Editorial
Estamos em 2021, precisamente no mês em que se conta um ano desde o início de uma crise sanitária que não só pôs a nu, como também agravou todo um catálogo de desigualdades presentes em vários espetros da sociedade contemporânea.
É, também, neste mês que celebramos o Dia da Mulher. Depois de um ano em que – apenas a título de exemplo – as tentativas de femicídio aumentaram quase para o dobro relativamente a 2019 ou em que notámos uma maior exposição ao risco, das mulheres, devido à sua convencional função de cuidadoras, não é difícil de compreender a importância de celebrar este dia e de reconhecer o universo da igualdade de género e da luta pela reversão do papel feminino como um dos que mais estremeceu com a pandemia.
Mas não é apenas a necessidade de colmatar estes problemas que nos leva a assinalar este dia. É também a consideração pela coragem e as conquistas de nomes como Svetlana Tikhanovskaya, Jacinda Ardern, entre tantos outros.
Sim, é verdade que já progredimos muito. É verdade que foi possível uma aproximação da equidade diferente da que havia no tempo dos nossos pais ou avós. Mas a sociedade evolui, e, com ela, as metas a atingir. É por esta razão que, enquanto houver países com raparigas a quem é negado o acesso à educação, enquanto houver disparidades salariais entre géneros, enquanto houver uma percentagem gritante de tentativa de femicídio como a que ainda existe atualmente, continuará a fazer sentido a existência do Dia da Mulher e a sua comemoração como um dia de reconhecimento do trabalho das tantas mulheres que, começando muitas vezes em desvantagem relativamente aos seus pares, atingem o mesmo que estes (ou mais ainda).
É por tudo isto que, este ano, dedicamos a quarta edição do Diferencial a todas estas mulheres. Contando com entrevistas, ensaios e trabalhos fotográficos, propomos uma reflexão sobre o estereótipo feminino tradicional, a sua origem, a influência que ainda hoje exerce na educação e o que é que está a ser feito para questioná-lo.
Feliz Mês da Mulher
Matilde Almeida