Não Escrevo Versos

Autoria: Pedro Sousa (Medicina, FMUL)

Não escrevo versos

Debito palavras ocas

Abro as comportas do meu vazio

Para jorrar mais uma enchente de nada.

Procuro e perscruto no escuro

Reviro e retorno as cinzas

Dos sentimentos que já foram

Das emoções que já se extinguiram

Nada.

Não escrevo porque não sinto,

Porque cada dia é como o último

Cada pôr-do-sol é só mais um

A esconder um luar perdido.

Quão mais terei de descer

Na escadaria do meu ser

Pelas paredes de musgo negro

E corredores ocos sem saber

Se algum dia voltarei a encontrar 

Algo que valha a pena escrever.

É difícil acreditar

Na mágoa de não ter mágoa

Na ânsia de uma nova dor

Na tragédia do des-trágico.

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