Autoria: João Carranca (LEEC)
Teve lugar no passado fim de semana o primeiro Encontro Nacional de Jornalismo Universitário (ENJU), organizado por quatro jornais académicos: A Cabra (Universidade de Coimbra), o Diferencial (Instituto Superior Técnico), o JUP (Porto) e o ComUM (UMinho). O evento, que reuniu mais de 70 participantes e 10 oradores, teve como objetivo planear e discutir o futuro do jornalismo universitário.
Na sessão de abertura, que ocorreu ao final da tarde de sexta feira, os diretores e representantes de cada um dos jornais organizadores deram as boas vindas aos participantes e deixaram algumas notas sobre o processo de planeamento de todo o evento. Discursaram também representantes das três organizações que mais apoio logístico deram a este encontro: o vice-presidente da Associação Académica da Universidade de Coimbra, André Ribeiro, o vice-reitor da Universidade de Coimbra, Delfim Leão, e o presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva.
O dia de sábado contou com três painéis. O primeiro deles, logo ao início da manhã, focou-se no tema da fundação de alguns jornais universitários, e contou com José Albuquerque, fundador do “Jornal A Cabra”, Jorge Pedro Sousa, fundador do “Jornal Universitário do Porto (JUP)”, e Tito Mendonça, fundador do “Jornal Binómio”, antecessor do Diferencial no IST. Com três experiências bastante diferentes, os oradores partilharam o seu conhecimento com os participantes. José Albuquerque admitiu que, enquanto fundador do ”Jornal A Cabra”, sempre assumiu uma postura combativa, mantendo-se longe dos interesses institucionais da reitoria da Universidade de Coimbra e da própria Associação Académica de Coimbra, algo que lhe trouxe dificuldades ao longo do tempo. Jorge Pedro Sousa, quase em antítese, referiu que sempre manteve, muito boas relações com todas as instituições vigentes, até por razões de sustentabilidade, pois eram destas que vinham os maiores apoios à operação do jornal. Tito Mendonça, sendo de longe o mais velho dos três, trouxe uma perspectiva diferente, lembrando a “tristeza” dos tempos do fascismo, época em que o Binómio foi fundado, e acrescentando que o jornal surgiu de uma necessidade que existia na época de ter meios onde os estudantes se pudessem expressar e que continua a existir atualmente.
O segundo painel, “Os desafios do Jornalismo Universitário Hoje”, contou com a presença de Paulo Sérgio, ex-membro do “Jornal A Cabra”, Diogo Faustino, membro e ex-diretor do “Diferencial”, Filipa Silva, editora do “Jornalismo Porto Net” (JPN), e Camilo Soldado, jornalista do “Público” e ex-diretor do “Jornal A Cabra”. Um dos grandes temas deste painel foi o regime voluntarista que domina o jornalismo universitário e as dificuldades que isso traz. Os quatro oradores concordaram também que é difícil manter a identidade de um órgão de comunicação universitário quando a maioria dos seus membros e dirigentes têm passagens relativamente curtas, limitadas pela duração dos próprios cursos. Diogo Faustino defendeu que o jornalismo universitário não deve ser “de guerrilha”, mas também tem de ser combativo e deve privilegiar sempre o ponto de vista dos estudantes. Filipa Silva sugeriu a criação de uma newsletter entre os jornais académicos, com o objetivo de estreitar laços e aumentar a coesão entre projetos.
Da parte da tarde ocorreram três formações com os temas: “Fechar ou abrir a profissão? A formação em Jornalismo”, por Pedro Crisóstomo do jornal “Público”, “Dificuldades de acesso ao mercado de trabalho “, por João Gaspar da agência Lusa e “Transição digital – a extinção do papel e do analógico” por Inês Amaral, docente na Universidade de Coimbra. O debate centrou-se muito na atualidade do jornalismo enquanto saída profissional, nomeadamente na questão da precariedade e no modelo de negócio dos órgãos de comunicação social.
A fechar o dia, tiveram lugar grupos de trabalho sobre sete grandes temas: Estatuto de Jornalista Universitário e Estatuto de Órgão de Comunicação Social, Financiamento, Relações institucionais, Captação de Recursos Humanos, Transição Digital, Transparência, e Estatuto Editorial e Regulamentos dos OCS. As apresentações das conclusões dos grupos ocuparam o resto da tarde e toda a manhã de domingo. A partir destas conclusões será redigido um documento geral a ser enviado a um conjunto de instituições, entre elas a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ), e que será subscrito por vários órgãos de comunicação universitários, em caso de votação favorável nos seus respectivos plenários de membros.
Ao final da manhã de domingo, teve lugar a sessão de encerramento que contou com a presença do Vereador para a Juventude da Câmara Municipal de Coimbra, Carlos Matias Lopes e da Presidente do Conselho Geral do Sindicato de Jornalistas, Paula Sofia Luz. Foram entregues lembranças aos oradores, para além de um prato artesanal, inspirado no logotipo do encontro, que foi entregue à Casa da Cultura de Coimbra, que acolheu todo o evento.