“And who gives a damn right now?”
Autoria: Pedro Fonseca (MMA)
A 4 de junho de 1976, dois jovens de Manchester, Bernard Sumner e Peter Hook, foram assistir a um concerto dos Sex Pistols. Inspirados pelo que viram, decidiram comprar uma guitarra e um baixo, aprender a tocar, e formar uma banda. À procura de um vocalista conheceram Ian Curtis, a usar um casaco brasonado com a palavra “HATE”; com a adição de Stephen Morris, formaram-se então os Joy Division. No curto espaço de tempo em que existiu, a banda de pós-punk produziu dois álbuns de estúdio, inúmeros singles, e mudou por completo o curso da música, tornando Manchester o berço de alguma da melhor música alguma vez feita daí em diante.
Há muito a contar sobre os Joy Division, sobre a sua label Factory Records, e sobretudo sobre Ian Curtis, que viria a suicidar-se com apenas 23 anos; mas eu estou aqui para falar sobre o primeiro álbum de estúdio da banda, ‘Unknown Pleasures’, um dos álbuns mais icónicos de todos os tempos.
O álbum começa forte, com ‘Disorder’, frenética e assombrosa, que prepara quem ouve para o que está para vir, não só a nível musical, mas também emocional. A partir daí inicia-se uma fase mais lenta, e mais poética, de ‘Day of the Lords’ (“When will it end? WHEN WILL IT END!?”), até ‘New Dawn Fades’ (“A loaded gun won’t set you free/ So you say…”). Com ‘She’s Lost Control’, provavelmente o maior êxito do álbum, retorna-se à intensidade inicial, que é especialmente notável nas músicas ‘Shadowplay’, que inclui um trabalho incrível na guitarra e no baixo por parte de Sumner e Hook, e em ‘Interzone’, uma das minhas favoritas. Termina-se com ‘I Remember Nothing’, lenta e arrepiantemente linda.
O maior hit: ‘She’s lost control’. Inspirado por uma mulher que sofreu um ataque epilético à frente de Ian Curtis, esta música acaba por ser a mais representativa da música dos Joy Division: sustentada por um riff de baixo de Peter Hook e por Stephen Morris fortíssimo na bateria, com segmentos da guitarra de Bernard Sumner que ainda hoje devem ecoar pelos becos e ruelas mais escuros do noroeste de Inglaterra, e acima de tudo, a letra, vinda da voz poderosíssima de Curtis.
A minha favorita: ‘New Dawn Fades’. Com um título altamente ominoso, esta é muitas vezes referida como sendo a música preferida da maioria dos fãs dos Joy Division. Lenta, rápida, poética, intensa, tudo ao mesmo tempo, o desespero na voz de Ian Curtis, que viria a suicidar-se em 1980, é altamente palpável.
O que ouvir a seguir: sendo o portfólio inevitavelmente curto, dado o período de apenas 3 anos de existência da banda, recomendo naturalmente o segundo e último álbum de estúdio da banda, ‘Closer’ (igualmente bom, mas menos adequado para quem nunca tenha ouvido música deste género), e a compilação de todos os singles produzidos, ‘Substance’. Existe uma excelente gravação ao vivo numa estação de rádio do single ‘Transmission’, que merece ser vista, disponível no YouTube. Recomendo ainda o filme Control, de 2007, que relata a história da banda.
Referências:
HOOK, Peter. Unknown Pleasures: Inside Joy Division. Londres: Simon&Schuster 2012