Mas afinal quando é que a cantina abre? Entrevista a Pedro Simão, Administrador dos SASUL

Autoria: Ângela Rodrigues (LEFT) e João Dinis Álvares (MEFT)

No passado dia 5 de dezembro, o Diferencial foi à Cantina Velha entrevistar o Administrador dos Serviços de Ação Social da Universidade de Lisboa (SASUL), Pedro Simão. Após a nota do Núcleo de Alimentação dos SASUL, em setembro, ter informado que a Cantina abriria no início de outubro deste ano [1], a primeira pergunta foi: Mas afinal, quando é que abre?

“O que está a levar ao atraso na abertura da cantina tem a ver com o facto de nos terem fornecido equipamento que não foi o equipamento concursado, nem sequer foi com aquele equipamento que o fornecedor concorreu. Portanto, todo o equipamento que se encontra nas linhas, é equipamento que não corresponde ao contratado. Se eles nos têm fornecido o que ficou adjudicado, a cantina podia ter aberto no princípio do mês passado.”

Os SASUL contactaram o fornecedor e estabeleceram um prazo para substituição do equipamento até meados de dezembro. Porém, “o fornecedor diz que nós podemos utilizar tudo o que está lá porque tudo aquilo satisfaz a necessidade. E o que nós dizemos ao fornecedor é que «a partir do momento em que utilizo [o equipamento], aceito». E isso eu não posso fazer.”


O equipamento que era suposto ter sido instalado “é equipamento Electrolux e o equipamento que eles nos forneceram é de uma marca branca, que eu não faço a mais pequena ideia de qual seja.” O preço de todo o equipamento adjudicado é, apontou Pedro Simão, de cerca de 200 mil euros. “A cozinha está equipada com uma capacidade de fornecer 2.000 refeições sem esforço e com esforço chega às 3.000, por dia.”

“Pedimos-lhe [ao fornecedor] que garantisse por escrito, preto no branco, três condições básicas: Primeira, autorização de utilização. Segunda, garantia de retoma. Terceira, que não seríamos penalizados se na retoma o equipamento apresentasse marcas de uso”, algo com que o fornecedor ainda não se comprometeu.

Ainda assim, “até ao final da semana, a Cantina vai ser limpa” e a equipa que está na atual cantina provisória no Pavilhão de Matemática terá uma pequena formação da parte do fornecedor sobre como usar tudo o que foi instalado. 

Entretanto, estamos em vias de adjudicar uma solução alternativa para ver se abrimos a cantina mais rapidamente, que é o aluguer de duas linhas amovíveis. Causará algum transtorno, porque vão deixar de ter as linhas de circulação e reduzem o espaço da sala. O que foi comunicado ao concessionário é que isto é a primeira liga, eles não estão aqui a fazer uma cantina para uma fábrica com cem ou duzentos trabalhadores. Eles têm que fazer uma cantina para uma instituição de ensino de referência no país, que tem doze mil estudantes, mais três ou quatro mil professores. E chegar a duas mil refeições por dia não é difícil.

O administrador dos SASUL revelou até que o próprio concessionário da cantina está farto de trabalhar nas condições em que atualmente trabalham. Há ainda a pergunta que fica por responder: e se o fornecedor não vier substituir as linhas? “Tenho de abrir concurso outra vez e quem ganhar o concurso terá que retirar o que lá está e por o equipamento que for concursado e ganhar na altura. Tendo em atenção a tudo, seriam mais seis meses. Por isso é que eu preciso de ter lá uma solução alternativa.

Nós não temos aqui como objetivo ter lucro, ganhar dinheiro, o que quer que seja. O nosso objetivo é dar-vos condições para terem rendimento escolar. É a nossa medida de lucro indireto. É vocês terem onde dormir, onde se alimentar, bolsas para conseguirem terminar a vossa licenciatura com as melhores notas possíveis e serem, depois, cidadãos produtivos. É esse o fito da Ação Social.”

“Quando os fornecedores fazem isto, eles não percebem que isto aqui não é um negócio. Eles fazem isto numa perspetiva de uma empresa que tem um refeitório e que depois pode vender refeições. Entra na cabeça de alguém que se eu vender uma refeição a 3 euros vou ganhar dinheiro? Nem eu, nem ninguém, como é óbvio. [A cantina] é uma prestação de um serviço e este pessoal não mete isto na cabeça.”

