MONSTRA 2023

Autoria: Haohua Dong (MEEC), João Dinis Álvares (MEFT), Margarida Bezerra (LEIC), Margarida Pereira (LEFT) e Patrícia Marques (LEFT)

Este ano decorreu a 22ª edição da MONSTRA, o maior festival de animação em Portugal. Como tem sido tradição desde o primeiro ano do festival, conta com um país convidado, tendo sido este ano o Japão. Outro marco desta edição foi a coincidência com a celebração dos 100 anos da animação portuguesa, tendo a MONSTRA em conjunto com a Cinemateca passado, e continuará a passar, filmes de animação portuguesa todas as primeiras quintas-feiras de cada mês.

Para além de entrevistar o diretor artístico da MONSTRA, Fernando Galrito, o Diferencial cobriu todo o festival, nas suas mais variadas vertentes. Sendo um evento enorme, que durou desde 15 a 26 de março, contou com várias retrospetivas, estreias mundiais, competições de longas-metragens, curtas-metragens, filmes para crianças (na MONSTRINHA), masterclasses, exposições de arte na Sociedade Nacional de Belas Artes, no Museu do Oriente, no Museu das Marionetas, no Museu Nacional de Etnologia, entre outros. No meio de tudo isto, cerca de 15 premiados com Óscares estiveram presentes, sendo, de acordo com as palavras do próprio diretor, “possivelmente, a maior concentração de Óscares em Portugal de sempre”. Sobre a diversidade cultural da MONSTRA, Fernando Galrito afirma que é importante dar a conhecer não só os filmes, como também os bastidores dos mesmos, mostrando aquilo que não está nos ecrãs.

Nas palavras do diretor, a MONSTRA serve para “educar novos públicos, para as questões da cinematografia, para as questões da animação e a animação tem a vantagem de misturar as artes todas. […] Todas as outras artes que têm movimento vão buscar o movimento à natureza. Os atores enfrentam a imagem real, os documentários enfrentam a natureza a movimentar-se, a dança enfrenta o próprio corpo. No cinema de animação, é o animador que, através da decomposição de cada uma das posições da imagem, vai criar a ilusão do movimento, movimento esse que não existe antes. Só temos folhas de papel diferentes, no caso do desenho animado, com desenhos diferentes ligeiramente uns dos outros, mas eles não se movem, só se movem no movimento da projeção.” 

Dia 15 de março deu-se o início do festival, um dos maiores em Portugal. A cerimónia de abertura esgotou completamente a lotação do Cinema São Jorge, tendo demorado cerca de três horas, ao longo das quais Fernando Galrito expôs todo o programa da MONSTRA, intercalado com várias estreias de curtas. Destaca-se a primeira curta de animação portuguesa de sempre, “O Pesadelo de António Maria” de Joaquim Guerreiro (1923), e “Joy of Life”, um filme do coreano Song Yungsung sobre um conjunto de poemas coreanos. A banda sonora desta curta foi feita por um artista canadiano e foi cantada, ao vivo, pelo coro da Escola Superior de Música de Lisboa. A diversidade da cerimónia de abertura ditou o tom do resto do festival. Apresentaremos agora a reportagem em várias secções, de modo a facilitar a leitura da mesma.

Retrospetivas

As retrospetivas são sessões dedicadas a recordar uma pessoa ou um tema em específico e acabam por ser bastante diferentes do resto das sessões. É algo mais pessoal, mais íntimo e são um espaço onde se consegue facilmente falar sobre a evolução da técnica da pessoa à volta da qual se está a fazer a retrospetiva.

Retrospetiva Raimund Krumme

Primeira sessão oficial da MONSTRA, ainda antes da sessão de abertura. Contou com várias obras de Raimund Krumme e com a presença do mesmo. Tudo curtas, sendo estas separadas por vários anúncios de empresas para as quais Raimund também tinha feito animações, de diversos países. Fernando Galrito foi quem abriu a sessão, deixando transparecer uma amizade profunda com Raimund.

As curtas falavam sobre temas muito simples: duas personagens a preto e branco, presas por um fio vermelho, sob o que parecia ser uma folha de papel que, ao longo da curta, se vai transformando nas mais variadas coisas: um poço, uma janela, um espelho, a porta para outro mundo, um pedaço de cartão para uma personagem se esconder da outra. Agilmente, utiliza uma trilha sonora assente nos mesmos princípios que a arte visual: escassa em melodias, como é em cores, e abundante em ritmos como é em movimentos. O minimalismo na arte de Raimund é o que mais toca o espectador. 

