1º dia MEO Kalorama: Blur, The Prodigy e muito mais

Autoria: Beatriz Dinis (LEAer) e Francisca Branco (LEAer)

O MEO Kalorama regressa ao Parque da Bela Vista para uma 2ª edição promissora. Não só ansiadas estreias em Portugal, como também artistas que já conhecem os cantos à casa movem festivaleiros de todo o país entre os dias 31 de agosto e 2 de setembro.

No palco principal, o primeiro dia inicia-se com Pongo, que trouxe os ritmos africanos e a sua energia contagiante sob um sol intenso de final de agosto. 

De seguida, o sueco José González pisou o palco San Miguel para celebrar os 20 anos do seu álbum de estreia Veneer. Enfrentou, sozinho, o público acabado de chegar e encantou-o com a conjunção da sua doce voz e o conforto da guitarra acústica. Apresentou o seu álbum na íntegra, destacando “Heartbeats” e “Crosses”, favoritos do público, e incluiu ainda tributos a bandas como Joy Division e Massive Attack, interpretando os temas “Love Will Tear Us Apart” e “Teardrop”.

Depois da calma de José González, segue-se o furacão de Amyl and The Sniffers que vem mostrar que o punk não está morto. A banda australiana tomou de assalto o público e a agitação foi imediata. Alguns esperavam ansiosamente esta atuação, mas ninguém ficou indiferente à presença e voz poderosa de Amy Taylor, vocalista do grupo, e os  mosh pits depressa se formaram. Numa atuação intensa de um punk consciente, inclusivo e feminista, Amy dedica “Knifey”, uma música que retrata o perigo de andar à noite na rua e a necessidade de carregar consigo sempre um elemento de proteção, do novo álbum “Comfort to Me”, a todas as pessoas que já experienciaram assédio sexual na rua, especificando as mulheres, pessoas trans e não-binárias. Sob os sons de “Guided by Angels” , “Got You” e “Maggot”, a multidão retribui a energia ao palco e observam-se também bandeiras australianas de compatriotas do grupo que, estando em Portugal, não puderam perder a incrível performance de Amyl and the Sniffers.

Doze anos após a sua estreia em Portugal, M83 sobem ao palco para um fim de dia envolvente. Anthony González, acompanhado da sua poderosa banda, apresenta o seu álbum mais recente, “Fantasy“, fazendo ecoar o seu característico eletropop pelas colinas do Parque da Bela Vista. Destacaram-se ainda os solos de saxofone de Ian Young, o violino de Clément Libes e a voz angelical de Kaela Sinclair, que culminaram no êxito de 2011, “Midnight City“.

Já os nova-iorquinos Yeah Yeah Yeahs regressam em êxtase a um palco português. Após 17 anos sem visitarem Portugal, o público mostrou que fez o trabalho de casa: não só acompanhava Karen O nos temas mais nostálgicos, como também mostrava que estudou o álbum de 2022, lançado após um hiato de nove anos, cantando com euforia temas como “Spitting Off the Edge of the World”. Karen O dedica ainda “Maps” a “todas as pessoas que já amaram e perderam quem amaram. A quem amam mais do que a vida. Quero dedicar esta canção a todos os amantes de Lisboa.”

Mas foram os Blur quem o público do MEO Kalorama mais ansiava. Já nos primeiros acordes de “St. Charles Square”, canção com a qual a banda abriu o concerto, se viam as expressões de encanto. Facilmente, somos contagiados pelo à-vontade com que os quatro amigos estão no palco: transportam décadas de companheirismo e brincadeiras de estrada para os seus instrumentos, criando um ambiente inclusivo e divertido para qualquer ouvido. A inclusividade mostrou-se ainda mais presente quando, durante o tema “Girls & Boys”, Damon colocou  uma bandeira representativa da comunidade transgénero às costas, estabelecendo representatividade e um clima de segurança.

Já na doce “Tender”, as vozes do vocalista dos Blur e do público uniram-se em uníssono, um momento emocionante que se refletia nas lágrimas nas faces da plateia – que continuou a cantarolar os versos “Oh my baby, oh my baby, oh why, oh my” mesmo após o término da canção. Houve ainda um momento para falar de turismo em Portugal, no qual Damon mencionou a sua visita ao Museu da Marioneta: “é um museu fantástico. Obrigado por terem um museu como aquele”. O final da sua digressão pela Europa não podia ter corrido da melhor forma, mesmo sendo a segunda passagem em Portugal, logo após o Primavera Sound, em junho deste ano, com uma plateia enérgica e calorosa, pronta para receber os Blur sempre que quiserem regressar aos palcos portugueses.

Já marcava quase uma da manhã, quando a última atuação da noite se iniciou. Muito antecipados, The Prodigy entram em palco prontos para levar o público ao delírio, com um dos singles mais marcantes “Breathe”. Com “casa cheia”, o grupo garantiu que ninguém se mantinha parado e, sob as palavras de ordem de Maxim e com Liam Howlett nos sintetizadores, o público saltou em uníssono até ao último minuto de espetáculo. Na sua mensagem habitual de união e rebelião, Maxim apelida o público de “guerreiros dos Prodigy”, realçando especialmente os corajosos que se encontravam no centro dos energéticos e quase constantes mosh pits. Afirmou ainda que a zona VIP era onde o público se encontrava, ao invés da zona reservadas para convidados VIP.  E era no público que se vivia toda a experiência de Prodigy, onde o pó não assentou por um instante, ao som dos seus elétricos sons como “Voodoo People” e “Poison”, acompanhados de um espetáculo de lasers que sobrevoavam a multidão. Foi através desses lasers verdes que se fez a mandatária homenagem a Keith Flint, a principal cara e voz do grupo, que morreu tragicamente em 2019.

E acaba em grande o primeiro dia de Meo Kalorama 2023, esperando-se o retorno  de Florence + The Machine, Aphex Twin e Arca, entre muitos outros, no segundo dia de festival.

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