Autoria: Francisco Raposo (MEFT) e Laura Ildefonso (MMAC)
Com o fecho das eleições para os Órgãos Sociais da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico, das quais a Lista A saiu a grande vencedora, o Diferencial decidiu sentar-se com aqueles que se propuseram a encabeçar a Direção da AEIST durante o mandato de 2024/2025, tanto o vencedor como a vencida.
Nos passados dia 6,7 e 8 de novembro realizaram-se as eleições para os Órgãos Sociais da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST), tendo a Lista D saído derrotada em todos os órgãos. Para o lugar supremo na Direção da AEIST (DAEIST), concorreu Mariana Cal.
Mariana Cal é estudante de Licenciatura em Engenharia Eletrotécnica. Não é a primeira vez que faz frente à lista de continuidade nas eleições da AEIST: em 2022 fê-lo pela Lista M e em 2023 pela Lista R. Este ano liderou a Lista D, com o lema “Defender os Direitos”, dando seguimento ao projeto das listas opositoras passadas.
Resultados
Apesar da sua lista não ter saído vitoriosa destas eleições, Mariana Cal encara os resultados com esperança, destacando que conquistaram mais um lugar no Conselho Fiscal e Disciplinar (CFD) face ao ano anterior.
“Nós já concorremos no ano passado como lista, e conseguimos reforçar a votação, conseguimos ser eleitos no CFD. Por isso, apesar de não termos conseguido a vitória, acho que já é muito positivo este reforço e acho que para o ano conseguiremos um resultado melhor.”
Reforça que, acima de tudo, a Lista D procurou “contactar com os estudantes, transmitir a necessidade da luta, a necessidade da mobilização, independentemente do resultado final.”
O problema da participação nas eleições
Estas eleições foram uma vez mais marcadas por uma elevada taxa de abstenção: apenas 9,6% dos estudantes exerceram o seu direito de voto, valor este que não foge à tendência geral observada nos últimos anos. Face a estes números, Mariana Cal observa que “se o estudante tem tão pouco tempo livre, não se consegue envolver no movimento associativo, na AE, nos grupos estudantis, e então, ser parte do movimento associativo. (…) O método de ensino tem um grande papel nisso”.
“Isto (…) é também uma falha da AE (…) por não envolver os estudantes na sua Associação (…). Se [os estudantes] não sabem o que se passa o ano todo, se calhar depois também não vão saber que [estão a ocorrer] as eleições, porque simplesmente não estão envolvidos.”
A líder da oposição acredita que, para combater esta espiral decadente da participação associativa, ter “(…) uma AE também mais reivindicativa, que esteja mais próxima dos estudantes e que ouça os seus problemas” é chave, pois “eventualmente teria os estudantes mais próximos da AE […], com mais vontade de votar e de participar.”
Considera também que o período de campanha eleitoral não foi o ideal e não permitiu “transmitir a nossa mensagem a tantos estudantes quanto gostaríamos”, já que “[as] eleições serem em época de exames (…) é sempre complicado”.
“Nós temos pessoas que tiveram os exames na segunda e terça e foram para casa. Naturalmente que querem estar com os pais e se calhar votar para a Associação dos Estudantes não é prioridade.”
Nesta recente tendência de elevada abstenção nas eleições para os órgãos da AEIST, o ano de 2020 foi exceção, registando-se 25,50% de participação estudantil. Dois fatores destacam-se como potenciais justificações: a possibilidade excecional de voto eletrónico, devido à quarentena geral imposta pela pandemia, e a existência de três listas concorrentes, em comparação ao habitual duelo. Este ano repetiu-se o confronto entre apenas duas listas. Comentando sobre se a existência de mais listas seria um benesse para a comunidade estudantil, a entrevistada confessa que, “eleitoralmente, seria desvantajoso” para a Lista D. Ainda assim, assinala:
“(…) acho que se houver mais estudantes que querem participar na AE, que querem participar e querem criar uma lista, é sempre benéfico haver mais movimento.”
Autorreflexão
Com os resultados deste ano em retrospetiva, o Diferencial procurou saber se isto daria azo a um momento de autorreflexão por parte da Lista D e do seu movimento continuado. De facto, revisitando eleições passadas e restringindo ao que diz respeito à Direção, observam-se percentagens de voto na lista opositora semelhantes em todos os atos eleitorais desde 2021, com exceção de 2022, ano em que ultrapassaram os 30%. Este dado gera questões sobre a eficácia da mensagem e mobilização das listas opositoras.
Mariana Cal admite que, nos próximos anos, poderão “eventualmente envolver mais gente na construção da lista”. Neste sentido, menciona o Resist, “o nosso projeto de luta e reivindicação” com atuação no Técnico, declarando que “ao pôr o Resist mais ativo, temos mais pessoas [a poder] conhecer o nosso projeto”. No entanto, reconhece que, embora desejem dirigir os órgãos da AEIST, a prioridade principal do movimento é a mobilização dos estudantes, “independentemente se temos a Associação dos Estudantes ou não”.
