Superando estereótipos: Taxas de aprovação em época especial de 6,7% a Cálculo I e menos de 15% a Cálculo III

Autoria: João Reprovação

Os resultados em época especial a cálculo I e III foram mesmo além dos estereótipos mais míticos associados ao sucesso académico no IST, com taxas de aprovação de 6,7% e 14,2% em 90 e 84 provas feitas, respectivamente. De destacar que este ano, ao contrário de outros, a época especial foi aberta a todos os não aprovados nas duas cadeiras mediante o pagamento da taxa de 20€ associada à prova e que estes resultados se referem ao campus da Alameda.

Para quem já conhece bem os cantos à casa, a ideia de taxas de aprovação abismalmente baixas, em época especial, não é nova nem surpreendente. Afinal de contas, na esmagadora maioria das cadeiras, mesmo nos maiores cursos, a lista de alunos inscritos é muito pequena, às vezes não ultrapassando a meia dúzia. Para além disso, é uma prova que só está disponível para quem não conseguiu obter aprovação nas primeiras duas épocas de exames. Por essas razões, são comuns taxas de aprovação da ordem dos 30% que, na prática, não nos dizem grande coisa sobre a boa ou má gestão pedagógica das cadeiras. Um pouco mais alarmante seria se, em vez das usuais meia dúzia de alunos que vão a época especial, tivéssemos, hipoteticamente, 90, e a taxa de aprovação descesse dos usuais 30% para 15% ou… 6%? 

Não, calma… 6%? 

O IST é uma instituição há muito amaldiçoada pelos seus estereótipos. O do insucesso académico obsceno mais do que qualquer outro mas… 6%? 6% é um número de tal forma surreal que, mesmo para o experienciado aspirante a engenheiro, habituado ao suor e às lágrimas das caminhadas no deserto que são as épocas de exames, parecerá mentira ou parte de uma paródia do Técnico. 

Parece, no entanto, que o Departamento de Matemática está, este ano, cheio de sentido de humor e decidiu abraçar com a força de um urso os piores estereótipos de que sofre, uma ideia que passa do plano da ironia para o da possibilidade real quando se analisa os antecedentes desta pequena catástrofe.

Este ano, ao contrário do normal, a época especial das cadeiras de Cálculo I e III foi aberta a todos os alunos reprovados no 1º semestre mediante o pagamento da usual taxa de 20€, isto porque o próprio Departamento de Matemática se demonstrou insatisfeito com as taxas de aprovação em época normal e de recurso: “Atendendo às taxas de aprovação globais nas UC de CDI-I e CDI-III no 1º semestre de 2022/23, excepcionalmente, os alunos reprovados nestas UCs no 1º semestre de 2022/23 terão acesso ao exame da Época Especial (…)”.

Por esta razão, a afluência foi substancialmente maior do que o normal, algo que certamente aumentou o número de notas de 20€ a entrar nos cofres do IST, mas não provocou nenhum aumento substancial no número de aprovados face a épocas especiais anteriores, muito menos um aumento da taxa de aprovação geral das cadeiras, esta última a suposta intenção principal por trás do generoso gesto inicial.

Usando o exemplo de Cálculo I e olhando para o curso de LEEC, em 35 provas houve apenas 1 aprovado. O sortudo sobrevivente esteve também a apenas 5 décimas de se juntar aos restantes 34. Uma espécie de Cerco de Leningrado académico. Sobrevive 1 em cada pelotão, mas mesmo esse só escapa com ferimentos graves.

É inegável que o Departamento de Matemática falhou redondamente no seu suposto objetivo com a abertura da época especial a todos os estudantes reprovados, mas, para além disso, toda a situação levanta questões importantes sobre a já velha mas ainda cheia de força “cultura de exigência” baseada numa espécie de versão distorcida e perversa da ideia de seleção natural darwinista e que ao longo das décadas tem servido muitas vezes para mascarar deficiências significativas no método de ensino do IST. Como já foi referido acima, é relativamente expectável, face à natureza da época especial, que as taxas de aprovação sejam relativamente baixas, mas em mundo nenhum, real ou imaginário, podemos achar que 6 aprovações num universo de 90 provas é aceitável ou que não merece uma profunda reflexão.

Podemos, claro, assumir que todas aquelas pessoas, mais de 170 no total das duas cadeiras, decidiram gastar 20€ para ir fazer um exame quase em agosto meramente “na desportiva” e que por isso não estudaram o suficiente. Ou, alternativamente, que apesar de terem entrado no IST, são todos uns completos idiotas sem o nível intelectual suficiente para se tornarem engenheiros. Mas se formos algo razoáveis e assumirmos que uma parte substancial destes alunos de facto estudaram com a intenção de passar, torna-se urgente fazer uma análise introspectiva que praticamente toda a gente nesta instituição tem um enorme receio de fazer, pelas mais variadas razões.

Felizmente, com timing quase perfeito, pouco tempo antes da publicação destes resultados em julho, o presidente Rogério Colaço fez uso do seu email de boas festas precisamente para analisar o ano letivo. O balanço que faz é largamente positivo e o tom que usa é de parabenização a todos os envolvidos na transição do sistema de ensino anterior para o novo, em particular os professores. Em relação aos resultados académicos, destaca “uma evolução significativamente positiva” no que toca à eficiência formativa. 

É certo que o presidente não tinha conhecimento destes resultados quando enviou este longo texto e algumas coisas, de facto, inegavelmente melhoraram, especialmente em relação ao primeiro ano do MEPP (novo modelo de ensino em vigor desde 2021/2022), pelo que não pretendo descartar todo o email como uma tentativa de atirar areia para os olhos dos alunos, mas não deixa de ser algo irónica esta sequência de eventos e o contraste entre eles não deixa de reforçar a ideia de que falta sentido de autocrítica e auto-análise nos órgãos de poder e em boa parte dos departamentos do IST.

2 comentários

  1. De acrescentar as estatística do exame de cálculo 3 quanto ao curso de civil, em cerca de 40 alunos o número de aprovações foi 0, a média foi cerca de 1.6, e a moda foi 1

  2. Posso acrescentar que no caso de cálculo 1, dos 6, 3 eram de eng. Física e tecnológica, e eu que fiz o exame, este pareceu-me em tudo nos moldes dos desse professor… algo curioso… Mas se calhar são só os alunos de LEFT que são aplicados e os restantes (incluindo alunos de aeroespacial) gostam de queimar dinheiro… math ain’t mathing

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