Autoria: Madalena Bento (LEBiol, Externo)
Preocupamo-nos tanto em viver que nos esquecemos de o fazer.
Nunca percebi o porquê de os números complexos se chamarem assim, dado a complexidade dos exercícios do secundário que os envolvem nunca ser muito elevada.
Se calhar, só tenho esta opinião porque, com muita tristeza da minha professora de Cálculo III, a análise complexa saiu do programa do meu curso. Se calhar, precisava de falar com alguém de Matemática para tirar teimas sobre este assunto.
Na verdade, existem números bem mais complexos do que os imaginários. Tudo o que é imaginário não passa disso, as coisas ficam difíceis quando se tornam reais e concretas, porque, a partir daí, temos de lidar com elas. O mesmo acontece com os números – são os reais e os naturais que nos chateiam, são esses os verdadeiros números complexos dos quais ninguém fala: os números nas balanças, nas publicações, nas caixas de supermercado, nas pautas do Fénix e nas comparações com os outros. Vivemos açambarcados por números, posições e rankings que nos são impostos ou que nos impomos a nós mesmos para alcançar. Vivemos assoberbados pela quantidade de tempo que temos e que não temos, pelo número de coisas que temos para fazer e pelo número daquelas que fazemos desnecessariamente ou que deixamos por fazer…
Vivemos tanto todos estes números que nos esquecemos daquele que realmente importa, aquele que marca a hora e o dia atual, resumidamente, o presente!
Estamos sempre tão preocupados em concretizar uma lista enumerada de objetivos que acabamos por não viver o momento atual, nem celebrar aquilo que vamos conquistando. Vivemos constantemente numa busca incessante de mais e mais, nunca estando satisfeitos com nada.
Esta insatisfação permanente faz com que outros números oscilem: aumentam os níveis de tristeza e stress, e diminuem os de sono e autoestima.
Por isso, sim, temos de começar a olhar com outra perspetiva para esses números que nem à categoria de complexos chegaram. E mesmo sendo complexo, aplicamos um Divide and Conquer* e passamos a relativizá-los e a diminuir-lhes a importância.
Devemos também parar de olhar e stressar tanto com os números dos outros, porque contextos diferentes dão origem a resultados diferentes.
Em suma, viver mais aquilo que é nosso e não o que é dos outros, procurando sempre, não só sobreviver, mas sim, viver e celebrar os aspetos bons da vida.
* Divide and Conquer é um técnica que usa em algoritmos computacionais para diminuir a complexidade dos mesmos