Autoria: João Rodrigues (LEFT)
Já não anseio o fruto,
Já ultrapassei a ilusão.
Deixei-o no jardim doutro
Obviamente com intenção
Ao culto me junto
Numa queda de tentação
Da minha arte e socialização,
Da minha timidez e desmotivação.
Não por obrigação
Da disjunção do meu fruto.
Para o físico sou adjunto
Numa abundância de dedicação
Do meu aborrecimento e castidade,
Do meu desejo e honestidade.
Não por necessidade
De reviver meu corpo defunto.
Ao empenho me alio
Numa crescente repugnância
Da minha inutilidade e ignorância,
Da minha procrastinação e profanidade.
Não por saudade,
De desconhecer o frio.
Jamais fantasiar de novo
Com o sabor de cada dentada,
Com tal frescura pela vista dada,
Com a textura de divindade imaculada,
Com a voz doce de personagem inventada,
Com o natural perfume duma amada.
Quiçá seja o próximo,
Que se acomode no meu jardim,
Mas maldição desta espera,
Desta ignóbil busca,
Que apenas ofusca
Quão único o original era,
Porque tinha de ser este o fim?
Quem me dera não ter esta saudade
Que de novo me junta aos incapazes.
Quem me dera não ter esta infelicidade
Que renegada me sara as cicatrizes.
Quem me dera não ter estas raízes
Que me aprisionam neste constrangimento vão.
Quem me dera não ter esta paixão
Que ainda me prende o coração.