Autoria: Ângela Rodrigues (LEFT)
No passado dia 26 de novembro, realizou-se, no Centro de Congressos do Instituto Superior Técnico, pelas 17 horas, a cerimónia de entrega do Prémio Maria de Lourdes Pintassilgo a Sofia Canteiro Aparício e a Eduarda Correia Vaz, na categoria Young Alumna, e a Carla Pepe Lewark, na categoria Role Model. Foi também possível assistir através da transmissão no Youtube.
A 8ª edição contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do Presidente do Instituto Superior Técnico, Rogério Colaço, do Vice-Reitor da Universidade de Lisboa, João Peixoto, e da Ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, antiga alumna e vencedora na categoria Role Model, da primeira edição do prémio.
A cerimónia iniciou-se com uma breve intervenção de Rogério Colaço, que explicou os motivos que levaram à criação do prémio, em 2016, tal como fez na entrega da 7ª edição, em janeiro. Apesar de este ano terem sido galardoadas excecionalmente três mulheres, o prémio destina-se anualmente a apenas duas, formadas pelo Técnico: uma que tenha terminado o seu ciclo de estudos há mais de 15 anos (contabilizados no dia 31 de dezembro do ano anterior àquele em que o prémio é atribuído) e que se tenha sobressaído pelas suas contribuições profissionais e/ou sociais; e uma recém graduada, que se tenha destacado pelo seu percurso académico e pela qualidade da dissertação de Mestrado [1].
“Promover a igualdade de género não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma necessidade estratégica para o progresso da Engenharia e desenvolvimento científico e tecnológico.”
Rogério Colaço referiu também que eliminar barreiras e estereótipos de género é essencial para um “ambiente mais inclusivo e acolhedor, uma sociedade mais justa, onde as mulheres se sentem motivadas e valorizadas”. Numa nota final, considerou que a promoção da igualdade de género é crucial para enfrentar desafios globais, interrogando se as situações de instabilidade atuais se manteriam se houvesse “pelo menos paridade de género [nas mesas de negociações]”.
Durante o seu discurso, a co-coordenadora do grupo Diversidade e Igualdade de Género do IST, professora Beatriz Silva, falou sobre as “duas ações pioneiras e inovadoras” do grupo: a criação do Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo e a implementação de “uma medida inovadora” de pós-licença de parentalidade, de modo a promover maior equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Esta medida pretende diminuir os impactos que as licenças parentais podem ter nas atividades de investigação, estipulando que “os docentes que tenham usufruído de uma licença parental de pelo menos 100 dias poderão solicitar uma dispensa de serviço docente no semestre seguinte ao seu regresso ao ativo”.
Apesar de esta licença já existir desde 2017, só este ano é que começou a ser utilizada, devido, em grande parte, ao desconhecimento da sua existência por parte dos docentes. No ano letivo 2023/2024, duas docentes utilizaram esta medida, tendo sido posteriormente entrevistadas, para que fosse possível identificar o que poderia ser melhorado.
Enquanto beneficiária da licença, a professora Ana Carvalho falou da sua experiência: “se eu não tivesse tido esta licença de pós-parentalidade, muito provavelmente teria de ter baixa, não ia conseguir sequer gerir tudo o que se passava a nível pessoal com o que se passava na parte profissional”. Apesar do caráter essencial da licença, considera que talvez precisasse de um ano e não apenas de seis meses.
No seu discurso, o professor Alexandre Bernardino, co-coordenador do grupo Diversidade e Igualdade de Género do IST, referiu que esta foi a primeira vez que Young Alumnas de Engenharia Química foram distinguidas pelo prémio, apesar de esta ser a formação da maioria das antigas vencedoras na categoria Role Model. Este ano, a vencedora desta categoria é formada em Engenharia Mecânica.
O júri desta edição, composto por Alexandre Bernardino, Beatriz Silva, Cristina Sernadas, Elsa Abranches, Isabel Marrucho, João Ramôa Correia, Pedro Brogueira, Raquel Aires de Barros, Rogério Colaço e Teresa Peña, avaliou 15 candidatas na categoria Young Alumnas, tendo decidido atribuir a distinção a Sofia Canteiro Aparício e Eduarda Correia Vaz.
Os prémios foram entregues pela Ministra da Energia e do Ambiente, pelo Vice-Reitor da Universidade de Lisboa e pelo Presidente do IST.
