Honor killings: Crime ou tradição?

Por todo o mundo, mulheres e homens são mortos em nome da honra, da família e dos bons costumes. Estes crimes são gentilmente denominados crimes de honra, e tanto antropologistas como historiadores procuram a sua origem, como forma de justificação.

Estes crimes são cometidos, na sua grande maioria, contra mulheres ou raparigas que, através dos seus actos ou existência, trazem desonra à sua família. E por desonra entende-se: tenham sofrido violação, recusem um casamento arranjado, peçam o divórcio, sejam homossexuais, ou apenas alvo de rumores de qualquer uma das acções anteriores.

Poderia ainda pensar-se que, devido à natureza destes crimes, estes aconteceriam apenas numa realidade muito distante da nossa, isto é, em países como o Paquistão ou a Índia, de onde são a maior parte dos casos conhecidos. Mas no entanto acontecem também por toda a Europa, em comunidades imigrantes, e muito menos se ficam pela morte da vítima.

Estes são organizados pela família, numa tentativa restaurar a sua honra. No caso das violações, obrigando a mulher a casar com o seu violador, noutros casos, desde ataques com ácido, mais ou menos mortais, até homicídio de forma mais ou menos violenta.

As leis contra estes crimes, que em muitos países nem crimes são considerados, começam a aparecer e estudos começam a ser feitos mas nenhuma destas acções é bem-sucedida. As mortes e agressões, ou não são reportadas às autoridades, ou são reportadas como acidentes e suicídios. O que resulta em estimativas de diferentes organizações mundiais variarem entre 1000 a 5000 mortes de mulheres por ano.

Nos países europeus são reportados cada vez mais casos. Na Suécia, em 2002, uma rapariga curda foi morta pelo pai. Na Dinamarca em 2005, outra rapariga foi morta pelo irmão. E diferentes casos seguiram-se, em 2006 em Itália, em 2010 na Suíça e em 2011 na Bélgica. Os casos repetem-se, seja qual for o ano ou o país, com a mesma brutalidade. Uns chegam às notícias, outros nem tanto. Apesar de todas as leis tanto contra a violência doméstica, como contra o homicídio, estes continuam a ocorrer.

Das 5000 mulheres mortas por ano no mundo inteiro, 1000 morrem só no Paquistão, onde esta tradição ainda é fortemente aplicada e justificada pela moral, assim como no Egipto e Irão. No entanto, no Paquistão, está a ser desenvolvido um movimento nacional para contrariar esta realidade e levar ao fim estes crimes. Foi criado por uma Paquistanesa, Khalida Brohi, com amigos e conhecidos. Depois de muitos altos e baixos, conseguiram criar uma empresa, chamada Sughar Empowerment Society, que visa dar maior poder, dentro da comunidade, às mulheres, permitindo-lhes contribuir economicamente para a família. Estas mulheres fazem roupa tradicional paquistanesa que é vendida já em vários países. Estas acções permitiram não apenas dar mais poder às mulheres, como alertar a um nível internacional as pessoas para esta realidade.

Estes crimes, assim como tantos outros contra mulheres, crianças e pessoas com deficiência, acontecem por todo o mundo. Esta mudança pode ser feita com o apoio do mundo ocidental. O projecto acima citado está a recrutar voluntario entre as comunidades de estudantes de todo o planeta.


Texto: Bárbara Casteleiro