No final, houve uma sessão de Q&A, onde Raimund respondeu às perguntas do público. Quando interrogado sobre as comissões que produz para empresas como Hilton Hotels, Atlantic Bank e Levis Jeans, afirma que vê este tipo de trabalho de uma forma positiva, afirmando até que o seu trabalho ideal é quando lhe é dado uma frase e ele pode ser criativo com ela da forma que assim desejar. Continuando no tópico do seu método de criação artística, diz que possui uma ideia de uma cena, acompanhada da situação espacial, mas que só a desenvolve pelo processo de desenhar. “Trabalho produz trabalho”. 

À pergunta de porque é que parecia que todas as suas curtas ali mostradas eram tão simples, alegres e movimentadas, Raimund hesitou durante um segundo, revelando que há algo de muito mais complexo na sua arte. “Na verdade, todas as curtas são a expressão de sentimentos profundos que tenho. A primeira curta, do fio vermelho, é a forma como encaro a relação com o meu pai.” Um começo promissor para a MONSTRA.

Retrospetiva BORDO

Borivoj Dovniković, ou abreviadamente Bordo, é um artista croata que faleceu no ano passado, bastante influente na sua área. A sessão contou com uma especialista, vinda diretamente da Croácia, que apresentou todo o historial de Bordo, referindo que este participou no primeiro filme de animação croata de sempre, tendo continuado a sua arte até ao final da sua vida.

Todas as curtas apresentadas foram bastante minimalistas e deixaram revelar um humor que faria lembrar o Soldado Švejk. De destacar a curta “The Flower Lovers” que trata de um vendedor de flores que consegue arranjar uma fórmula química para fazer com que as flores rebentem na cara das pessoas quando as cheiram, tornando-se instantaneamente  um sucesso enorme na cidade onde a ação se passa. É uma curta que põe em evidência o tipo de humor muito próprio de Bordo.

Masterclasses

A MONSTRA traz-nos mais de uma dezena de Masterclasses, práticas e teóricas, portuguesas e internacionais e todas trouxeram algo de novo. Tendo tido lugar em escolas, no Cinema de São Jorge, no Museu do Oriente, Cinemateca, e outros sítios espalhados por Lisboa, tiveram, no geral,  uma grande participação por parte de variados públicos. De todas as masterclasses, o Diferencial destaca as seguintes:

Ilan Nguyen – Um Breve Panorama da História da Animação no Japão

Ilan Nguyen deu, em duas horas, um panorama geral da história pré-animação japonesa até meados do século XX. A grande diferença que marca ainda hoje a animação japonesa foi o facto de os primeiros mestres da animação no Japão terem aprendido apenas vendo filmes estrangeiros, nunca tendo tido a possibilidade de contactar diretamente com as pessoas que os fizeram. De uma maneira bastante segura, Ilan Nguyen, francês a viver há já cerca de 20 anos no Japão, não só falou e explicou a evolução da animação japonesa, como apresentou várias curtas primordiais, indicando várias fontes que podem ser consultadas ainda hoje. Destaca-se o Arquivo Nacional de Animação Japonesa, disponível online em https://animation.filmarchives.jp/en/index.html.

Joanna Quinn & Les Mills – Os Segredos da Animação de Joanna Quinn & Les Mills

Joanna Quinn & Les Mills demonstraram logo desde o início que já se conhecem há muitos anos e que a sua ética de trabalho e relação de amizade se complementam bastante bem através das várias tiradas que mandaram um ao outro ao longo da masterclass. Ao longo da sessão, ambos tiveram o cuidado de mostrar não só as coisas que ao público interessavam, mas também à turma de artes e cinema que se encontrava presente, dando ênfase a vários pontos da sua carreira, de como começaram e das dificuldades que ultrapassaram. Ambas pessoas muito humildes e contando sempre histórias de como ajudaram novos estudantes a entrar no mundo da animação. No final, Joanna Quinn desenhou ao vivo e mostrou ela própria como animava as cenas.

Cátia Peres – Os Mundos Libertos de Hayao Miyazaki

Nesta Masterclass, a convidada da MONSTRA Cátia Peres, velha amiga e conhecida do Festival, fala-nos do tópico da sua tese de doutoramento, a obra de Hayao Miyazaki. Como grande entusiasta da animação japonesa, admira a exploração de mundos interiores que a animação lhe traz, lado mais presente neste género de cinema. Utiliza citações de Eisenstein, conhecido pelas suas teorias na área da sétima arte, e demonstra-nos a forma inovadora pela qual observa a arte de Miyazaki. Abordando o contexto histórico e cronológico da animação japonesa e o posicionamento de Miyazaki nela, contrasta os temas abordados por este com aqueles abordados pelo resto do mundo na mesma altura. Após o ambiente ter sido estabelecido, aprofunda nos aspetos inigualáveis em que o objeto de interesse desta Masterclass se destaca, mencionando o seu estilo simples de animação, o seu método e o processo. Salienta, ainda, os temas progressistas em que este animador se focava, tais como a sustentabilidade, igualdade de género e pacifismo.

