Editorial
No seguimento de umas eleições presidenciais que despertaram tantos sentimentos, diria até sensações, na pele de cada um de nós, olhemos para Portugal, Portugal no mundo, Portugal para cada português. A dicotomia de reações foi evidente. Houve quem exaltasse a derrota da esquerda e quem gritasse pela vitória da democracia, também houve quem gritasse por outras coisas (ou por outro) e quem começasse a temer o futuro que nos espera. A verdade é que este contraste não se reduz à política, ao futebol ou a regionalismos, este contraste é observado na nossa própria visão de Portugal. Há quem exalte os nossos feitos futebolísticos e há quem grite que não podemos ser perdoados pelas atrocidades que cometemos aquando dos Descobrimentos, há quem tenha um orgulho enorme em ser português e também há quem repudie a sua própria origem.
Não existe apenas um Portugal Grandioso ou um portugal medíocre. Assim como não temos um passado só de excelência ou um futuro pobre. Nesta edição, navegamos pel’Os Lusíadas, enquanto procuramos avaliar o nosso papel como antigos donos de meio mundo. Não esquecendo a sonoridade da língua portuguesa e a sua influência em quem somos hoje e em quem nosso foi. E quem seremos nós, realmente? O estereótipo tipicamente português dos copos, dos manjares e da saudade será ainda real? Que saudade essa? Saudade da pátria, saudade de quem nos deixa para procurar melhores condições? Ou saudade de quem já fomos ou queremos voltar a ser? Que fado é este de ser português?
Vivemos reféns de um passado em que fomos grandes conquistadores (com todas as questões negativas que lhe são inerentes) e de um futuro em que ansiamos um Quinto Império. Olhemos para Portugal com outros olhos, olhos de quem vê um espectro (não uma assombração ou fantasia) e não apenas preto ou branco.
Carolina Bento