Autoria: Alice Brazete, LEBiom

Da janela vejo as luzes derramadas no Tejo

Vejo carros, poeira e corpos

Vejo pressa mas não vejo gente

Paro e arranco

Enquanto o carro chora a melodia mecânica

As máquinas passam por mim, não as pessoas

Essas não estão no assento,

Estão já no destino

As rodas e o alcatrão permanecem colados

Mas os corpos e as almas separados

Aos solavancos o carro avança devagar

Mas a minha mente viaja mais rápido que a luz

sem parar

a parar

Separar

Ruas tristes são substituídas por outras ruas tristes

Acompanhadas pelo morrer do sol

Os corpos substituem outros corpos

Que viajam dentro do carro mas fora de si

Nenhuma estrada é rápida

Estão todas imundas de sonhos e expetativas

Nenhum caminho é o certo

É só um caminho

Quando a força que alimenta o movimento desvanecer

Libertando o último grito de vapor negro

As mentes irão regressar ao corpo de origem, mas apenas por segundos,

Para se prepararem para migrar para outras paragens

No fim da viagem,

A estrada fica

O caminho fica

O rasto dos pneus desaparece

E o dos corpos também

Um comentário

  1. Simplesmente lindo e brilhante. Faz refletir e muito, sobre a correria que é a nossa vida diária e se valerá a pena. Foi um prazer ler tão lindo poema.

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