A crise nos Espaços de Estudo do IST

Autoria: Beatriz Dinis (LEAer) e Mariana Campos (MEAer)

 Com a abertura do Técnico Innovation Center e o encerramento do Espaço 24h de Civil, a falta de espaços de estudo no Técnico tornou-se ainda mais evidente. O Diferencial averiguou o impacto deste problema junto do Presidente do IST e da restante Comunidade Estudantil.

O Técnico Innovation Center (TIC), situado no Arco do Cego, foi inaugurado em outubro de 2023 e abriu portas aos estudantes do Instituto Superior Técnico (IST) e da Universidade de Lisboa no passado mês de janeiro. Fruto de um investimento de mais de 12 milhões de euros, a antiga estação do Arco do Cego tornou-se num dos maiores espaços de estudo do país, complementado por uma zona capaz de acolher eventos com mais de 300 pessoas.

Apesar de ter entrado em funcionamento em janeiro, foi somente no início do ano letivo 24/25 que se tornou num espaço aberto 24h, tendo como objetivo substituir o espaço de estudo 24h localizado no Pavilhão de Civil, constituído pelo Aquário e pelas salas do piso térreo do pavilhão. Atualmente, estas salas estão a sofrer algumas obras de manutenção e serão somente utilizadas para atividades letivas. [1]

Este encerramento foi  sentido imediatamente pelos estudantes, sendo a sua principal consequência a agudização da falta de espaços de estudo. É de notar que, numa entrevista inicial com o Presidente do IST, Rogério Colaço, a 11 de setembro de 2023, o Diferencial apurou que o TIC deveria possuir 800 lugares, tendo-se apenas vindo a concretizar cerca de 400 [2]. Visto esta escassez ser notada com mais intensidade na época de exames, a Associação dos Estudantes do IST (AEIST), em diálogo com o Conselho de Gestão do IST, garantiu a abertura do espaço de estudo 24h no Pavilhão de Civil durante estas semanas, anunciando-o num post de instagram a 25 de outubro, no qual se compromete a trabalhar para que a sua abertura se mantenha durante todo o ano letivo. [3]

Note-se que a Biblioteca do Central, que fornecia à Comunidade Estudantil um local de estudo silencioso, também se encontra encerrada por tempo indeterminado, para obras de requalificação, contribuindo para a agravação deste problema.

De modo a compreender as necessidades de espaços de estudo no IST, a AEIST realizou também um inquérito à comunidade estudantil, obtendo 891 respostas. Em relação ao Campus da Alameda, as respostas denunciaram urgência na criação de novos espaços: 89% dos estudantes responderam “Não” quando questionados se “Consideram os Espaços de Estudo na Alameda suficientes?”. Relativamente ao Campus do TagusPark, a resposta também foi negativa mas não tão alarmante, com 48% dos estudantes que frequentam o Campus a considerarem os espaços de estudo insuficientes.

Atendendo que a abertura do TIC visava colmatar esta escassez, é de notar que 92% dos estudantes que o frequentam durante o período letivo consideraram que este não tem um número de lugares suficiente. A viabilidade de encerrar o Espaço 24h do Pavilhão de Civil foi também posta em causa, com 89% dos inquiridos a afirmar percecionar o encerramento de forma negativa e 91% a admitir sentir a falta de um substituto dentro do Campus da Alameda.

Para além da insuficiência de espaços, a perceção da Comunidade Estudantil relativa às condições dos mesmos foi averiguada: em relação ao Campus da Alameda, 75% dos estudantes afirmaram que estes não têm tomadas suficientes e 62% que não estão “adequadamente equipados para o ambiente de estudo ideal”.

Com base nos resultados do inquérito, foi apresentada uma moção na 7ª AGA Extraordinária, no dia 7 de novembro de 2024, que visa a abertura permanente do Espaço 24h no Pavilhão de Civil, a revisão dos horários de utilização de salas, a criação de novos espaços de estudo, assim como a conversão de locais inutilizados para esse propósito. Pretende também o alargamento do horário e um aumento da frequência do shuttle que liga o campus da Alameda ao Taguspark, de modo a que os estudantes possam usufruir dos espaços no segundo campus sem constrangimentos de acesso. [4]

Com o objetivo de reforçar a moção apresentada, foi criada uma petição pública intitulada “Espaços de Estudo no IST: A Posição dos Estudantes”, que até à data da escrita deste artigo conta com mais de 800 assinaturas. [5]