Pedro Simão revelou que o problema de entendimento entre as partes vai mais longe, “não percebem porque é que nós fazemos tanta guerra. Nesta questão específica da linha, não agiram de forma sã connosco, porque depois de lhes ter sido dito que não aceitávamos os equipamentos, que não correspondia ao que foi adjudicado, terminaram tudo, selaram tudo, limparam e apresentaram, para se porem na perspetiva de «não percebo porque é que não usam»”.

“Portanto, a cozinha está toda preparada, tem excelentes condições de frio, tem tudo. Para servir, é que realmente a coisa não será a melhor.”

Ao contrário do que acontecia antes das obras na cantina, esta não será explorada diretamente pelos SASUL, mas pelo mesmo concessionário que atua atualmente na cantina provisória no Pavilhão de Matemática. De modo a garantir a qualidade do serviço prestado, serão efetuadas visitas mensais e auditorias e o concessionário terá de enviar periodicamente os resultados das análises feitas à comida.

Atualmente não existem planos para a cantina voltar a ser explorada diretamente pelos SASUL devido à falta de mão de obra. De acordo com o administrador, este problema está associado a limitações no financiamento por parte do Estado, que se traduzem numa diminuição da atratividade das carreiras na cantina. “Foi feita uma reforma e as carreiras de cozinheiro passaram todas para duas carreiras genéricas: assistentes técnicos e assistentes operacionais. Em topo de carreira, um assistente operacional, que é 90% do pessoal que está na cantina, ganha 1200 euros brutos. Um cozinheiro de segunda em qualquer restaurante ganha 1600.”

“Eu não consigo ter encarregados, não consigo ter cozinheiros. Eu consigo ter gente na copa, consigo ter carregadores para os armazéns, sempre com a gestão muito difícil, mas consigo. Quando chega ao pessoal mais especializado, já não lhes consigo pagar. Portanto, nós estamos numa luta constante para conseguir ter cá gente. Estamos desesperados porque até a Cantina Velha já temos dificuldades em manter a funcionar.”

“Nós estamos aqui a fornecer 2200, 2300 refeições por dia nesta cantina. Estamos a fornecer mais 50% do que fornecíamos em 2019 e quem tem aguentado isto têm sido as funcionárias mais experientes. São elas que aguentam isto, porque o pessoal novo entra e sai a uma velocidade maluca.”

“Eu não tenho possibilidades de lhes pagar mais porque as carreiras são o que são. Não tenho gente para ter as instalações abertas. Nós, para o ano, vamos tentar alargar o nosso mapa de pessoal, porque é um dó de alma a cantina do Técnico estar concessionada. Está com umas instalações topo de gama e nós queríamos recuperá-la. Vamos ver se conseguimos, se tivermos gente…”

Em relação às relações com o Técnico durante o final da obra, Pedro Simão realçou que “Toda a gente percebe as nossas dores e acima de tudo o que eu noto é que há aqui um mesmo interesse partilhado, porque todos nós queremos a mesma coisa, que é que a cantina abra e que funcione.”

Quando questionado sobre a manifestação sobre o aumento do prato social, o administrador dos SASUL referiu que a decisão de aumentar para 3 euros foi tomada numa reunião anterior à sua tomada de posse, mas que este valor lhe parece “perfeitamente justo”. “Aquilo que os estudantes se queixam é que um aumento de 20 cêntimos em refeição é insuportável. 20 cêntimos em refeição, admitindo que almoçam e jantam na cantina, dá 40 cêntimos por dia, ou seja, dá 8 euros e 80 cêntimos por mês. Ora, o ordenado mínimo em janeiro, aumentou de 705 euros para 760, portanto aumentou cerca de 50 euros. Se, desses 50 euros, 8 euros e 80 forem para alimentação, não me parece que seja fortuna nenhuma.”

“Nos nossos produtos, enfrentámos uma inflação de quase 20% e não foi esse o preço que foi refletido no preço final da refeição. A refeição está mais cara comparativamente com o preço que se está a pagar. Têm uma refeição completa aqui na cantina por 3 euros. E podem chegar lá e pedir mais um bocadinho se, por acaso, o que têm não chega.”

Em relação à comparação com os preços praticados pelos Serviços de Ação Social de outras universidades, Pedro Simão referiu que as disparidades de preços estão associadas às estruturas de custos de cada universidade. 

“Mas, repare, em sítio nenhum deste país, mas nenhum de Norte a Sul, consegue ter uma refeição completa por 3 euros.”

Referências:

[1] – https://diferencial.tecnico.ulisboa.pt/tecnico/cantina-social-volta-a-abrir-portas-em-outubro/

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