Autoria: Maria Abrantes (LEFT), Margarida Lourenço (LEIC-A)
Vencedores do concurso de bandas ContrabandIST, organizado pelo Instituto Superior Técnico (IST), os Flor Girino estrearam-se no Arraial do Técnico na noite de 13 de setembro de 2024. No dia 9 de dezembro de 2024, o Diferencial esteve à conversa com Mati, baterista da banda, para conhecer a história do grupo, o seu crescimento ao longo dos últimos 3 anos e as dificuldades de ser um new-artist em Portugal nos dias de hoje.
Quem são os Flor Girino?
“Acabamos por estar todos conectados sem o saber”. Lucas Calheiros (nome artístico: Lucas – vocalista e guitarrista principal) e Matilde Ho (nome artístico: Mati – baterista), ambos alunos de Estudos Gerais, conheceram-se durante o primeiro ano de faculdade, em 2020/2021. Porém, a pandemia adiou por meses a jam session que haviam planeado. Pouco depois de se reunirem, João Sousa (nome artístico: Jaca – teclista), amigo de ambos, e Gabriel Cerutti (nome artístico: Cerutti – baixista) integraram também o grupo.
Originalmente denominados “21 gramas”, o grupo viu-se obrigado a alterar o nome no dia do seu primeiro concerto, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), uma vez que existia outra banda assim intitulada. Com pouco tempo para decidir, os artistas recorreram a um gerador aleatório de duas palavras, de onde “Flor Girino” saiu vencedor, superando as opções “Trigo Côncavo” e “Pose Colapso”.
Descrever o género musical de Flor Girino pode ser difícil, mesmo para os membros da banda. “Tendemos sempre a responder rock alternativo, seria o mais adequado… mas não consideramos que nos encaixamos em apenas um estilo” . O grupo define a sua música como uma espécie de rock surrealista, porém admitem ter músicas com diversas influências, motivo pelo qual os fãs têm tendência a descrevê-los como artistas de outros géneros, como rock psicadélico – “temos definitivamente elementos psicadélicos, mas não diria que somos uma banda de rock psicadélico”. Mati acredita que o motivo pelo qual é tão difícil colocar um rótulo ao estilo musical das suas criações se deve às preferências artísticas distintas dos membros da banda, desde Slowdive e Smashing Pumpkins a MGMT e Charlie Brown Jr.
O processo criativo dos Flor Girino
“O Lucas virou-se para mim e disse: ‘Tenho material suficiente para escrever um álbum!’”. Parte das músicas são composições de Lucas, porém a maioria resulta de um processo verdadeiramente coletivo, que surge em jam sessions fluídas, onde todos os membros partilham entre si ideias para novas canções, explorando novas melodias e letras. “É muito orgânico, nós estamos sempre a inventar coisas de qualquer das formas” – assim descreve Mati o processo criativo da banda.
As dificuldades de ser um new-artist em Portugal
“O mais triste é ver os espaços culturais desaparecerem”, confessa Mati, que destaca a falta de financiamento como um dos maiores obstáculos. Enquanto jovens artistas em Portugal, um país onde o investimento na cultura é consideravelmente reduzido, começar uma carreira musical é um desafio. Ingressar no mundo artístico exige um grande investimento de tempo e esforço, e encontrar estúdios e produtoras para alcançar a qualidade desejada é, muitas vezes, um processo trabalhoso. “Hoje em dia, não basta ser músico para ter uma banda” – com o avanço da tecnologia e dos media não tradicionais, grande parte da indústria musical abrange setores que vão para além da composição e produção de músicas. A publicidade, imagem digital, assim como a produção e edição de vídeo e a divulgação de eventos e conteúdos tornaram-se responsabilidades que também recaem sobre os artistas.
“Grilo Grávido” e projeções para o futuro
O quinto single de Flor Girino, “Grilo Grávido”, nasceu no verão de 2022, mas apenas foi lançado no final de 2024. O single está atualmente disponível em várias plataformas de streaming como o Spotify, o SoundCloud, o Bandcamp e o YouTube, sendo nesta última acompanhado de um videoclipe realizado com a ajuda de amigos da banda.
“Todo o processo de gravar um álbum… é um sonho de todos a materializar” – Mati revelou ao Diferencial a visão de um novo álbum no futuro que conta com os lançamentos anteriores “Grilo Grávido” e “Praia Dançante”. Ainda assim, a baterista lamenta que “ninguém consegue viver da música… talvez os Capitão Fausto consigam”. Porém sonha em, um dia, atuar em festivais como o Super Bock Super Rock ou o Vodafone Paredes de Coura.
Highlights
O Arraial do Técnico foi um dos momentos mais altos para os membros de Flor Girino. “Foi a primeira vez que atuámos num palco a sério (…), com artistas de renome como os NAPA e o Chico da Tina”. Mati aproveita para recordar a sua primeira atuação em palco e, entre risos, confessa: “o nosso som e a nossa presença em palco melhoraram mesmo muito”.
Os Flor Girino têm revelado um crescimento notável, afirmando-se cada vez mais no mundo da música. O seu mais recente single, “Grilo Grávido”, reflete essa evolução, deixando os fãs ansiosos por novidades da banda, que podem ser acompanhadas através do Instagram.