Autoria: Mariana Martinho (LEBiom)
Ao entrar no Ensino Superior, muitas vezes deparamo-nos com desafios que podem abalar a nossa autoestima. Ao entrarmos no Instituto Superior Técnico (IST), entramos, também, numa fase de transição para uma nova realidade, muito diferente daquilo a que estávamos habituados. Neste artigo, pretendo destacar alguns dos desafios enfrentados dando ênfase à adaptação ao novo regime de ensino imposto pelo IST e partilhando experiências pessoais e de outros estudantes, analisando dados relevantes, como os inquéritos de Qualidade das Unidades Curriculares (QUC), com um olhar crítico.
Enquanto estudante do 4º ano de Engenharia Biomédica, ingressei no IST no ano de 2020/2021, durante a pandemia. Optei pelo Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica, que posteriormente, sofreu uma reforma curricular. Após a conclusão da licenciatura, passou a ser possível escolher qualquer tipo de mestrado, ampliando as opções de escolha para além das fronteiras do mestrado de continuidade.
No ano letivo de 2021/2022, no meu 2º ano de Técnico, foi implementado o novo “Modelo de Ensino e Práticas Pedagógicas” (MEPP). Este introduziu quatro períodos ao longo do ano letivo, ao invés de 2 semestres, juntamente com novas disciplinas, nunca antes lecionadas.
Algumas delas substituíram UC’s existentes, tendo sido apenas renomeadas. Além disso, foram introduzidas disciplinas com 3 ECTS, e garantido que todas as UC tenham um número de créditos múltiplo de 3, com o objetivo de possibilitar uma maior flexibilidade curricular. Outra mudança significativa foi a inclusão, em alguns cursos, de um Projeto Integrador de 1º Ciclo, chamado de PIC1, para a licenciatura, e um Projeto de 2º ciclo, o PIC2, para o mestrado.
Estas mudanças impactaram os alunos de diferentes formas e tem levantado questões importantes sobre como os estudantes se adaptam a essas mudanças e como isso afetou a sua experiência académica no IST. Neste sentido, abordam-se de seguida algumas dessas questões, reproduzindo as vozes dos estudantes com quem tenho falado que passaram pela mesma transição que eu.
Assim, para os alunos que, após uma época pandémica, onde muitos métodos de avaliação tiveram de ser ajustados, passaram, também pela transição para um novo modelo de ensino, é preciso fazer uma análise detalhada acerca do desempenho dos alunos e, também, dos próprios docentes, que tiveram de ajustar UC lecionadas em 14 semanas, a 7 semanas apenas. Esta análise não é relevante apenas para os estudantes que vivenciaram essa transição, mas também para todos os que ingressaram e ingressam anualmente no Instituto Superior Técnico (IST).
Vale a pena destacar que, tanto para os alunos quanto para os professores, estamos a falar de engenharia, onde os conteúdos não podem ser simplesmente decorados. Lidamos principalmente com métodos matemáticos, computacionais e outros que requerem tempo para uma compreensão sólida. Para transmitir esses conhecimentos de forma clara os docentes também necessitam de tempo, tempo esse que não existe ao longo das 7 semanas.
Como estudante de Engenharia Biomédica, posso partilhar a minha experiência pessoal e alguns testemunhos de colegas. Mesmo antes do novo modelo de ensino, o ritmo das aulas já era bastante intenso, no entanto, agora é completamente alucinante. Com a adição de projetos, trabalhos e relatórios a serem entregues praticamente todas as semanas, muitas vezes é ainda necessário conciliar essas tarefas com testes e fichas de avaliação, tornando todo o processo muito mais complicado. Adicionalmente a isso, no final do período, ainda somos submetidos a exames em algumas disciplinas, sendo impossível estudar para os mesmos durante o período letivo, devido à carga de trabalho constante.
Outro problema recorrente consiste na carência de materiais de estudo adequados, principalmente para as novas disciplinas introduzidas nos planos curriculares. Os docentes nem sempre têm disponibilidade para fornecer esses materiais. O que aconteceu em alguns casos foi querermos estudar e não saber por onde.
Posto isto, olhar para os QUC das disciplinas poderia permitir obter uma visão sobre como os estudantes se adaptam à vida académica. Porém, como veremos, para isso é necessário algum sentido crítico nessa análise. Focamo-nos, essencialmente, nas disciplinas de 3 ECTS do plano curricular de Engenharia Biomédica introduzidas pelo MEPP e analisamos os seus QUC.
Neste caso, vamos concentrar-nos em duas disciplinas: “Fundamentos de Bioinstrumentação” nos anos de 2021/2022 e 2022/2023, e “Fundamentos de Biossinais e Imagiologia Médica” no ano de 2021/2022, representados nas figuras 1,2 e 3, respetivamente. Em ambos os anos podemos notar que as classificações foram bastante satisfatórias. No entanto, se avaliarmos a organização da UC vemos que esta foi considerada, genericamente, como desorganizada, tendo, ainda assim, melhorado do ano de 2021/2022 para 2022/2023.
Observa-se que apesar de os alunos considerarem a cadeira desorganizada, e os trabalhos/projetos propostos complexos/extensos, esta não excede, no entanto, o número de ECTS previstos. O mesmo pode dever-se, por exemplo, ao facto de os alunos deixarem de frequentar as aulas teóricas ou de, na época de exames, não disporem uma quantidade de horas de estudo adequada para a mesma. É possível verificar o mesmo, mas neste caso relativamente à cadeira de fundamentos biossinais e imagiologia biomédica.
Em resumo, este artigo destaca a importância da análise crítica dos dados e de como os estudantes são questionados ao longo do ano. Ou seja, embora os QUC forneçam uma visão geral das disciplinas, muitas das vezes não refletem completamente a realidade. Seria importante obter feedback mais subjetivo dos estudantes para compreender melhor as questões relevantes relacionadas com as disciplinas e os docentes, como por exemplo, um inquérito com perguntas de resposta aberta, e não apenas limitados a opções múltiplas/escalas numéricas.
QUC Fundamentos Bioinstrumentação 2021/2022
QUC Fundamentos Bioinstrumentação 2022/2023
QUC Fundamentos de Biossinais e Imagiologia Biomédica 2022/2023