Autoria: Vanessa Filipe, LEQ
Um dos ilustres pilares da sociedade do século XXI é a globalização e a diversidade cultural a si aliada. Nos últimos tempos, e de modo quase exponencial, o ser humano tem direcionado o seu foco para o aprofundamento das relações internacionais a vários níveis, seja na economia e política ou na união dos povos e criação de comunidades diversas e únicas. Atrevo-me a proferir que a vertente de união da sociedade humana está no seu pico de influência no quotidiano mundano. Todavia, a mente do ser humano muito assenta na beleza da ironia. Dito isto, onde há espaço para tanta união, há também lugar para certas divisões pouco equitativas e bastante hiperbólicas, como a discriminação.
Com muito pesar para a humanidade, o conceito de discriminação não é uma hostilidade recente. Toda a história é amargamente carregada pela incidência desta ação nas várias gerações. A divisão extrema, cega pela supremacia e na qual o intelectual foi riscado a lápis azul causou consequências incalculáveis para os inditosos alvos. Seria um eufemismo chamar doloroso o recordar destes momentos, porém a história é mesmo isso, recordar o passado para compreender o presente e reescrever o tal “destino” do futuro.
Muitas são as pesadas pegadas da discriminação na nossa história, contudo, recordemos a discriminação racial com a chamada “época negra da história da humanidade”. A escravatura foi o maior golpe de discriminação racial até hoje registado na história – durante vários séculos seres humanos foram legalmente inferiorizados e vistos como propriedade por uma raça que se dizia superior. O sentimento de supremacia reverteu-se numa onda de crueldade que abriu feridas que jamais cessarão de sangrar. Nesta inclemente jornada perdeu-se muito mais do que vidas, perdeu-se identidade. Toda esta época é reconhecida como um “erro” na história da humanidade, porém, tal como referido, o ser humano encontra beleza na ironia, ou direi antes, na hipocrisia.
Regressando, em tom proléptico, ao quotidiano, é de notar que a discriminação racial continua a ser um tópico persistente nas comunidades. A raça acaba por determinar em vários locais do mundo o tipo de tratamento que o indivíduo terá perante certas situações. Nos Estados Unidos são inúmeros os casos de discriminação racial face à implementação da lei e a ação das autoridades. É lamentável num país de aparentes oportunidades e de liberdade, um indivíduo temer as consequências da cor da sua pele como se esta definisse o seu valor. Até mesmo em contextos de guerra, há sempre espaço para esta seleção. Os refugiados nas fronteiras da Ucrânia estão a ser discriminados pela cor da sua pele. É como se as feridas não sangrassem o mesmo, como se as lágrimas carregassem uma dor diferente, como se as vidas estivessem numa pirâmide hierárquica colorida. Enfim, é tamanha a crueldade que leva a negligência destas vidas e de certo que é o que mais nos afasta do conceito de humanidade.
Em tom de conclusão, não há lamentos que gritem mais alto que ações. A sociedade deve priorizar a diligência na consciencialização das comunidades face a esta situação. O conceito de discriminação está longe de abandonar a mente humana e é um dever lutar contra este desumano conceito que já tanto sofrimento causou a certos núcleos da sociedade. Tal como Martin Luther King idealizou, o valor de um ser humano não deve ser definido por atributos físicos ou preconceitos, mas pelo conteúdo do seu carácter.