Autoria: Luís Fonseca (LEIC-A)
“+=.حثفبحرؤتظنق” diz Najah Arie num email endereçado ao Diferencial às 4 da tarde do último dia de março. Copy-paste para o Google Tradutor: “Despacha-te, não penses .=+”; sem mais contexto, apenas se pode assumir que o conselho do Najah está relacionado com a misteriosa página arábica que surgiu (e ressurgiu, após ser removida uma primeira vez) no site do nosso jornal.
A página do Diferencial tinha ganho tremenda popularidade nos países do Norte de África e no Médio-Oriente, em especial no Egipto e na Arábia Saudita, obtendo mais de dez mil visualizações no espaço de uma semana, eclipsando as 1.150 visualizações portuguesas no mesmo período.
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Porém, os nossos novos leitores não estavam interessados em assuntos do IST, mas sim nas dezenas de milhares de artigos doados e colocados sem a nossa permissão em “diferencial.tecnico.ulisboa.pt/ar”. Todos estes artigos serviam o mesmo propósito: recomendar telenovelas de produção egípcia, para famílias crentes no Islão assistirem depois do jantar durante o mês do Ramadão, uma prática que tem vindo a ganhar popularidade na atualidade.
Ao mesmo tempo, talvez inspirada pelas nossas novas recomendações culturais, a Associação de Estudantes do IST decidiu expandir o âmbito das suas publicações para partilhar dicas com a comunidade estudantil.
Em linha com o seu foco no desporto escolar, num artigo inexplicavelmente escrito em espanhol, a AE apresenta os benefícios de esteróides, destacando melhorias no rendimento muscular, queima de gordura e aparência estética do atleta. Noutra publicação, apresenta uma retrospetiva do desporto em Portugal e no mundo, com sugestões de locais onde os mais ávidos fãs desportivos podem apostar em diversas modalidades, incluindo touradas!
Mas onde a redação da associação de estudantes realmente brilha é nas publicações sobre romance. Começando com recomendações para propor com sucesso a ideia de um ménage à trois à namorada, sugerindo a contratação de uma prostituta para evitar ciúmes (com link para onde a encontrar incluído). Se o leitor tiver sucesso com o pedido, a AE oferece um artigo sobre preliminares para apimentar a noite. Contudo, os conselhos não se limitam aos bons momentos, com sugestões focadas nos pontos mais baixos de uma relação, incluindo traição e o que fazer para evitar o fim da relação, ou um artigo sobre atratividade física, que apenas poderá ter sido escrito por um incel.
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Claro está que este conteúdo não pertence aos respetivos websites: em ambos os casos, estamos perante um tipo de manipulação de SEO (Search Engine Optimization), conhecido como Link Farming. Motores de busca como o Google utilizam diversos fatores para decidir a ordem em que apresentam os resultados de uma pesquisa, sendo um destes a quantidade de outras páginas web que apontam para o potencial resultado – um website referido por muitos outros haverá de ser mais relevante. Surge assim um mercado para crescer artificialmente esta métrica.
Uma estratégia usada no passado limitava-se à criação de múltiplos websites controlados pelo mesmo autor, cada um destes incluindo links para os outros. Eventualmente, a Google detetou a prática, prejudicando os abusadores nos rankings da pesquisa e obrigando-os a procurar outros meios para crescer as suas páginas.
Incapazes de escrever melhor conteúdo para atrair leitores, donos de sites viraram-se para o mercado negro, utilizando serviços de hackers que, com o auxílio de programas para navegar toda a internet à procura de vulnerabilidades, ganham acesso indevido a milhões de websites. Basta, então, contratar um destes hackers para encher um dos seus websites com centenas de links para a página que se quer promover.
Foi isso que aconteceu. Tanto o Diferencial como a AE usam o WordPress nos seus websites, uma plataforma de blogging conhecida pelas suas vulnerabilidades regulares, e ambos foram apanhados por um destes hackers que os vendeu, respetivamente, a um promotor de telenovelas egípcias e a promotores de esteróides, prostituição e sites de apostas.
Atualizar o WordPress e os seus plugins para a última versão, junto da alteração de palavras passe, parece ter resolvido o problema com o site do Diferencial. A AE está a ter mais problemas, visto que o website deles está em manutenção desde terem sido avisados do problema há cerca de uma semana, tendo regressado no dia 05/04 com o conteúdo clandestino não removido, mas desformatado.