Martin Smatana – Reciclando roupas antigas para animação

Martin Smatana fala-nos da sua experiência pessoal a inovar o género de animação stop motion e do que criou ao longo dos seus anos de experiência. Este artista foca-se no uso de roupas e tecidos velhos para criar animações e estes são, até hoje, os seus materiais preferidos para criação artística. 

Explica detalhadamente o processo de produção da sua curta-metragem intitulada “The Kite”, envolvendo quem estava presente na Masterclass nos detalhes complexos que estão diretamente associados ao cinema stop motion. Nesta curta-metragem, utiliza o seu meio de criação como vantagem para fazer uma história credível e visualmente apelativa. Martin surpreende os participantes, trazendo as personagens que aparecem em “The Kite” e os materiais que utiliza ao aplicar o seu método para o público tocar e analisar, algo único dado a raridade da sua especialidade.

Após a curta-metragem, Martin decide assumir projetos de menor grau e dificuldade, um deles uma série de livros com histórias felizes, utilizadas para contrastar o mar de más notícias a que fomos expostos durante o auge da pandemia. Neste livro, intitulado “A Year of Good News”, adiciona, a cada história, uma ilustração hábil e bem-humorada a partir de tecidos. Ao finalizar esta formação, aborda a sua recente descoberta de trabalhar com tecidos e texturas utilizando software: será algo que irá complementar a sua atividade artística atual, mas nunca a substituirá por completo.

Competição de Longas

Esta competição ocorreu durante as últimas sessões de cada dia, contando com a sala principal do São Jorge quase sempre cheia. Na maior parte destas, contou com a presença dos respetivos realizadores revelando a extensão de trabalho por trás de cada obra.

Os Demónios do Meu Avô

Este filme, um dos que contou com a presença do próprio realizador (Nuno Beato), demorou cerca de 7 anos a ser feito. 

Ainda antes de o filme começar, ouviu-se do fundo do São Jorge alguém a tocar, numa gaita de foles, uma parte da banda sonora que ainda estava por ouvir. 

Foi uma longa que conjugou vários tipos de animação, desde o 2D ao stop-motion. As transições entre estes diferentes tipos foram feitas de uma maneira fluida e, no meio disto, contou-se a história de uma neta que vivia na cidade e que foi tentar resolver os demónios do seu avô, na aldeia. A diversidade desta longa deixou uma marca nos espectadores difícil de apagar.

Nayola

Nayola é um filme sobre o trauma geracional que a ida do namorado da personagem principal para a guerra civil angolana provocou em três mulheres: avó, mãe e filha. Este filme, inspirado na peça “A Caixa Preta” de Mia Couto e Eduardo Agualusa, foi adaptado para filme pelo argumentista Virgílio Almeida. O filme demorou quase uma década a ser feito, tendo quatro desses anos sido dedicados a uma aprofundada pesquisa sobre todos os factos relacionados com a história e realidade angolana retratadas . Numa parceria com o programa Anima CPLP, o público teve a oportunidade de um inédito concerto da rapper angolana Medusa (que dá voz à personagem principal Yara) e do músico brasileiro GDM que incluiu freestyle e músicas do repertório pessoal de cada um dos dois artistas.

Interdito a Cães e Italianos

Sessão proporcionada em conjunto com a Festa de Cinema Italiano, Alain Ughetto, diretor do filme, esteve presente contando um pouco da sua visão sobre o filme. Porém, não veio sozinho, fazendo-se acompanhado de dois dos protagonistas do filme, com os quais o público depois pôde tirar fotos no final. A longa-metragem concentra-se na história da família do próprio realizador, uma família bastante humilde proveniente da parte italiana dos Alpes, que percorre a cadeia montanhosa em direção a França à procura de uma vida melhor. Ao longo do filme, percebe-se também que toda a história está a ser narrada através de uma conversa com o realizador, como ser humano, a comunicar com a sua avó, animada através de stop-motion. Um filme simples mas que revoluciona como uma história pode ser contada.

