A palavra “culto” tem hoje múltiplos significados no nosso ideário coletivo, desde a associação obscurantista e fanática das seitas religiosas à ideia de culto de personalidade. Quando se mencionam cultos, talvez a muitos lhes venham à cabeça personagens como Charles Manson, alguém cuja história é digna de um filme de terror. Nesta edição, exploram-se comunidades e fenómenos como os de Manson, outros porventura menos conhecidos mas igualmente fascinantes. Por serem histórias que provocam tão grande impacto naqueles que as conhecem, são muitas vezes adaptadas a formas de arte como o cinema. Embora seja um tema de difícil abordagem, foi já brilhantemente trabalhado por vários realizadores de renome internacional como Tarantino. Explora-se ainda nesta seleção de artigos a racionalidade (ou escassez dela) no próprio conceito e definição de culto, assim como nos seus modos de manifestação e funcionamento na prática. Qualquer um de nós, nas circunstâncias mais particulares, pode tornar-se vulnerável à integração numa organização deste tipo, talvez mesmo sem total consciência da situação. Por outro lado, “culto” pode ser utilizado de forma mais abrangente para definir uma forma de estar pessoal ou coletiva com algo ou alguém no seu centro. Neste âmbito, não podia deixar de faltar uma abordagem à cultura no nosso Instituto e aos seus traços mais cultish.
Esta é uma edição que explora ao máximo a essência e tudo o que se encontra por trás do conceito de culto, as suas vicissitudes tanto na teoria como na realidade com o central compromisso de criar uma linha unificadora em seu redor. Não é nosso objetivo (consciente, pelo menos) o de condenar cegamente todos e quaisquer tipos de culto. Ao invés disso, convidamo-vos, nesta segunda edição de 2022/23, a explorar connosco os porquês das quase imediatas associações negativas a cultos, quando é que estes pressupostos ocorrem e, quiçá, provocar discussões quanto à sua validade. O que qualifica um culto? Existem bons cultos?
A Direção do Diferencial