Autoria: Margarida Lourenço (LEIC-A)
No passado dia 20 de setembro, celebrou-se a inauguração do Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian. Este foi remodelado pelo arquiteto japonês Kengo Kuma que, inspirado pela tipologia ‘Engawa’ – ala abrigada sob uma pala em forma de aba de telhado, presente em habitações tradicionais japonesas – conseguiu estabelecer uma ligação mais completa e envolvente entre os elementos paisagísticos do jardim e o edifício.
O programa artístico, também fortemente baseado no conceito anterior, tem como foco principal proporcionar diferentes experiências, de forma a tocar todos os tipos de público. São dados a conhecer artistas a meio da carreira, cujo trabalho não tinha sido antes visto em Portugal. As obras abordam essencialmente a relação entre o ser humano e vários elementos da sociedade nesta era de avanços tecnológicos, e mudanças sociais e políticas. Refletem novas perspectivas sobre problemas de impacto global, relacionados com os desafios sociais, históricos e ecológicos enfrentados na atualidade. Os espaços deste novo edifício são assim ocupados por projetos, desenhos, performances visuais e auditivas, e mini-festivais onde é possível partilhar a inteligência emocional como atenuador da intensidade deste mundo complexo.
No átrio principal encontra-se a H BOX, uma sala de projeção móvel concebida por Didier Faustino, onde vários vídeos artísticos podem ser selecionados através de um ecrã tátil, conferindo oportunidade de escolha e decisão por parte do espectador. Do lado direito, localiza-se a Sala de Som, um espaço dedicado ao “ouvir em vez de olhar”. Aqui podemos escutar ”The Voice of Inconstant Savage”, da autoria de Yasuhiro Morinaga. Fundem-se nesta obra culturas sonoras (portuguesa, indígena e japonesa), num duelo entre a “espera” física e a “inconstância” interior.
No Espaço Projeto, encontra-se exposta a obra de Go Watanabe. Através de distorção 3D, o artista “brinca” com as percepções sensoriais dos espectadores, fazendo-os crer que os objetos que fitam são verídicos até colapsarem e revelarem o seu interior oco. A obra oscila sobre a barreira separadora entre o mundo virtual e a realidade.
Descendo um piso, na Sala de Desenho, quatro filmes de Gabriel Abrantes são transmitidos. Através de fragmentos autobiográficos, o artista atravessa temas existenciais, atribuindo intensidade às figurações da tragédia. As obras são protagonizadas por fantasmas que, encarcerados num ciclo repetitivo de dor e discórdia, se apresentam como os elementos ilustrativos da perda da vida e humanidade.
Além do conceito base tanto do edifício quanto da atual temporada, “Engawa” é também título de mais um espaço neste centro. Nesta sala encontra-se a exposição do artista luso-brasileiro Fernando Lemos, a qual descreve a sua passagem pelo Japão, onde estudou a caligrafia e arte japonesas, mediante fotografias. O produto por ele criado durante a jornada é acompanhado por mais algumas das suas obras, bem como outras peças da coleção CAM. Esta exposição propõe uma reflexão sobre como a imaginação se manifesta nos traços da realidade, tanto nos enquadramentos e recortes capturados em fotografias ou desenhos, quanto na interação com a paisagem, seja ela humana ou arquitetónica.
A diversificada agenda do CAM adiciona às suas exposições e espetáculos um conjunto de projetos, a nível nacional e internacional, que visam promover o intercâmbio cultural mas também aproximar o público jovem das decisões estratégicas da instituição e imaginar novas formas de pensar e atuar sobre os desafios do presente.