Em relação ao TIC, para além da falta de espaço, verificaram-se outros problemas: a falta de climatização, a entrada ocasional de pássaros, apenas um dos três torniquetes estar funcional e a realização de eventos na zona multiusos que por vezes causa ruído, entre outros. Sobre este último ponto, o Diferencial aferiu que existe uma preferência por eventos diurnos, sem que esta seja uma regra, como é de notar com a Gala do Desporto, um evento noturno que se realizou a 4 de outubro no TIC. Note-se que a montagem, preparação e os testes de som destes eventos decorrem, muitas vezes, na noite anterior, perturbando o estudo que decorre no piso de cima. O Presidente do IST esclarece que as montagens devem decorrer até à meia-noite, mas que, caso os estudantes mostrem um grande desconforto perante o barulho, é possível uma reavaliação deste horário.

O encerramento do Espaço 24 acarretou também consequências para os estudantes do curso de Arquitetura no IST, cujas salas se situam no Pavilhão de Civil.  Com o fecho deste espaço, o acesso a estas salas durante a noite também se tornou interdito.

Perante as novas restrições, o Diferencial tentou aferir as dificuldades acrescidas que estes estudantes enfrentam. “O problema fundamental que temos […] é que a carga de trabalho exigida pelos professores (que já era elevada) agora tornou-se incomportável. E nem todos os professores se estão a aperceber que o nosso tempo de trabalho acabou de ficar muito mais restrito e que agora temos muito menos flexibilidade”, adiantou um estudante de Arquitetura, cuja identidade prefere manter anónima. Em cadeiras de projeto “é muito normal puxar grandes noitadas para conseguir acabar todo o trabalho que nos pedem, em particular maquetes, que são as coisas mais trabalhosas e que exigem trabalho presencial nas nossas salas”, tornando o acesso noturno às salas fundamental para o funcionamento do curso. 

O Diferencial tentou contactar o Professor Miguel Amado, do Conselho de Gestão do IST, em maio, quando obteve conhecimento sobre a situação, mas não recebeu resposta.

Os estudantes chegaram a um acordo que visa o uso das salas até às 23h e durante os fins de semanas, uma solução que admitem insuficiente. Em entrevista com o Diferencial, o presidente cessante da Associação dos Estudantes, Pedro Monteiro, esclarece que as negociações por este espaço têm sido complicadas, havendo alguma intransigência por parte do Conselho de Gestão. No entanto, as opiniões quanto à posição a tomar diferem dentro do curso: “algumas pessoas acham que devíamos lutar pelas salas 24h, outros acham que esta restrição imposta […] pode ser uma ajuda a que os professores moderem a carga de trabalho”, existindo um consenso que a situação atual, que não visa estas limitações, deixa os alunos “entre a espada e a parede”. 

Ao Diferencial, o Professor Rogério Colaço admitiu não conhecer profundamente a situação atual dos alunos de Arquitetura, denotando que não tem memória de uma tentativa de contacto por parte destes. 

Como explica o Professor, o encerramento do espaço em Civil advém da reavaliação dos espaços dentro do IST, que se mostrou impossível de ser feita antes: “A gente tem muitas salas de aula muito degradadas […] que não têm condições de funcionar […] mas nós não conseguimos fazer intervenção porque elas estão sempre cheias. Nas duas semanas entre os períodos ou nas férias […], o tempo não é suficiente.” Assim, uma das funções do TIC é suportar temporariamente funções académicas de modo a que se possa proceder às intervenções necessárias. Apesar disso, o Presidente mostra que existe alguma flexibilidade quanto a esta decisão, adiantando que “[irá] levar ao Conselho de Gestão uma solução intermédia que [lhe pareça] mais razoável […] que é, ao invés de termos o TIC e Civil abertos toda a noite […] estaremos abertos [em Civil] até à meia-noite ou até à uma da manhã. ”

Referências:

[1] Artigo Diferencial “Técnico Innovation Center só estará aberto 24h no próximo ano leitvo”

[2] Artigo Diferencial “Rogério Colaço «O espaço de estudo 24 horas do Técnico Innovation Center terá 800 lugares»”

[3] Post de Instagram da AEIST

[4] Moção “Espaços de Estudo no Instituto Superior Técnico”

[5] Petição Pública “Espaços de Estudo no IST: a Posição dos Estudantes”

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