Autoria: Sofia Calado (MEEC)
Todos os anos, o IST disponibiliza os resultados do Sistema de Garantia da Qualidade das Unidades Curriculares do IST (QUC). Mas será que este é uma ferramenta elucidativa para obter informações úteis antes de nos inscrevermos? Quantos de nós analisam os QUC antes de iniciar uma UC?! Ao invés disso, grande parte de nós, estudantes, escolhemos antes acreditar nos conselhos de alunos mais velhos. Seguimos com mais confiança as palavras de colegas que partilham connosco a sua experiência pessoal, mesmo que seja subjetiva, do que os resultados dum sistema de avaliação objetivo criado com o propósito de melhorar e regular as condições do próprio ensino. Serão os QUC um método eficaz para avaliar o funcionamento das UC e dos respetivos docentes?
Na sequência da reformulação da oferta formativa com a implementação do processo de Bolonha (2007), surgiu o Subsistema de Garantia da Qualidade das Unidades Curriculares do IST (QUC), cujo objetivo é “promover uma cultura de qualidade global e integrada” que garanta a “divulgação de informação atualizada que promove uma avaliação do funcionamento do ensino no IST e […] uma melhoria das condições de trabalho e do desempenho de todos os elementos envolvidos no processo educativo”, de acordo com o regulamento do IST atualizado em 2020. Na prática, os QUC são os questionários que nos esperam no fim de cada semestre e onde podemos registar a nossa perceção acerca do funcionamento das unidades curriculares (UC).
Em primeiro lugar, é de notar que existem 2 tipos de QUC a serem preenchidos pelos estudantes. O primeiro refere-se aos “Resultados Gerais da UC” e o segundo aos “Resultados Gerais do Docente”, sendo o seu preenchimento feito com recurso a uma escala de Likert de 1 (discordo totalmente) a 9 (concordo totalmente) para cada questão. E deve-se também destacar que somente é atribuído um “Resultado Inadequado” para respostas com “mediana do item ≤ 3”.
Em segundo lugar, é importante realçar que questões como “o docente foi assíduo e pontual às atividades letivas” têm o mesmo peso na avaliação que “o conteúdo e ritmo das aulas foi adequado”. E com esta observação, não está a ser diminuída a importância da assiduidade nas aulas, mas sim a mostrar um dos motivos pelo qual muitos docentes apresentam notas inflacionadas por parâmetros que, apesar de relevantes, não são fulcrais para uma metodologia de ensino eficaz. Classificações de 9 e 3 (como na imagem seguinte) resultam numa média de 6 para este grupo de questões, o que seria considerado um resultado regular.
Quanto ao caso particular do curso de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, este é conhecido como um dos cursos fundadores do Técnico. Contudo, é conotado também com um grau elevado de exigência, concomitantemente a nível dos métodos de avaliação, dos professores e da diversidade de conteúdos lecionados.
Através duma rápida análise ao currículo de LEEC, pode-se deduzir que existem diversas áreas científicas nas quais o curso procura estimular o conhecimento dos estudantes. Todavia, verifica-se que esta diversidade de conteúdos conduz, frequentemente, a que seja esperado dos alunos conhecimentos prévios extensos das temáticas que vão ser abordadas nas cadeiras, o que não lhes permite acompanhar realmente as aulas, pois sentem constantemente que estão “a tentar apanhar o comboio”. Veja-se a título de exemplo a seguinte foto duma UC de LEEC.
Além disso, os métodos de avaliação de grande parte das UC de LEEC envolvem simultaneamente um exame final e várias componentes de avaliação contínua, incluindo laboratórios, maps, quizzes, trabalhos de casa e/ou projetos, que representam, de forma frequente, pequenas parcelas da nota final, mas envolvem quase sempre uma nota mínima e uma carga de trabalho muito elevada, que nem sempre se encontram representadas devidamente no número de ECTS associados à cadeira. Nesse sentido, apresentam-se as seguintes fotos duma UC que revela uma má estruturação e metodologia de avaliação, o que consequentemente condicionou a obtenção dum pior aproveitamento escolar pelos estudantes, mas que aparentou ter os outros parâmetros regulares, criando-se uma perceção enviesada da cadeira.
Figura 3: Exemplo dos resultados gerais e respectivos parâmetros de uma UC.
Pelos motivos e exemplos elencados, apesar de os QUC revelarem informação importante, eles reduzem as cadeiras a médias e a medianas, o que conduz a uma uniformização final dos resultados em meros números, não espelhando a realidade experienciada. Deste modo, os QUC não aparentam oferecer uma representação fiel do funcionamento das UC nem atuar como um método eficaz de avaliação da pedagogia dos docentes, visto que os seus resultados podem conduzir a avaliações enviesadas das cadeiras, não sendo exposta a verdadeira experiência percecionada pelos alunos.
De destacar que, por exemplo, em UC com linguagens de programação, um aluno sem conhecimentos prévios de C vai deparar-se com um desafio perante o qual se vê completamente assoberbado, ao invés de se sentir motivado para aprender a programar. Além de ter de desenvolver um projeto de dificuldade elevada, é também confrontado com outros elementos de avaliação trabalhosos e que envolvem um elevado dispêndio de tempo, tudo em apenas 7 semanas. Isto é também observado em muitas outras UC de LEEC, que são cruciais para um estudante obter os fundamentos base para as áreas científicas de mestrado, mas que frequentemente apresentam uma organização questionável dos conteúdos e/ou dos métodos de avaliação. No entanto, na generalidade, os professores apresentam notas nos QUC bastante razoáveis, visto que atingem objetivos como lecionar o programa previsto, chegar a horas às aulas ou mostrar segurança na exposição dos conteúdos. Não retirando o mérito a essas obrigações, verifica-se que estes parâmetros tendem, por vezes, a ofuscar a avaliação de aspetos intrínsecos à capacidade de ensinar e de ajudar os alunos. Será que os QUC espelham a realidade que é vivenciada nas UC do curso de LEEC? E numa perspetiva mais abrangente, será que espelham a realidade que é vivenciada pelos alunos do IST?
Gostaria de deixar como último balanço a seguinte questão: será que os QUC são realmente um método eficaz para avaliar o funcionamento do ensino no IST ou será que devem ser reformulados? Atualmente, os QUC são a forma escolhida para avaliar as UC, mas como foi referido anteriormente, existem vários aspetos a melhorar. Até que ponto é que estes instrumentos de avaliação não devem ser repensados para melhor captar e avaliar as diversas componentes pedagógicas e as diferentes facetas ligadas ao ensino-aprendizagem?