Em celebração do Dia da Terra, decidimos mostrar a beleza do planeta que habitamos através de um gosto em comum – a fotografia.
Autoria: Carolina Pereira (LEIC) & Leonor Alves (MEBiom)
Nada iguala o fascínio de poder caminhar à beira-mar, sentindo a areia debaixo dos pés com as ondas que vão e vêm refrescando a pele. Paramos aqui, frente ao oceano dos começos, o berço da vida, a porta para novos mundos.
O oceano dá, o oceano tira. Somos presenteados com espetáculos de ondas gigantes, com a fúria das ondas embatendo contra os rochedos, a mesma fúria que alimenta maremotos e tanto nos rouba. Há quem domine as ondas, surfando, velejando, mergulhando. Chegam os marinheiros, é pelo mar que vem o comércio, e, com eles chegam a vir também as más notícias e a ganância. Grita-se “homem ao mar!”, erguem-se cartazes pela salvação da vida marinha. Aplaude-se as acrobacias feitas com uma prancha. Independentemente dos humores das pessoas, a Natureza continua no seu rumo, aguardando o dia em que o equilíbrio e o respeito reinem nesta relação com a Humanidade.
“Mar, Metade da minha alma é feita de maresia” – Sophia de Mello Breyner Andresen
“…the sea’s only gifts are harsh blows and, occasionally, the chance to feel strong.” – Primo Levi
Como poderia a paisagem marinha ficar mais bela? Com a luz certa, a luz quente do pôr-do-sol que pinta as nuvens e as ondas com vibrantes tons de vermelho, laranja, amarelo, magenta. A beleza do final da tarde é constante, mesmo que o pôr-do-sol se vista de nuvens dramáticas. Assim, como apreciadoras deste espetáculo natural, caminhamos quer junto da rebentação, quer pelos carreiros na falésias, capturando estes momentos na memória.
“Lost, yesterday, somewhere between sunrise and sunset, two golden hours, each set with sixty diamond minutes. No reward is offered for they are gone forever.” – Horace Mann
Onde vivemos, o mar dá a mão ao campo. Facilmente, numa dessas caminhadas, damos por nós a dar passadas na transição entre a brisa marinha e o perfume dos pinheiros e do feno. Da praia passamos ao campo, ainda com o murmúrio do mar a ecoar pelos vales. Aqui, o sol presenteia-nos com os seus últimos raios de luz do dia a atravessar a folhagem, a lançar sombras pelos campos cultivados. A vida a recolher para a noite, ouve-se um rastejar pelas ervas altas. Respiramos fundo nesta calmaria campestre e sabemos que valeu a pena o passeio.
“No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas”
– Fernando Pessoa
No dia seguinte, a vida acorda com a mesma energia, no frenesim da sobrevivência e proliferação. As flores abrem mostrando as suas vivas cores, atraindo os visitantes que vêm em busca do pólen. A luz do dia mostra-nos esta mesma paisagem campestre agora com toda a vivacidade. E, no meio das vidas atarefadas, encontramos a nossa paz por baixo das copas dos plátanos e dos castanheiros.
“É um campo verde e vasto,
Sozinho sem saber,
De vagos gados pasto
Sem águas a correr.
Só campo, só sossego,
Só solidão calada.
Olho-o, e nada nego
E não afirmo nada.”
– Fernando Pessoa
O aroma floral da primavera dá lugar ao ar quente de verão e logo se segue o outono, quando os nossos passeios ficam marcados pelas folhas secas caídas. Continuamos a caminhar por este nosso campo até que venha o inverno. Aí, do campo passamos às montanhas, deixando para trás o litoral a fim de ver paisagens brancas de neve. O piso é escorregadio, todo o cuidado é pouco. No entanto, da mesma forma que há quem domine as ondas, muita gente domina o gelo. Enchem-se as estâncias de gente com skis, começam os desportos de inverno, mas a Natureza deixa sempre claro que ninguém se impõe à sua vontade. Ouve-se uma avalanche, vê-se no noticiário o humor tempestuoso do inverno.
“I contemplated the lake; the waters were placid, all around was calm and the snowy mountains… the calm and heavenly scene restored me…” – Mary Shelley
Seja qual for o cenário, nós fotografamos, pintamos, transformamos a Natureza em arte. Apelamos à preocupação com a nossa casa, o Planeta Terra, para que estas obras não se transformem em melancólicas recordações de quando tínhamos uma casa tão bela.
“Tente. Sei lá, tem sempre um pôr-do-sol esperando para ser visto, uma árvore, um pássaro, um rio, uma nuvem. Pelo menos sorria, procure sentir amor. Imagine. Invente. Sonhe. Voe” – Caio Fernando Abreu