Fim ao fóssil: Ocupa!

Fim ao fóssil: Ocupa! – Técnico. Fonte: Greve Climática Estudantil [1]

Autoria: Ana Caeiro, Joana Abreu e Mariana Ribeiro

No dia 7 de novembro, um grupo de estudantes ativistas irá OCUPAR o Instituto Superior Técnico até as suas reivindicações serem ouvidas. Esta insurreição, integrada na mobilização internacional “Fim Ao Fóssil: Ocupa!”, enquadra-se na batalha estudantil pela justiça climática. Constitui, como o nome indica, um movimento que exige o fim do uso dos combustíveis fósseis e faz-se acompanhar de medidas concretas a nível ambiental e social com vista a um futuro possível. Se queres conhecer melhor as propostas da ocupação ou saber de que forma podes contribuir, este artigo pode ser esclarecedor.

Outubro foi um mês atribulado e recheado de acontecimentos atípicos, desde sopa de tomate ter sido atirada aos Girassóis de Van Gogh [2], até, no panorama nacional, 3 jovens ativistas terem sido detidas após se colarem à sede da Galp [3], bloqueando o acesso à mesma. Com o alargamento exponencial do espetro de ativismo que temos vindo a presenciar, bem como a maré de críticas suscitada pelo mesmo, acabamos por ficar na dúvida sobre qual a forma mais eficaz de manifestarmos a nossa preocupação pelas alterações climáticas. Neste contexto, este artigo visa esclarecer o leitor acerca do movimento Fim ao Fóssil: Ocupa! [4], um movimento internacional criado e conduzido por estudantes, que, estando integrado na Greve Climática Estudantil, irá ocupar várias faculdades (FCUL, FLUL, IST, FCSH) e 2 escolas secundárias em Lisboa até às suas reivindicações serem atendidas. As Ocupas vão consistir em ações diretas, disruptivas mas pacíficas, centradas em três pilares: liderança estudantil, enquadramento em justiça climática e ocupar até vencer

O que levará alunos do ensino superior sem qualquer tipo de experiência anterior em ativismo e desobediência civil, pelo menos a este nível, a formar este movimento? Bem, segundo os próprios, a palavra chave aqui é urgência. Existe, de facto, uma maior consciencialização do público para as questões ambientais mas isto não se tem traduzido em mudanças significativas e mesmo as marchas e greves pelo clima não estão a impedir que as emissões continuem a aumentar. Portugal continua extremamente dependente de combustíveis fósseis e não se verifica um real esforço e visão para uma transição justa, planeada e faseada. A crise climática está já instalada (mais de 90% do território português está em seca severa[5], um terço do Paquistão ficou debaixo de água devido a cheias incontroláveis[6]) e agrava todas as restantes crises sociais. 

Torna-se então necessário escalar a ação de forma ao movimento ser incontornável. Como estudantes, vão apropriar-se dos espaços que têm – as nossas escolas e universidades – para utilizar a força do movimento estudantil no traçar da história. A mensagem que transmitem é: a nossa casa está a arder e temos de parar tudo para, em conjunto, apagarmos o fogo. 

De que se trata então o sucesso desta ação? O movimento possui propostas a nível nacional e a nível particular, isto é, cada faculdade/escola que integra a Ocupa poderá apresentar medidas concretas que deverão ser implementadas de forma local (em cada instituição) e que podem, inclusive, não ser apenas relacionadas com a luta climática, mas também de cariz social, económico, etc. A nível nacional, a Ocupa! Tem duas reivindicações principais: o fim dos combustíveis fósseis em Portugal até 2030 e o fim dos fósseis no governo com a demissão do ministro da Economia e do Mar. 

A primeira reivindicação compromete o Governo com um ponto estratégico irrevogável: é preciso acabar com os combustíveis fósseis atempadamente para impedir a chegada a uma situação de não retorno: pede-se a aposta em empregos para o clima[7] e o encerramento, justo e faseado, de todas as infraestruturas existentes de produção de eletricidade a partir de combustíveis fósseis, sendo uma transição justa aquela que põe em primeiro plano a formação profissional e emprego digno para quem neste momento depende do trabalho nestas empresas. 

