Autoria: Francisca Branco (LEAer)
Emoções contadas nunca estiveram tão acessíveis. E é tão fácil relacionar-me. Um futuro ideal. O cinzento de cair numa rotina. O mundo através de olhos apaixonados. O choro de um coração triste. Uma canção de revolta. Um vislumbre de esperança.
Não as consigo transpor para papel, por mais cruas que as minhas emoções pareçam. Bloqueio de artista? Falta de jeito. Sinapses que não conseguem ser transformadas em ideias, por mais entusiasmadas que estejam por se metamorfosear em palavras no papel, e que acabam presas nas minhas articulações. No entanto, é quase como se todas as melodias fossem criadas em torno das minhas vivências. Leio um pouco da minha vida em todos os romances que tenho o prazer de folhear, e ouço troços da minha sina em cada canção que os meus ouvidos escutam.
Parece que estes encontros entre palavras cantadas funcionam como sinais, e que encontro sempre o que procuro – ou o que me dá jeito encontrar. As palavras com que me cruzo acontecem-me. A sua mensagem em constante mutação acontece-me. E a minha interpretação acontece-me, conforme eu queira. Acontecem-me porque procuro uma resposta, e a verdade é que não há uma só resposta, ou um sinal concreto. Uma interpretação não passa da compreensão da resposta que já tinha conseguido, ainda que inconscientemente.
É fácil relacionar-me porque a alma de quem escreve está sedenta de compreensão. Talvez a minha não se sinta da mesma maneira, daí manter cativas as ideias que tanto anseio trazer cá para fora. Talvez ainda não esteja na hora, ou não estejam bem cimentadas. Talvez só não seja a pessoa certa, ou talvez esteja predestinada a outro ofício. O que sei é que continuam a acumular-se em mim, nas pontas dos dedos e debaixo da língua, prontas a escapar a qualquer pessoa que me dê dois dedos de conversa.