutar por melhores condições nas instituições de Ensino Superior. ““É preciso continuar a dar voz e a mostrar o descontentamento com tudo o que se tem passado. Precisamos de continuar a lutar, pela justiça, pela democracia e pela igualdade.” 

Outro estudante, Mauro Farinha, defende que os aumentos em questão  “ se demonstram prejudiciais para todos os alunos, especialmente para os deslocados”. Além disso, diz que há outros motivos para que se tenha juntado a esta luta: “ “as propinas e taxas, a falta e os atrasos das bolsas de estudo da DGES,  a falta de alojamento acessível para os estudantes, culminam todas numa notória elitização do Ensino Superior. Juntei-me a esta luta para conseguir travar estas e outras barreiras que são diariamente impostas aos jovens e com esperança de fazer um ensino público, gratuito, democrático e de qualidade.”

Estudantes concentram-se em frente à Torre B, segurando uma faixa com a principal palavra de ordem da ação. Fonte: AEFCSH.

Em declarações ao Diferencial, o presidente da AEFCSH, Guilherme Vaz, respondeu a uma série de questões em torno do assunto:

Qual foi o motivo pelo qual esta luta foi convocada?

“O programa que nos elegeu enquanto órgãos sociais da AEFCSH pugna por um Ensino Superior Público, Gratuito, Democrático e de Qualidade, e convém lembrar que fomos eleitos porque os estudantes votaram em nós. Entendemos que estes aumentos dos preços no Bar, além do previsto aumento do Prato Social, não nos servem enquanto estudantes. São mais um dos passos no caminho que se assiste, de privatização e elitização do Ensino Superior. Os Serviços de Ação Social (SAS) disseram-nos mesmo que aumentaram os preços porque não há dinheiro, não há financiamento para cobrir os aumentos dos salários e dos produtos. Sentimos a revolta dos estudantes face a esta matéria, até pelas reações ao comunicado que tínhamos lançado, e decidimos avançar.”

O preço da refeição social manteve-se durante algum tempo a 2,79€ na Universidade NOVA (UNL), apesar da atualização do Indexante de Apoios Sociais (IAS). O que aconteceu para se dar este novo aumento?

“Os SAS decidiram pedir novamente parecer ao Conselho de Estudantes da UNL, em Janeiro, acerca da subida do preço da refeição social para 3€. Na prática, o que dá a entender é que os SAS precisavam mesmo deste aumento, porque não é costume acontecer estas subidas a meio do ano lectivo. Nós achávamos até que aquilo seria chumbado por unanimidade entre AEs (naturalmente com votos a favor do Reitor e da Administradora dos SAS), mas não foi assim. Apesar de todos demonstrarem oposição aos 3€, foi proposto um aumento intermédio por uma das AEs, para 2,85€, aumento que foi chumbado pelo Reitor e Administradora dos SAS por não ser suficiente. Depois, a mesma AE propôs os 2,89€ e aí, sim, aprovou-se essa subida, que só contou com o[s] nosso[s] voto contra e oposição, por várias ordens de razão, seja por uma questão de princípio, seja por uma série de outras razões.”

Qual deve ser o papel de uma Associação de Estudantes quanto a estas reivindicações?

“É organizar para a luta, não há muitos segredos. Nós estamos a falar de uma situação que é um ataque claro aos nossos direitos. Não temos de ser nós a lançar as lutas e a convencer os estudantes, nós limitámo-nos a perceber que isto os indignava e, acompanhando a sua análise, dar-lhe corpo em forma de luta e protesto. Quando falo em protesto não me refiro só a dia 29, falo de um processo de construção de luta e de indignação, e que terá muitos outros momentos de expressão, como  21 de Março (manifestação estudantil) o será com toda a certeza.”

A intervenção final de Guilherme contou com um apelo à manifestação do Dia Nacional do Estudante, já subscrito por mais de uma dezena de associações académicas e de estudantes pelo país, com o lema “Queremos mais Abril aqui!”, convocada para dia 21 de março, às 14h30, no Rossio. [2]

Referências
[1] Comunicado da AEFCSH sobre o aumento dos preços no bar e refeição social
[2] Dia Nacional do Estudante

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