Sofia Canteiro Aparício recebeu o prémio como reconhecimento do seu percurso académico de excelência, que resultou numa dissertação de mestrado em Engenharia Química “da mais elevada qualidade e numa publicação científica em revista internacional de topo sobre um problema relevante para a sustentabilidade do planeta: a reciclagem de materiais plásticos baseados em solventes naturais”. O alcançado foi um processo sustentável com potencial para conseguir reciclar materiais com plásticos complexos, que até agora não era possível fazer de forma eficiente.
“Partilho com Maria de Lourdes Pintasilgo o curso, Engenharia Química, que, ao contrário do que acontecia nos anos 50, hoje é talvez um daqueles com maior representatividade feminina no Técnico. Ainda assim, continuam a estar presentes pequenas nuances de misoginia, sem dúvida menos recorrentes e mais disfarçadas do que à época, mas ainda assim presentes.”
Para além dos agradecimentos aos colegas, amigos e família, não esqueceu o grupo de investigação do qual faz parte, salientado, no final do seu discurso, as dificuldades de financiamento para quem faz investigação, já que, para além das ideias, são necessárias bolsas para as conseguir pôr em prática: “Não é possível pôr as ideias em prática apenas com a força da nossa vontade. Por muito que quiséssemos, precisamos de financiamento. Precisamos de bolsas e de contratos que nos permitam concentrar mais na investigação que fazemos do que em assegurar a vida no mês seguinte. Precisamos de melhores condições para fazer Ciência, porque é disso que o nosso planeta também precisa.”
Eduarda Correia Vaz recebeu o prémio pelo seu percurso académico, no qual conciliou o conhecimento multidisciplinar, obtido na sua formação em Engenharia Química e Biomédica, com o seu espírito de empreendedorismo. Estes culminaram na criação de uma startup de base tecnológica e ajudaram a empresa júnior do IST a tornar-se a mais empreendedora da Europa. Durante a elaboração da sua tese, realizada na John Hopkins, onde é atualmente aluna de doutoramento, estudou como diferentes métodos de amostragem influenciam a análise de tumores humanos.
Ao longo do seu discurso, Eduarda salientou a variedade de núcleos e grupos de estudantes existentes no Técnico e a importância que a empresa júnior teve no seu percurso académico.
“Arrisco-me a dizer que o Técnico é a única universidade onde podemos construir um carro de Fórmula 1, um carro elétrico, uma mota de corrida, um barco movido a energia solar ou até pequenos foguetões.”
Na categoria Role Model, a premiada foi Carla Pepe Lewark, pelo reconhecimento da sua carreira internacional de sucesso na liderança de projetos de Engenharia, onde aliou a sua formação em Engenharia Mecânica com uma especialização em Engenharia de Concessão e uma pós-graduação em Liderança Tecnológica, que lhe permitiu tornar-se CEO de uma empresa na área Aeroespacial, Aero Gearbox International.
“Quando entrei para Engenharia Mecânica contávamos pelos dedos o número de mulheres nas salas de aulas, imagino o que seria nos anos 50.”
No seu discurso, salientou o papel que a educação dada pela família teve no seu percurso, dando o exemplo da mãe, que sempre a educou com base nos valores de igualdade de género. Relembrou também o momento em que, numa aula de físico-química, decidiu que queria estudar Engenharia Mecânica e foi recebida com risos por parte dos colegas.
“Espero poder continuar a ter oportunidade de aconselhar, encorajar e motivar engenheiras, a acreditar que podem fazer a diferença no mundo, que ainda está aquém de atingir o equilíbrio de género.”
Após os discursos das vencedoras, o Vice-Reitor da Universidade de Lisboa congratulou as laureadas e os responsáveis pela organização do prémio, destacando também o papel de Maria de Lourdes Pintasilgo na sociedade portuguesa e na luta pela igualdade de género.
Para encerrar a cerimónia, Maria da Graça Carvalho parabenizou e sublinhou a relevância do trabalho desenvolvido pelas vencedoras, salientando também a importância destas iniciativas para mostrar o potencial feminino. Terminou a sua intervenção partilhando a sua experiência enquanto alumna do IST e vencedora do Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo.
Referências:
[1] Regulamento do Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo [Acedido a 26 nov. de 2024]