Pareidolia

Autoria: Haohua Dong (MEEC)

Entre a realidade e a ilusão, o conceito de pareidolia é associado à interpretação ótica ou sonora que varia com a capacidade criativa do observador. Deriva-se não só pela nossa condição psicológica, mas também no mecanismo de reconhecimento de padrões que cada um de nós apresenta. Nesse sentido, este fenómeno fornece explicações para muitas miragens criadas pelo cérebro humano ao longo da história e tal termo tornou-se algo relevante na disciplina de Metafísica que examina a natureza fundamental da realidade, incluindo a relação entre a mente e a matéria.

Assim, o objetivo do texto converge-se na criação de mundos temporários com algum estímulo inerente às disposições do próprio leitor, como se fossem passagens de um sonho lúcido; ocasionalmente nascem palavras bem-dispostas, com um parágrafo a separar cada imagem ou aglomerado de símbolos.  

Neste espaço sagrado podemos ouvir a natureza e as vozes dos estranhos a harmonizar com o ambiente. Ainda assim, é quase impossível não se queixar do silêncio inexistente, da presença de ondas sonoras – daquela sensação inexplicável quando olhamos para as estrelas numa noite de verão, deitados nos braços da natureza, sozinhos, sem ninguém.

Este mesmo paraíso pode ser descrito como um lugar efémero em que a nossa mente é condensada em ligações rápidas e as nossas perceções da realidade são multiplicadas. Haverá algo que saiba melhor do que a nossa própria intuição a esclarecer as nossas imperfeições internas e em simultâneo, questionar este mundo de ficção científica?

O conceito de lucidez torna-se ambíguo. É impercetível se são os estímulos vagos do ambiente externo – ruídos de estranhos – ou se é o nosso próprio organismo a transmitir impulsos aleatórios ao cérebro, mas algo nos diz que não é suficiente aceder ao passado para justificar a consciência presente, e que consumir memórias tem só a finalidade de produzir reconforto – aquele conhecimento armazenado, seguro e pouco discutível, que, de certo modo, define a nossa clareza da realidade.

De repente, a reflexão perde-se e voltamos ao mundo sensorial.

Ainda na mesma quimera, esta entidade senta-se nostálgica na esplanada do Parque Bensaúde e deixa a brisa e os discursos de terceiros entrarem no seu espírito, de tal modo que é possível criar uma simples história em que até os raios solares que penetram no movimento arbitrário das folhas da árvore possam ser mencionados. Nestes poucos minutos de paz, o fascínio da realidade aparenta ser descomplicado e claro. Contudo, a ciência manifesta-se num fechar de olhos.

A memória e a sua interpretação misteriosa são sucintamente reduzidas a células nervosas que se disparam em consequência de um estímulo específico. Ao ser a íntegra do nosso ser e devido à sua remodelação inconstante com a variável tempo, os detalhes desaparecem, as apreciações regressam infrequentemente e a nossa visão anterior da Terra é esquecida. Sem posse do conhecimento dos diversos caminhos existentes, o nosso paladar entra em metamorfose e deixamos de compreender o passado sentimento.

Talvez a finalidade de discutir a temática da associação entre a memória e o conhecimento, da realidade e da perceção subjetiva, entre outros assuntos, seja só a nossa musa interior disfarçada no instinto humano de compreender interminavelmente os mistérios do Universo ou, uma possibilidade mais banal, um estímulo fabricado por nós para escapar o aborrecimento de estar sentado sozinho numa esplanada.  Com esta corrente, paremos de tentar localizar o ponto de equilíbrio sereno do nosso estado sui generis. Não existe mal nenhum em aceitar o mecanismo de conhecimento e, abstraindo das eventuais visões aqui aparecidas, quem sabe se é possível resumir tudo ao fenómeno de pareidolia que existe nas nossas mentes. 

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