Feliz Natal!

1 de Dezembro! Festeja-se a Restauração da Independência. O povo português, autónomo, deixa-se envolver pela sua própria atmosfera natalícia. Há luzes na rua, pinheiros enfeitados, presépios compostos e Pais Natais fotogénicos. O aroma do lume da lareira confunde-se com o odor do consumismo. Oferecer uma recordação fica sempre bem: a provável inutilidade do objecto oferecido é desculpada pela afecção do gesto. Ficam a faltar o bolo rei, as filhoses, os sonhos e as rabanadas que, juntamente com o arroz doce, tapam o buraco no dente que o bacalhau e o peru deixaram passar. As lojas estão cheias um mês, a mesa uma semana, a casa dois dias. É nesses dois dias que esquecemos a correria quotidiana e vivemos como se aquele conforto familiar fosse tudo o que temos. E à nossa volta, o que se passa?

Joyeux Noel! Em França, há quem aproveite o dia 25 para fazer a chamada reconciliação de Natal, que consiste em ir até à casa de alguém com quem se está chateado para fazer as pazes. Podemos dizer, portanto, que o manjar natalício dos Franceses inclui o orgulho.

Vrolijk Kerstfeest! Na Holanda, os presentes são entregues no dia de São Nicolau, 5 de Dezembro. Neste mesmo dia, ocorre a festa de Zwarte Piet (“Pedro Preto”), que seria o ajudante negro do Pai Natal. Para celebrar a data, algumas pessoas saem à rua com a cara pintada de preto, lábios vermelhos e peruca black power, o que é por vezes considerado racista. No dia 25 festeja-se o nascimento de Jesus e acendem-se velas na árvore de Natal.

Fröhliche Weihnachten! Na Aústria, nem tudo se resume em amor, família e presentes. No dia 5 de dezembro, os Austríacos celebram a existência do Krampus, uma espécie de demónio que puniria as crianças más. Na data, as pessoas saem às ruas mascaradas de diabo.

Merry Christmas! Em Inglaterra, o peru também tem a honra de liderar enquanto prato principal. Como sobremesa, contudo, é o Christmas Puddin que se destaca. Trata-se de um bolo composto por 16 ingredientes, entre frutas cristalizadas e cerveja preta, que é feito meses ou até um ano antes de ser consumido. Tradicionalmente, os ingredientes são misturados por todos os membros da família, como símbolo da sua união. Antigamente colocava-se uma moeda de ferro no bolo e cada membro da família pedia um desejo. Aquele que encontrasse a moeda, tinha o seu desejo concretizado. A tradição mantém-se, mas é usada uma moeda de chocolate.

Nos Estados Unidos, o conforto da lareira é também particularmente apreciado nesta época. A pensar naqueles que não têm lareira em casa, uma estação de televisão passou a transmitir o lume de uma lareira durante 24 horas. A tradição já dura há mais de 40 anos, o que nos pode levar a questionar se há realmente quem veja utilidade no canal. De uma coisa tenho a certeza, não há lareira, verdadeira ou virtual, que aconchegue a tristeza que sinto no momento em que me consciencializo que o meu aniversário nunca será festejado de forma tão diversificada como o de Jesus.

*Este texto não segue o novo acordo ortográfico.


Texto: Inês Mataloto