Tenho dois testes no mesmo dia, à mesma hora, será possível? Sim, estás no Técnico.

Certamente que já te sucedeu inscreveres-te em cadeiras de anos diferentes. É normal, acontece a todos. Provavelmente, até sais contente do Fenix e agradeces ao Nosso Senhor Arlindo por te deixar inscrever àquelas cadeiras que há tanto te esforças por fazer, mas que, ou por os bancos dos GA’s – cheios de louvores às raparigas de Química e exultações às virtudes da genitália dos machões de Mecânica – serem mais interessantes do que os ninjas do prof, ou porque Nosso Senhor ainda não te deu forças para as concluir, estas cadeiras continuam a ser aquela pedra no sapato que não te larga. No entanto, confiante de que, apesar das adversidades, as coisas vão correr bem, arriscas a tua sorte e os 40.5 ECTS deixam de ser apenas uma oportunidade putativa e passam a ser uma esperança, o “grande objetivo”.

“Vamos a eles!”, pensas tu.

O semestre começa bem. Não há uma aula que faltes, e até já quase tratas alguns dos profs por tu.

Depois… sem dares por eles, chegam os primeiros testes.

Que limpeza! Venham mais.

Com o calor, tudo o que é sensível aos UV esconde-se. “Ó porra! Estão dois gatos pingados na sala. Onde é que se meteu toda a gente? Está tudo no marquês? Ou o papa confundiu a Alameda com a Cova da Iria e o pavilhão Central com o Santuário de Fátima?” Pouco importa. O “grande objetivo” configura-se como uma realidade quase palpável, e isso é o que mais te interessa!
Nas salas de aulas, bem que te esforças para que liguem ‘o ar condicionado’, mas em vão. Sais das aulas ensopado e chegas a casa ainda mais. Abres o frigorífico e tiras a caixa com o que sobrou do jantar de fim de curso do teu irmão (“Segue o bom exemplo do teu irmão”, dizem-te aqueles que te financiam o curso.)

Depois de saciada a fome, ligas o teu instrumento eletrónico de eleição para ver o quão lixado ficou o teu amigo, por teres deixado uma provocaçãozinha na sua nova amizade com aquela loura que vai sempre para o mesmo sítio no espaço 24. Abres o browser, e carregas no ‘F’ e… à frente do ‘F’ surge enix.tecnico.ulisboa.pt “Oh lá! Ando aplicado”, pensas. Clicas.

Scroll down – nada de novo. Às tantas começas as ver as datas dos últimos testes.
“Duas semanas, três semanas. Este é quase em Julho. Sem pressão.” Uns segundos depois, a calma dá lugar ao pânico e, dum instante para o outro, Nosso Senhor Arlindo, passou a ser Arlindo, filho de Maria Madalena (ou outra digna do epíteto).

“Dois testes no mesmo dia? À mesma hora? Impossível!” Não queres acreditar, mas é a dura realidade.

O que fazer?

Por esta altura, depois de dominado o pânico, passar-te-ão, pela cabeça, inúmeros esforços que consideras capazes de reunir as condições necessárias para resolveres o problema.  Professores responsáveis das cadeiras, delegado de curso, coordenador de curso e, claro está, o Conselho Pedagógico, o CP.

A partir daqui, é melhor prevenires-te com um bom impermeável para te protegeres de toda água que vai ser projetada dos capotes das entidades supramencionadas.

“Fale com o coordenador”, diz-te um dos professores responsáveis.

“Tem de ver isso com o delegado do curso”, diz-te o outro professor.

“Quem tem de resolver isto é o delegado, o CP e os professores responsáveis”, diz-te o coordenador.

Vais assistindo ao pingue-pongue enquanto o delegado, de início solícito, afiança-te que vai fazer tudo aquilo que pode, mas que já sabe, de antemão, que não vai servir de nada. Que tudo vai ficar na mesma.

No meio disto, contas também com a inflexibilidade dos professores em fazer o teste noutra ocasião.

Não sabes para onde te virar. Envias uns emails na esperança de uma mudança.

Dias depois, decides tomar o pulso da situação. O delegado acabou a ver o seu vaticínio confirmado pelo Conselho Pedagógico. Constatas, frustrado, que a dura realidade é também triste e vergonhosa. Aquela que se auto-intitula “A melhor escola de engenharia do país” é incapaz de reconhecer e corrigir os erros que ela própria cria e é indiferente às manifestações de indignação dos alunos.

Se tiveres sorte, podes contentar-te em fazer um dos testes na repescagem. Se não, o recurso. Se correr mal. Paciência! A culpa não é tua, de certeza. Mas também não é do Técnico. Será, talvez, do Espírito Santo.

Amém


Texto: Afonso Anjos

4 comentários

  1. culpa não é do Técnico mas sim do estudante…

    É o que dá chumbar… agora não vão mudar calendários de exames só por causa de 1..

    que faça no recurso… qual o drama?

    • Estas-te a esquecer que ha quem se increva em cadeiras do 2º ano no 1º como PE. Nao reprovaram, estao a adiantar trabalho e se o sistema deixa isto nao devia acontecer.

    • O estudante, tendo ou não chumbado, em anos anteriores, continua a pagar propinas e a ter direitos, até porque chumbar acontece a qualquer um. A culpa não é do estudante. E claro que existe um drama aqui, se está a ser negada a igualdade de oportunidades de avaliação a um aluno, em relação aos outros. O sistema, assim, deixa de ser equitativo e isso, isso é culpa do Técnico.

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