“Eu acho que, tendo um Resist com mais força, mais ativo, um movimento estudantil de massas, eventualmente podemos ter a Associação dos Estudantes, talvez no ano próximo, ou quando conseguirmos.”
Em relação a possíveis mudanças de discurso ou de mensagem, Mariana Cal opõe-se, declarando que são “uma lista de luta” e de que vão “continuar a transmitir essa mensagem”.
“Nós não vamos alterar o nosso discurso para ter mais votos, porque acho que é a essência política da nossa lista. O nosso objetivo não é ganhar para ganhar, o nosso objetivo é ganhar sendo quem somos.”
A maior desvantagem neste momento é, na opinião da estudante, o alcance. Neste âmbito, argumenta que o número superior de membros na Lista A foi-lhes vantajoso, pois “as pessoas chamam amigos para votar ou chamam amigos para a lista, é muito mais fácil para eles alargar”.
“A Lista A tem vantagem de ser lista de continuidade, ou seja, há pessoas que se juntam à AEIST durante o ano e que na altura das eleições estão com eles. Nós temos um bocado mais esta dificuldade, porque já à partida somos menos. […] Acho que é uma questão de alargar a mensagem aos estudantes.”
Expectativas para a próxima Direção e prioridades da Associação
Com a vitória da Lista A, foi o seu oponente António Jarmela quem subiu ao púlpito enquanto Presidente Eleito, na Tomada de Posse dos Orgãos da AEIST, realizada no dia 13 de novembro de 2024. No que diz respeito à Direção eleita, Mariana Cal espera que cumpram “o seu programa eleitoral, principalmente a parte onde diz que vão ser mais reivindicativos e que vão ter uma posição mais forte em relação aos problemas dos estudantes”. Admite-se, no entanto, “cética em relação a isso”, dado ser uma lista de continuidade, que já teve oportunidade de o fazer no passado.
“Eu, como estudante do Técnico, gostaria que sim. Mas não sei se será este ano que haverá alguma mudança.”
Em termos do que desejariam que a AEIST priorizasse, Mariana Cal transpõe os dois pilares da sua lista, “uma maior relação com os grupos estudantis” e “defender os direitos dos estudantes” na sua visão da Associação. Por um lado, considera que os “grupos estudantis são a base do associativismo”.
“Nós achamos que os núcleos são um ponto de contacto muito importante para a Associação dos Estudantes poder conhecer todos os estudantes. (…) E a Associação dos Estudantes dá muito pouco apoio aos núcleos”
Assinala que, durante a campanha eleitoral, a Lista D reuniu-se com vários grupos estudantis, alguns dos quais mostraram algum desagrado “com algumas coisas da AE”, nomeadamente “a questão do plafond ser só 25 euros para as Secções Autónomas e grupos estudantis” e “a questão de às vezes terem pouco apoio quando querem fazer uma mudança”. Na realidade, este plafond atribuído às SA da AEIST tem o valor de 35 euros.
Por outro lado, julga que tem faltado uma AEIST “que não arreda pé, que não tenha medo de ir contra o Conselho de Gestão, que não tenha medo de ir contra o Governo, que não tenha medo de defender os direitos dos estudantes”. Sublinha que “a Associação dos Estudantes tem tido uma ação muito tímida” em relação ao que considera serem problemas prementes na vida dos estudantes, como o estado das residências, o preço do prato social, a propina de mestrado, entre outros. Mesmo reconhecendo que “de vez em quando lançam um comunicado, nós achamos que um comunicado não é suficiente”. Em particular, assinala o papel positivo da associação no recente baixo-assinado sobre os espaços de estudo, mas que “há muitos outros problemas que não têm tido resposta”.
“Não é a Associação dos Estudantes que vai pagar as propinas aos estudantes do Técnico. Naturalmente, não é o seu papel e não tem orçamento para tal, mas tem de ter uma posição firme em relação a isso. E não pode ser dúbia, tem de ser uma posição clara.”
O Futuro da Lista
Fechado o período eleitoral, resta saber qual será o papel da lista e dos seus membros nos tempos vindouros: “É um papel de agitação”, responde Mariana Cal. Acima de tudo através do Resist, contam fazer mobilização em torno das problemáticas estudantis. Com efeito, relembra a ação desse grupo em vários momentos no passado: “foi o Resist que organizou, há uns anos, a manifestação sobre a saúde mental. Foi o Resist que, há uns anos, [se] mobilizou quando soubemos do aumento da propina de mestrado”, entre outros. Em particular, reivindica a contratação por parte do Técnico de mais um psicólogo como resultado direto dessa mobilização, “apesar das declarações caricatas do Presidente do Técnico”. Assegura ainda aos estudantes que não se afastarão da luta:
“A luta traz resultados. Achamos que é necessário ter um papel de mobilizador dos estudantes, em torno dos seus problemas, porque não é calados que lá vamos. É a fazer barulho, é a incomodar. (…) Estamos aqui na luta por mais. Para o que der e vier.”