Esta semana vi finalmente o filme Interstellar, o que me deixou de novo bastante pensativo em relação aos assuntos das singularidades espaço-temporais, constantes cósmicas e do destino fatal da humanidade.
Rapidamente me debrucei sobre questões irrespondíveis como o sentido da vida, o infinito, a hipotética ausência de tempo e espaço, e tentei ainda compreender este conceito das dimensões para além das 3 espaciais a que fomos habituados na nossa existência. Uma questão que algumas mentes brilhantes da física, como alguns dos nossos colegas do Técnico, sabem responder e sobre a qual me debrucei com mais afinco, foi a do tempo relativo segundo a teoria relativista de Einstein. Estava eu pensando, na minha ignorância, que se o referencial de tempo ao qual um sujeito está subordinado é, de facto, deformado pelas massas do universo, ou pela velocidade a que este sujeito atravessa o espaço tridimensional, será também a sua escala de tempo biológico alterada? Logo me alertaram que sim. O tempo (como o conhecemos) é só um, que se estica e contrai, e controla também o funcionamento do nosso corpo, isto é, o nosso envelhecimento. Supus então, leigamente, que se um indivíduo pudesse ser acelerado à velocidade da luz, essa constante tão misteriosa que tanto domina as leis da física, o tempo seria tão dilatado relativamente ao referencial terrestre que deixaria mesmo de passar. O tempo deixaria de existir para esse indivíduo. Ficaria ele congelado no mesmo instante enquanto viajava a uma tão bestial velocidade? Que recompensa tão cruel para tão grande feito. Na realidade, segundo também me alertaram, essa velocidade é inatingível, a não ser que algo ou alguém tenha surgido já tão célere. A velocidade apresenta, na verdade, um comportamento assimptótico, sendo o limite, quando o factor de deformação do tempo tende para infinito, a velocidade da luz (quando alguém está durante infinito tempo num certo instante, é o mesmo que o tempo não passar).
Estas ilações levaram-me a concluir que a própria percepção humana, interligada com o tempo, é também uma função das mesmas variáveis. A forma como experienciamos o ambiente em nosso redor tem de ser também uma dimensão, deformável por ação da influência cósmica. Os sentidos, a nossa experiência empírica, o próprio entendimento humano são transformados pelas coordenadas N-dimensionais em que nos inserimos. Parece-me que, contrapondo as experiências com o consumo de alucinogénios do Senhor Aldous Huxley, as verdadeiras Portas da Percepção (The Doors of Perception, 1954) são abertas pelo acto da viagem espacial intergaláctica, que nos proporcionaria uma nova experiência sensorial do mundo em nosso redor. Estarão as correntes que impedem os nossos cérebros de entenderem certas questões, enunciadas em cima, diretamente interligadas com a localização da nossa pequena residência atual, a Terra? Só Deus sabe. Saberá Deus? Será Deus uma entidade supra-dimensional cuja percepção em grande modo supera a do ser humano? Será Ele o próprio Arquiteto do universo e das leis que nele imperam? Farão para Ele sentido todas as questões cujas respostas se encontram ocultas para lá dos limites aparentemente infinitos do universo e no interior talvez infinitamente pequeno das suas singularidades, os buracos negros?
Regressando a assuntos do domínio do entendimento humano, uma coisa é certa, nós, enquanto espécie, nascemos com o instinto de sobrevivência codificado nos genes, e, a longo prazo, essa sobrevivência só nos é permitida pela expansão universal, saindo deste nosso amado planeta. Mais cedo ou mais tarde, ou acabaremos extintos ou fora daqui, não fosse o nosso tão querido Sol, fonte de toda a vida conhecida, tornar-se numa gigante vermelha, que em cerca de 7 mil milhões de anos, poderá engolir a Terra. Isto se a nossa sobrevivência terráquea não for testada, daqui a cerca de mil milhões de anos, pela extinção de todas as plantas e evaporação de todos os oceanos, ambos causados por um aumento gradual da luminosidade solar (quantidade de energia libertada, por segundo, pelo sol), ou devido a uma outra idade do gelo, fenómeno também com uma frequência bastante elevada, a rondar a centena de milhar de anos, ou uma supernova que expluda suficientemente perto de nós, no raio de 100 anos-luz da Terra, ou finalmente por um asteroide ou cometa, como poderá ter acontecido aos últimos seres vivos que dominaram a terra, os Dinossauros.
Para permitir que um dia consigamos abandonar a Terra e viajar rumo a outras planetas que possamos chamar casa, o desenvolvimento tecnológico pode ser a solução. Mas pode também ser a desgraça. Chegamos agora a um ponto importante que gostaria de frisar. Todos os destinos fatais, referidos em cima, são causados pela natureza, mas há outros, como o famoso Aquecimento Global, que podem levar à extinção da própria espécie que os causou: o Homem. É então uma dicotomia de importância suprema que governa o desenvolvimento tecnológico: pode ser a nossa salvação ou a nossa desgraça. Impera então a necessidade do chamado desenvolvimento sustentável. É para mim, uma palavra muito importante, que define toda a nossa geração, esta Sustentabilidade.
Era bom que todos nós passássemos por um Despertar para a Consciência da natureza, a Consciência da sustentabilidade, ou simplesmente que despertássemos a nossa Consciência. De qualquer das maneiras, isso implica sempre a aproximação entre o ser humano e a natureza, e de todos os processos e variáveis que ambas as partes exigem. A aceitação daquilo que é Natural, como o bom senso e o instinto. Talvez sejam essas as nossas maiores virtudes. Talvez devamos apenas escutar o coração, que estiveram, porventura, sempre dentro dele as respostas que buscamos. Talvez seja o Amor, simbolicamente proveniente desse mesmo órgão, a nossa própria salvação, como é até representado no filme que estive a ver. Quero acreditar nisso, e como esse desejo parte do instinto, vou aceitar que sim.
Faço, finalmente, um apelo a todos nós, os alunos do Técnico, e em particular a mim mesmo: Não fiquemos alienados, apenas a viver a rotina, sem juntarmos os nossos pensamentos aos dos outros, numa consciência única de um povo global que quer sobreviver; Não nos sintamos superiores aos problemas da humanidade por pertencermos a uma elite intelectual deste país, que em princípio terá sempre segurança na vida, devido a uma elevada empregabilidade dos alunos do Instituto; Despertemos a nossa consciência e deixemos que o bom senso nos leve a melhor.
Afinal, ainda há pouco falava do desenvolvimento tecnológico sustentável, e quem somos nós, senão os alunos do estabelecimento onde, por excelência, este desenvolvimento acontece, em Portugal? Vamos honrar essa responsabilidade, para bem do Homem e do seu futuro.
Texto: Vasco Abreu