Autoria: Alice Brazete, LEBiom
Vejo a luz
A vida jorra no chão
Escurecendo o ar ténue do anoitecer
Vai de manso, devagarinho, silenciosa
Embalada pela voz suave e calorosa que ouvíamos para adormecer
A vida começa a cair de olhos fechados
Quando ainda nem sabemos de que cor ela é
Pintamos o futuro sorridente, embriagados,
Que já foi retirado, de sobressalto, de baixo dos nossos pés
A vida é cheia, urgente e partilhada
Multiplicando-se como uma epidemia
Enquanto por ela corremos de mãos suadas, atarefadas
A vida programada corre pelo código que cria
A vida dança com o demónio
Agitada e fascinada pela liberdade do tempo
Consome-o e a si própria, sem remorso, consome tudo
Transforma-nos em vontades levadas pelo vento
A vida é doce, calma e inocente
Tecendo cuidadosamente o amanhecer
Vivemos nos sonhos, vivemos para sempre
A areia da ampulheta acaba de começar a descer
A vida brota do chão
É frágil e turbulenta, cabe na palma da mão
Construímos apressadamente os fundamentos do ser
Embalados na voz suave e calorosa que ouvimos para adormecer
Vejo a luz