O grande prémio MONSTRA, patrocinado pela RTP2, foi para “Guerras de Unicórnios” [Unicorn Wars] de Alberto Vázquez, a melhor banda sonora foi para José Miguel Ribeiro, com “Nayola”, tendo este contado também com o prémio do público. “Os Demónios do Meu Avô” ganhou o prémio especial do Júri e, por último, houve uma menção honrosa para “Perlimps” de Alê Abreu.

Competição de Curtas

Na presente edição da MONSTRA, reuniram-se trinta e cinco curtas-metragens de animação, sete curtas por sessão, todas com uma duração de aproximadamente 70 minutos. Com o objetivo de celebrar a nível mundial o campo da arte cinematográfica de animação, esta secção do festival apresenta uma seleção diversa de temas e técnicas, demonstrando os diferentes contextos da sua produção, quer na sua origem geográfica ou no orçamento limitado dos novos talentos emergentes. Foi dada especial atenção aos recentes trabalhos de origem portuguesa como “O Casaco Rosa”  da realizadora de animação Mónica Santos, “Garrano” de Vasco Sá e David Doutel e “Ice Merchants” por João Gonzalez, primeiro filme português nomeado para o prémio de  Melhor Curta-Metragem de Animação nos Óscares de 2023. Por último, “Alento”, de Leonor Pacheco, cujo conceito é, talvez, mais virado para a secção de “Animação Experimental”. 

“Apartamento de Cão” [Dog-Apartment], de Priit Tender, foi o grande vencedor desta competição. Os prémios de melhor curta portuguesa e do público foram para “Ice Merchants” de João Gonzalez e o prémio especial do Júri foi para “Carta para um Porco” [Letter to a Pig] de Tal Kantor.

Competição de Estudantes

Uma das competições principais do festival, com sessões ao longo de 5 dias, a competição de estudantes teve palco na sala principal do Cinema São Jorge. Contou com a presença de alguns dos realizadores das curtas selecionadas que, sem tempo para sessão de perguntas devido à programação densa do festival, puderam dar uma pequena introdução antes das respetivas sessões. O júri desta categoria foi acompanhado por um júri junior composto por alunos da área audiovisual com menos de 20 anos.

A seleção apresenta curtas de várias origens, incluindo 4 portuguesas, havendo um prémio separado para a melhor curta portuguesa de estudantes. Nesta coleção encontramos todo o tipo de animação e narrativa, mostrando a diversidade dos animadores iniciantes. Têm os traços de alguém que dá os primeiros passos nesta área, experimentando narrativas ou falta delas, cores, texturas e meios, muitas vezes sob forma de mistura. Existe também uma amplitude no tamanho das equipas e a dimensão dos projetos. 

As curtas transpiram a influência dos meios académicos onde se inserem, em estilo ou na tentativa de o quebrar, com uma voz mais incerta do que a competição de curtas mas com uma maior liberdade para experimentar.

Esta competição contou também com um voto do público, que premiou a mesma curta escolhida pelo júri sénior “Com amor, Pai” [Love, Dad] de Diana Cam Van Nguyen.

Competição de Curtíssimas

A competição de curtíssimas contou apenas com uma sessão, com sala esgotada e a presença de alguns dos realizadores. As curtíssimas, por definição do regulamento, não tinham mais de dois minutos, criando uma sessão de ritmo rápido e diverso. São, na grande maioria, bastante experimentais, dando a possibilidade de explorar cada conceito num tempo inferior ao que demoramos a sair da sala no fim da sessão. Ao todo, foram 38 curtíssimas, acabando por ser uma sessão muito diferente das restantes. 

O prémio de melhor curtíssima foi para “M2”, de Ana Matin, Bela Tagliabue e Paola Bellato, sendo “Era Uma Vez Uma Nêspera”, de Leonor Silva, a premiada como melhor curtíssima portuguesa. Houve ainda uma menção honrosa para “PLSTC” de Laen Sanches.

Prémio SPA/Vasco Granja

Esta foi a competição portuguesa da MONSTRA, tendo contado com quase todos os realizadores das curtas apresentadas, chamados ao palco para falar um pouco do que cada curta iria contar. Nas palavras de João Gonzalez, “foi uma noite para celebrar o cinema português”, um acontecimento que não é assim tão comum, mencionou um pouco melancólico. A competição apresentou uma variedade enorme, não só em termos de histórias como em termos de animação, sendo o ambiente na sala de grande entusiasmo pelos trabalhos apresentados. O vencedor desta competição foi João Gonzalez, com “Ice Merchants”, com menção honrosa para “Anna Morphose” de João Rodrigues.

