Autor: Ernesto Bombarda (MEIC)
Amigos, colegas, professores, aquelas quatro pessoas que estavam a olhar para mim quando tropecei nas escadas de Civil e quase fui de cara ao alcatrão porque tinha as mãos nos bolsos das calças,
Aqui vos trago uma análise. Julgo que há coisas que têm escapado ao olhar atento deste jornal. Não vos apoquenteis, porém. Aqui estou, Manuel Acácio, para vos iluminar o dia.
Descobrimos que, a partir do próximo ano letivo, o Pavilhão Civil passará a estar encerrado à noite, e há que analisar essa decisão de todos os pontos de vista. De uma perspetiva logística, parece uma boa medida. Em termos de saúde pública, nem tanto: considerando o número de frequentadores de Churrascos que costumam fazer as suas excursões às casas de banho de Civil, questiono-me qual será o seu novo espaço urinário predileto, numa faculdade com tantos becos escuros… Na próxima edição física do jornal, prometemos trazer duas listas, uma com os melhores locais onde urinar e outra com as plantas do campus a precisar de maior rega. Por outro lado, pensando melhor, talvez isto não seja um problema. Quando abrir a nova residência na piscina, sempre poderão ir lá. Embora, no fundo, fechar o Pavilhão Civil seja também uma perda em termos de turismo e beleza natural. Quem não gosta de visitar uma boa cascata, naquelas noites mais chuvosas?
Acabei de reparar: será a primeira vez que alguém diz “urinário” neste jornal? Sou o orgulho da minha família.
Não sei se já repararam, mas o edifício da Associação dos Estudantes está em obras. Julgo que se trata de uma má jogada política por parte da AE. Era o único edifício com o qual muitos estudantes do Técnico se identificavam, na medida em que também estava a cair aos bocados. O que se ganha em aparência, perde-se em representação estudantil. Mas para isso já existiam as Assembleias Gerais de Alunos.
E salas de estudo? Acho que há muito poucas pessoas a analisar o próprio nome das salas de estudo. Sala de estudo. Julgar-se-ia auto-explicativo o nome do local, e porventura suficiente para compreender o tipo de atividade que lá se devia realizar. Porém, para alguns, não é assim tão óbvio. Caso contrário, como explicar o tipo de coisa que se vê nas salas de estudo? Alguns dos debates mais acérrimos sobre política que já assisti não se passaram no horário nobre da televisão portuguesa, mas no Aquário ou na Secção de Folhas. Alguns dos jogos mais intensos de cartas, vi sucederem-se na biblioteca de Física. E isto sempre num nível decibel nunca abaixo daqueles atingidos por um Airbus A380, ou por um daqueles chihuahuas irritantes. A sensação que dá é que todos estes indivíduos estão confinados ao interior da sala, e que, para além dela, não existe mais nenhum local no mundo. Talvez tenham sido encarcerados contra a sua própria vontade, e não possam visitar qualquer um dos jardins dentro (ou fora!) do Técnico, onde poderiam, com maior conforto sem dúvida, falar nos volumes estratosféricos desejados, ou então jogar uma suecazinha, quiçá com o senhor Antunes, que é viúvo e passeia o cão todos os dias na Fonte Luminosa. Só assim se explica a persistência com que muitos requisitam os espaços de estudo sem, de facto, estudar. De resto, existe sempre aquele parvinho que está a jogar xadrez. E esse eu sei de certeza que existe, porque costumo ser eu. Mas nada disto se aplica a mim, eu atuo num plano superior ao resto da humanidade. Até já escrevi a palavra “urinário” três vezes num jornal.