AGA: a união estudantil

Autoria: Ana Rita Fontes, MEBiom (IST)

Um e-mail menos feliz do presidente relativo à fraude académica, uma carta aberta de uma aluna descontente com a insinuação e com problemas antigos e recentes do IST assinada por cerca de três mil pessoas, uma forte cobertura do Diferencial. Foi esta a receita para o despertar de uma letargia estudantil que culminou no passado dia 4 de fevereiro numa Assembleia Geral de Alunos Extraordinária. Com uma duração de aproximadamente 6 horas- porque a democracia demora o seu tempo- e tendo alcançado um máximo de cerca de 390 estudantes presentes, o presidente da AEIST, Francisco Trindade Santos, fez questão de agradecer a todos e de realçar que esta AGA contava com um número de participantes cerca de 10 vezes superior ao normal, o que por si só tem tanto de histórico como de problemático.

Os pontos de maior destaque na ordem de trabalhos foram a discussão de duas moções: a primeira relativa à “Avaliação e Ensino em Tempos de Pandemia”, a qual despertou horas e horas de discussão e propostas de alteração,e a segunda, mais comedida em reações, intitulada “O Papel da AE na Defesa dos Estudantes”.

A primeira das moções, apresentada pela própria AEIST, começou por mostrar os resultados de um estudo feito no final do 2º semestre do passado ano letivo, que revelaram que uma percentagem de estudantes na ordem dos 70% se tinha sentido prejudicada com o ensino remoto e avaliação à distância. É este o mote para a necessidade de serem tomadas medidas para atenuar esse efeito secundário da pandemia. De realçar que o objetivo principal é: “uma uniformização da tipologia de ensino, com base nos casos de sucesso” a nível remoto, de forma a “corrigir a excessiva autonomia do corpo docente que nem sempre cumpre as diretrizes dos órgãos do IST”.

Os objetivos principais são, ao mesmo tempo, prevenir a fraude académica e garantir a justiça das avaliações para os alunos. A proposta é, então, a criação de uma Comissão de Monitorização do Ensino e Avaliação Remotos (CMEAR), que será, resumidamente, uma task force constituída por “membros docentes, membros alunos do Conselho Pedagógico (CP) e representantes de estruturas associativas”. A principal diferença relativamente ao que já é feito pelo CP, o órgão que tem por missão velar pela qualidade pedagógica da Escola, seria a munição de ferramentas para atuar mais rapidamente e fazer um constante acompanhamento dos casos reportados, garantindo o cumprimento dos respetivos códigos de conduta e de sanção.

Posteriormente à apresentação das medidas prioritárias que a AEIST considerava necessário implementar, seguiu-se um (longo) período de esclarecimento e de propostas de alteração. A voz foi dada a dezenas de alunos que sugeriram pequenas alterações, remoções ou acrescentos às medidas (a maioria das vezes baseados nas suas experiências pessoais), as quais foram aceites, recusadas ou levadas à votação do público.

Como jornal dos estudantes do IST, contudo, o Diferencial considera que terá como missão futuramente informar os alunos acerca dos órgãos da escola que já existem e do que os mesmos por eles podem fazer.

No final da discussão, a moção acabou por ser aprovada com a maioria dos votos.

Após uma pausa para clarear a mente e repor energias, chegou a altura de ser apresentada a segunda moção: “O papel da AE na defesa dos estudantes”. De notar que a mesma foi desenvolvida por três alunos, Baltasar Dinis, Miguel Rocha e André Silva, de forma independente.

Apresentada pelo Baltasar, esta moção requeria inicialmente um total de 11  resoluções, que procuravam abranger 6 vertentes: Definição das Reivindicações dos Estudantes, através de consultas permanentes à comunidade estudantil e procurando analisar o estado de saúde mental da mesma; Fiscalização Independente da Qualidade de Ensino, recorrendo aos delegados; Evolução do Modelo de Representação Interna, tentando envolver mais os Núcleos de Estudantes; Representação Externa, procurando estabelecer esforços para aumentar a representatividade de estudantes da UL e do resto do país; Defesa da Honra dos Estudantes e, por fim, Comunicação e Envolvimento, para que todas as ações tomadas fossem apropriadamente divulgadas aos estudantes.

Seguiu-se, novamente, um novo período de esclarecimentos e propostas de alteração, desta vez mais curto. A própria AEIST fez algumas sugestões de alteração, as quais foram, no geral, aceites pelo grupo de 3 estudantes. Com mais algumas propostas, incluindo a comemoração do Dia do Estudante com medidas mais reivindicativas, por exemplo, a moção foi a votação, tendo sido aprovada pela grande maioria.

Ao fim de algumas horas e ainda muitos resistentes na chamada de Zoom, deu-se por encerrada a sessão, com duas moções aprovadas. De salientar, mais uma vez, a iniciativa de tantos estudantes que, após uma pequena chama de revolução, estiveram dispostos a discutir durante horas medidas que visavam melhorar o ensino do Técnico, alguns ainda a meio da segunda época de exames. Sim, somos considerados os melhores alunos do país, mas também nos cabe a nós garantir que a nossa instituição não tenha apenas a reputação e fazer o que podemos para que a qualidade de ensino se iguale a essa fama. Esperamos que o espírito de iniciativa nunca se dissipe e não esteja somente ligado a momentos isolados de indignação. É também importante que nos mobilizemos para as eleições dos órgãos de escola, uma vez que são eles que nos representam e muitas vezes não lhes é dado o devido valor.

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