Autoria: Pedro Sousa (Medicina, FMUL)
Seu nome era Alice, e seu sonho era voar.
Muito havia neste mundo que a fazia cá ficar,
Mas para lá das estrelas era onde ela queria estar.
Detrás dos seus óculos, olhos verdes sem parar,
De 14 anos vividos, com muitos mais a ansiar.
Seus cabelos castanhos, insistindo em ondular,
E na sua face uma galáxia de sardas a brilhar.
Acorda na casa dos tios com quem mora
E olhando o relógio, Alice espera pela hora
Em que o mundo vai dormir, e pode correr lá para fora
Para passar mais uma noite a sonhar ir embora
Não sabe o quê, nem quanto, mas algo lhe chama
Não sabe como nem porquê estes céus tanto ama
Mas todas as noites encerra mais um dia trágico
E parte outra vez para o seu pequeno mundo mágico:
Há uma lua recortada que a pede para caminhar,
Quem sabe haja até outra menina com quem falar!
É no silêncio do espaço que Alice se deixa divagar
E no vazio deste escuro que quase sente o sussurrar
Dos pais que não conheceu, que a vida teve de levar,
E da avó que já partiu, que a ensinou a amar.
E agarrada ao relógio de bolso, que teve a sorte de herdar,
Com seu vidro rachado, de tanto o apertar.
Alice conta os minutos, as horas e os dias a passar
À espera da altura em que vai finalmente viajar
Para longe deste mundo, onde se deixa apagar
Até uma estrela distante, onde ninguém a ouça chorar
Sem lhe dizerem mais uma vez que só está a chatear.