Já a segunda reivindicação trata-se de retirar António Costa e Silva, ex-CEO da petrolífera multimilionária Partex: Oil and Gas, da sua posição de ministro da Economia e do Mar. O fundamento parece simples: a pessoa que deve conduzir a transição económica justa e o fim à indústria fóssil não pode ser um ministro que já demonstrou repetidamente a sua cumplicidade com este setor. António Costa e Silva é acusado de promover a exploração de combustíveis fósseis em Portugal, em particular, a exploração de gás no Algarve,[8] e de defender as grandes empresas, como a Galp e a EDP, na questão da taxação dos lucros extraordinários[9] decorrentes da subida de preços de energia pela qual estamos todos a passar. Um exemplo nítido de como as crises política, social e climática se agravam em conjunto. 

Por outro lado, no IST, as reivindicações[10] centrais apelam à inclusão no Plano Estratégico do Técnico 2020-2030 de metas concretas dedicadas à transição justa, seguindo, por exemplo, o Guia para a Neutralidade Carbónica associado à Carta Aberta do Ensino Superior pelo Clima[11]; a limitação drástica de veículos no campus que admita apenas necessidades absolutas de mobilidade com intuito a promover o uso de transportes públicos, e a criação de uma disciplina obrigatória, transversal mas específica para todos os cursos sobre transição justa, com uma visão não só sobre Portugal, mas sobre todo o mundo.

O que podes esperar da Ocupa!? Começando na semana de preparação de exames, a ocupação cria algo que reflete as necessidades e experiências de ser estudante – um espaço em que exercemos agência, aprendemos e nos apoiamos entre nós, em que nos organizamos e construímos comunidade. Podes esperar uma programação diversificada, que inclui várias aulas sobre justiça climática, formação em ativismo climático, ações de sensibilização, debates sobre temas como “Falamos o suficiente de alterações climáticas na universidade?”. Podes apoiar e juntar-te a um espaço teu: quer para estudar, quer para participar em atividades em comunidade, como sessões de cinema, jam sessions, leituras coletivas e jantares abertos. 

O apelo destes ativistas é que todos aqueles que se revêem na causa, estudantes, professores, investigadores, e outras pessoas movidas pela solidariedade e coragem de enfrentar a crise climática se juntem a um movimento de resistência pacífica, para garantir que ser ignorados não é uma opção e que existe o futuro para o qual estamos a estudar. 

Para te juntares ao movimento, participares nas atividades desenvolvidas ou esclareceres quaisquer dúvidas[12] que tenhas podes mandar mensagem na página de instagram da Ocupa Técnico – @ocupa.tecnico – ou mandar e-mail para ocupa.no.ist@gmail.com

Dia 7 de Novembro ocupamos as nossas instituições de ensino e levantamos a voz pelo teu, o nosso, o futuro de todos nós!


Referências:

[1] – Fim ao Fóssil: Ocupa! – Fim ao Fóssil – Ocupa!

[2] – Em protesto contra o petróleo, activistas atiraram sopa de tomate a pintura de Van Gogh | Activismo | PÚBLICO 

[3] – Três ativistas detidos depois de se colarem à entrada da Galp em protesto contra papel das petrolíferas na crise – Observador

[4] – Fim ao Fóssil: Ocupa! – Fim ao Fóssil – Ocupa!

[5] – Mais de 90% do território português em seca severa ou extrema, mais do que em 2005 – Observador

[6] – Expresso | Um terço do Paquistão está submerso: cheias provocaram “catástrofe climática sem precedentes”

[7] – https://www.empregos-clima.pt/

[8] – Costa Silva pode ressuscitar interesse em explorar reservas de gás offshore no Algarve – Energia – Jornal de Negócios

[9] – “Não podemos ter o hábito de hostilizar as empresas, sobretudo as Galps e EDPs”, diz Costa Silva – ECO

[10] – Técnico – Fim ao Fóssil – Ocupa!

[11] – Carta Aberta do Ensino Superior pelo Clima | Ambientalist

[12] – https://www.instagram.com/ocupa.tecnico/

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