HACS: um quebra-cabeças

Autoria: Rita Costa

Durante o meu primeiro ano de licenciatura, fui levada a pensar que tudo o que me acontecia de errado na vida e na faculdade, era apenas culpa minha. Autodestrui-me física e psicologicamente para conseguir cumprir com aquilo que a faculdade e os docentes exigiam de mim. Levei a minha vida ao limite. No entanto, após longos debates com outros colegas, percebi que o sistema a que estamos sujeitos é surreal. Não é só a mim que me afeta.

No ano letivo 2021/2022, o Instituto Superior Técnico decidiu incorporar, nas suas licenciaturas, novas unidades curriculares das áreas de Humanidades, Artes e Ciências Sociais (HACS) de forma a que sejamos detentores de todas as ferramentas fundamentais para os sucessos profissional e social.

As disciplinas de HACS passaram a ser obrigatórias nas licenciaturas, existindo um conjunto de disciplinas, lecionadas no Técnico e/ou nas outras faculdades da Universidade de Lisboa, que o aluno deve escolher para juntar às restantes disciplinas da formação base do plano curricular.

De acordo com relatos dos meus colegas, esta alteração dos currículos foi bem aceite pois todos compreendem as vantagens do aumento da amplitude das áreas do saber.

Atendendo a que já não estamos habituados a que o IST crie inovações úteis e práticas para melhorar a formação dos seus alunos, ficámos expectantes em relação a esta alteração.

Mais uma vez, verificamos que as alterações curriculares e outras do IST para melhorar a formação e aumentar as competências dos seus alunos, trazem associados um tão grande conjunto de problemas que rapidamente levam a que os alunos percam a motivação e passem do sonho ao pesadelo.

Relembrando, as disciplinas das áreas de HACS passaram a fazer parte integrante do plano curricular dos cursos. No entanto, é necessário concorrer a vagas destas disciplinas, onde o processo de seriação é baseado no desempenho académico. Cada aluno é aconselhado a escolher um conjunto de disciplinas, que devem ser submetidas por ordem de preferência.

Contudo, existe uma grande possibilidade de não entrar em nenhuma das opções que colocámos na nossa candidatura pois o número de vagas para cada unidade curricular integrada nas HACS é muito limitado.

Para além de existir uma grande possibilidade de não ficar colocado, em nenhuma cadeira integrada nas HACS, surge um outro problema: a maioria das aulas de HACS coincide com aulas de outras disciplinas do curso. É exatamente isso que me está a acontecer.

Após saber que tinha entrado na minha última opção, fui planear o meu horário para o 1º semestre. De entre todos os horários possíveis, deparo-me sempre com o mesmo problema: tenho duas cadeiras sobrepostas às segundas-feiras.

Com antecedência, liguei, desesperadamente e por diversas vezes, para os Serviços de Apoio Académico, mas nunca fui bem-sucedida. Posto isto, fui diretamente ao gabinete da Área de Graduação, onde tive  de esperar na fila um par de horas para ser atendida e, pasme-se, apenas tive como resposta que deveria apresentar a reclamação por escrito para uma caixa de correio eletrónico, que me foi facultada.

Apresentei a reclamação por escrito e, no entanto, quando recebo o email em resposta, fico a saber que tudo em que me envolvo dentro do Técnico é somente da minha responsabilidade.

Deparo-me com esta situação e fico sem reação quando me dizem que a solução está em mim. Suponho, com estas palavras, que deve ser humanamente possível estar presente, simultaneamente, em duas salas diferentes, onde cada professor leciona a matéria específica de cada unidade curricular.

Como tem sido habitual nesta instituição, é evidente que já não estou à espera de que resolvam o problema. Mais uma vez, terei de ser capaz de ultrapassar esta situação sozinha, comprometendo o meu desempenho académico, pois vou ter de dividir as aulas que estão sobrepostas. E isto apenas se for possível ter aproveitamento às cadeiras sem presença obrigatória nas aulas.

De facto, a elaboração do horário para o próximo período letivo tem sido um drama e leva-nos mais uma vez a viver contrariedades e sobressaltos que seriam evitáveis caso houvesse um maior planeamento da parte do IST. 

O IST lança as alterações, mas não projeta a sua aplicabilidade, provocando mais uma vez um conjunto de problemas e contrariedades aos seus alunos.

Ainda dentro da situação das HACS, deparo-me com um outro problema: fui colocada numa unidade curricular (UC), na qual não me era possível inscrever . Fico apreensiva e sobressaltada, pois a cada vez que me tento inscrever aparece a seguinte mensagem: “Ocorreu um erro. O número máximo de estudantes para esta UC foi atingido.

Suponho que, mesmo estando num curso de Química, tenho que saber resolver bugs no Fénix para poder inscrever-me numa cadeira dentro do prazo estipulado, uma vez que não quero arriscar pagar uma multa de 120 euros.

Estamos numa escola de tecnologia e inovação, mas apenas em nome, pois nem sequer são capazes de ter uma aplicação informática que promova a simples planificação de horários.

Decerto que fico muito triste e revoltada com este dilema. A única opção que me resta é dar asas à minha voz, através das minhas palavras, para mostrar a realidade do programa de ensino que o Técnico adotou.

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