Autoria: Pedro Lima (LEIC-A)
“Plug-In”, a exposição mais recente de Joana Vasconcelos no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa, estreou a 29 de setembro do ano passado e terminou no passado 8 de abril. Ao transformar objetos do dia-a-dia, sobretudo os que concernem à eletricidade e à tecnologia, em arte, a artista despiu-os da sua vulgaridade e conferiu-lhes uma mensagem.
Umas conhecidas e outras inéditas, as criações eram apresentadas em ambos os edifícios do museu. O nome da exposição, com o sentido de ligar algo à corrente, lançava luz sobre dois factos importantes. O primeiro é que reabilitações desta natureza são recorrentes nos trabalhos da artista. E o segundo é que o acervo elétrico está associado à própria atividade da Fundação EDP. João Pinharanda, o atual diretor do MAAT, levou a cabo a curadoria desta exposição.
O MAAT Central era o ponto de partida de “Plug-In”. Era aqui que se encontrava a “Árvore da Vida”, uma criação já apresentada na Temporada Cruzada Portugal-França, com o intuito de promover a imagem moderna e criativa de Portugal.
Para além de um tronco feito de lãs e outros materiais, esta árvore tinha uma copa repleta de bordados, lantejoulas e couro. E por toda a estrutura, havia uma miríade de luzes LED, que reforçava o vermelho e o dourado dos materiais usados. Era uma visão imponente. Aliás, a obra excedia significativamente a altura de uma pessoa. Era quase como se tentasse alcançar algo além do teto.
A exposição continuava no MAAT Gallery, onde estavam seis outras obras de Joana Vasconcelos. “Drag Race” — um Porsche 911 Targa Carrera decorado com plumas e talha dourada — materializava o “luxo que constitui a expressão própria sem restrições” e estabelecia a “ligação às drag races dos Estados Unidos da América”, segundo a artista. [1]
Já “War Games” era um Morris Oxford clássico, coberto com espingardas de brincar, cujo interior estava repleto de bonecos de peluche. Foi o avô de Joana Vasconcelos quem lhe ofereceu este carro, depois da artista tirar a carta. O significado aqui era mais complexo, sugerindo uma história de vida feita de contrastes.
“I’ll Be Your Mirror” e “Solitário” eram peças com temática social. A primeira criação era uma máscara veneziana, feita de espelhos e molduras barrocas, que aludia ao papel dos artistas na sociedade. A segunda era um anel de noivado em grande escala, que representava o amor e o desejo numa sociedade consumista. Tinham uma monumentalidade semelhante à da “Árvore da Vida”, além da sua relevância nos tempos que correm.
Produzida em 2015 para o resort MGM Macau, “Valkyrie Octopus” era uma obra que se inspirava nas valquírias da mitologia nórdica. O uso de tecidos, croché e passamanaria remetia para a Rota da Seda. Uma escolha que terá sido certamente consciente, visto que o comércio da seda se iniciou na China.
Finalmente, “Strangers in the Night”, obra que pertence à Coleção de Arte Fundação EDP, era um gradeamento acolchoado coberto por faróis de carros. Mas não era só isso que a caracterizava. A canção homónima, de Frank Sinatra, era emitida continuamente pela peça e explicitava o significado sugerido — a procura noturna de um amor fugaz a que muitos homens se sujeitam. Perante isto, era difícil permanecer indiferente.
Primeira artista a vencer o Prémio Novos Artistas Fundação EDP, no ano 2000, Joana Vasconcelos teve a sua exposição aberta ao público até 8 de abril.[2] Embora a experiência possa ter parecido um tanto breve, cada peça apresentada em “Plug-In” era única, tornando a exposição memorável na sua totalidade.
Referências:
[1] Joana Vasconcelos – Drag Race (acedido pela última vez a 03/04/2024)
[2] Joana Vasconcelos – Plug-in (acedido pela última vez a 03/04/2024)