Autoria: Diogo Faustino (MEAer)
No dia 21 de março, estudantes do Ensino Superior de todo o país saíram à rua em Lisboa numa ação de protesto. A manifestação, que reuniu a quase totalidade do movimento associativo estudantil, partiu do Rossio às 15h e chegou à Assembleia da República (AR) três horas depois.
Após um atraso de trinta minutos, a marcha partiu lentamente. As paragens foram frequentes e prolongadas devido ao itinerário, que obrigava a cortes no trânsito local. Os estudantes subiram até ao Chiado: do elevador de Santa Justa pendia uma tarja onde se lia “Abril é o futuro” e estudantes atiravam cravos.
O trajeto de quase 2 quilómetros seguiu a direito a partir do Largo de Camões até à AR. Os estudantes nunca perderam o fôlego e foram sempre entoando cânticos tradicionais da luta estudantil, como “Propinas e Bolonha, é tudo uma vergonha” ou “A propina dói”.
Renato Daniel, presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC), garante que o “timing” da manifestação tinha que ser este: “estão a tomar posse os novos 230 deputados à Assembleia da República e queremos que no topo da sua agenda política esteja o Ensino Superior”. Lembra também que ainda faltam muitas das 18 mil camas prometidas até 2026 pelo Plano Nacional para o Alojamento para o Ensino Superior (PNAES): segundo a Agência Lusa, há sete projetos concluídos, o que equivale a 3,39% das camas, e ainda 16 empreitadas em curso, que representam 10,34% do total. O governo prevê que mais 40 residências universitárias, com mais de 4000 camas, estejam concluídas até ao final do ano.
Sob o lema “Teto e Habitação, um Direito à Educação“, a Direção Geral da AAC lançou o repto da manifestação às restantes estruturas associativas nacionais, que responderam em força à proposta. Este apelo, tornado público a 19 de fevereiro, foi sucedido pela iniciativa “Queremos Mais Abril Aqui”, subscrito por um outro conjunto de associações de estudantes de vários pontos do país.
Ainda assim, Mariana Metelo, da direção da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (AEFLUL), garante que não há fragmentação do movimento: “surgiram apelos diferentes, mas é uma manifestação una e as reivindicações são unânimes”. Salienta como as principais exigências do movimento a gratuitidade do Ensino Superior, o reforço do alojamento e das bolsas e um aumento da representação estudantil nos órgãos de gestão das suas faculdades.
O Presidente da AAC também afasta qualquer divisão no movimento estudantil e garante que o que importa é mostrar que o “movimento associativo está vivo” e que “as causas pelas quais os estudantes saem à rua não estão resolvidas e são transversais”.
Em declarações ao Diferencial, o presidente da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST), Pedro Monteiro, partilha esta opinião: “a manifestação deste ano reuniu uma parte considerável do movimento estudantil nacional de Norte a Sul. Portanto, fez-nos sentido participar precisamente por ser uma única voz. E uma única voz acaba por ser evidentemente mais forte”.
Numa das raras iniciativas em que a Federação Académica de Lisboa surge ao lado da Associação Académica da Universidade de Lisboa, Pedro Monteiro garante que as divergências entre as duas estruturas “continuam a ser secundárias” quando comparadas às “necessidades dos estudantes e à defesa dos direitos dos estudantes”. Quando questionado sobre a ausência da AEIST em anos anteriores, Pedro Monteiro acautelou que não poderia falar pelos ex-presidentes.
Para a história fica uma manifestação única, onde convergiram estudantes de todo o país de maneira inédita na história recente do movimento estudantil do ensino superior. Cada um à sua maneira, mas todos na mesma página, marcaram a sua posição ao próximo governo e ao seu primeiro ministro, que havia sido indigitado pelo Presidente da República na madrugada desse mesmo dia.