Panorama de Animação Abstrata Japonesa

Sessão única de “Animação Experimental” da MONSTRA, esta teve a curadoria do festival Punto y Raya, cuja edição de 2023 será em Portugal.

O programa composto por curtas puramente abstratas, produzidas no Japão entre 2007 e 2021, explora a colaboração entre a experiência visual e sonora sem um guia narrativo. Entre os vários projetos abstratos, destaca-se “TaMura MuraTa” de Hattori Katsuyuki em que o ruído branco (e cruel) é acompanhada por imagens de um monitor disfuncional, “Forest and Trees” pelo realizador de animação Onishi Keita onde o conceito de divisão e multiplicação é explorado através de instrumentos sonoros, e a última exibição da sessão, “Dreamland” de Mirai Mizue, que trouxe a audiência para um mundo elaborado por formas e símbolos em movimentos unidos pela cor e música revigorante.

Anima CPLP

É a primeira vez que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a MONSTRA colaboram, sendo a Anima CPLP um espaço de partilha de animação produzida nesses países. Contou com uma maioria do Brasil, mas teve a representação de 6 dos 8 membros, sendo um objetivo futuro que todos estejam representados. Para além disso, apresentou-se também a proposta de levar a Anima CPLP aos outros países, de modo a aumentar a interação dentro da comunidade. Contando com algumas curtas mais experimentais e ainda com espaço para crescer, foi uma maneira de descobrir outras perspetivas menos comuns nos ecrãs portugueses. 

Sessões na Cinemateca dedicadas ao País Convidado – Japão

Sobre as sessões ligadas ao País convidado, o Japão, a MONSTRA traz-nos retrospetivas, sessões com filmes clássicos da Animação Japonesa, dando algum contexto da sua humilde origem e crescimento futuro. Nestas sessões, aprendemos sobre técnicas e temas mais comuns nesses anos iniciais. 

Exemplificando, foram projetadas três das várias curtas-metragens do animador Noburo Ofuji, inventor e desenvolvedor da técnica de celofane, que lhe valeu múltiplos convites a festivais de cinema e reconhecimento internacional. Esta técnica, motivada pelo baixo custo do material e aproveitando o entusiasmo do recente cinema a cores, consiste em utilizar um papel colorido chamado chiyogami para fazer silhuetas de personagens e do fundo. 

Outro exemplo é o trabalho do casal Kinoshita, que utiliza a animação como um meio para contar a história do seu país e seus eventos impactantes, tal como o bombardeamento de Hiroshima. Além disso, criticam de forma cómica a sociedade pós-guerra, o crescente consumismo e a consequente alienação do homem através de curtas-metragens como Made in Japan (1972) e Made in Okinawa (2004), projetadas na cinemateca durante a sessão da Retrospetiva dedicada a este casal.

Também na Cinemateca a República Checa teve destaque na secção de Históricos. Com sala cheia, Alice (1988) levou-nos numa viagem subvertida do clássico conto, em que enredo é formado conforme a imaginação e perspetiva da pequena protagonista.

Favoritos da Equipa Diferencial

  • “Suzie no Jardim” e “Beware: Trains” (Haohua Dong)
  • “Raimund Krumme: The Message” e “Pitter Tomadze: Little Dust” (João Dinis Álvares)
  • “Os Demónios do Meu Avô” (Margarida Bezerra)
  • “Matapacos” e “O Casaco Rosa” (Margarida Pereira)
  • “O Casaco Rosa” (Patrícia Marques)

Cerimónia de Encerramento

Tal como nas sessões anteriores, a cerimónia de encerramento continua com a energia emocionante do festival, não deixando o público alguma vez sentir-se em controlo sempre que Fernando Galrito toma o microfone. Durante estas duas horas, repletas de prémios e júris diversos, tivemos a presença e discursos dos múltiplos vencedores, tendo sido acompanhadas pela visualização de duas curtas-metragens: uma mais cómica, “The Battle of Swan Lake”, e a grande vencedora da noite, “Ice Merchants”. 

Pelos momentos inesquecíveis que experienciamos na MONSTRA, mal podemos esperar pelas surpresas que a próxima edição nos irá trazer. O festival termina com o anúncio da próxima edição MONSTRA, de 7 a 17 de março em 2024 com o país convidado Irlanda. Vemo-nos lá!

Para os mais curiosos, deixamos aqui também as exposições do festival MONSTRA 2023.

Museu das Marionetas

Marionetas que Guardam o Tempo

24 de fevereiro até 23 de abril

Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema

Centenário do Cinema de Animação Português

15 de março até 9 de junho

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