Autoria: Francisco Ferreira (LEIC-T) e Miguel Laurito (LEE)
Sentámo-nos com Duarte Cattoni, 21 anos, aluno de LEAer e atleta de Tiro Com Arco a representar o Sporting Clube de Portugal. Em seu nome, já tem 3 Campeonatos de Sala Júnior, 2 Campeonatos de Outdoor Júnior, 3 Campeonatos de Sala Cadete e 2 campeonatos de Outdoor Cadete. Agora a disputar, pela primeira vez, a categoria Sénior, tentámos saber a sua opinião sobre formas de incentivar a participação no Desporto Universitário.
Duarte Cattoni (DC): No ano passado, houve, pela primeira vez, o Campeonato Universitário Indoor, organizado pela Universidade Nova de Lisboa. Para anunciá-lo, foi apenas feita uma publicação na página de desporto da AEIST: devia ter sido feito mais para a comunidade estudantil estar a par do que acontece. Conheço casos de atletas que competem a nível nacional e que não estão cientes da existência de um Campeonato universitário.
DIFERENCIAL: Achas que essa falta de conhecimento pode estar ligada à baixa adesão de atletas ao desporto universitário?
DC: Sim, claro – isso, e falta de tempo e vontade. Mas diria que a pouca divulgação é mesmo a causa principal. Pessoalmente, apesar de representar o Sporting, se houvesse mais oportunidades de representar a AEIST em próximos eventos, estaria mais do que aberto [para tal]. Existem incentivos monetários por parte das faculdades para os vencedores das competições, seria bom que este apoio fosse estendido para os atletas que conseguem lugares nos pódios. Os Campeonatos Europeus também seriam uma boa forma de aumentar a participação e o envolvimento dos atletas.
DIFERENCIAL: E que condições tens para treinar no Sporting? Variaram muito quando treinaste para representar a AEIST?
DC: Para Indoor, no Sporting temos uma sala com bastidores e alvos, suficiente para treinar. Já no outdoor, como o Sporting não tem campo próprio, treinamos no Jamor. Também podemos usar a conhecida “Fossa de Alvalade”, mas como esta só tem 30 metros e as competições são a uma distância de 70, preferimos usar o Jamor. Para treinar para o CNU Outdoor, que teve lugar em junho no Jamor, não houve treinos extra, foram adaptados treinos do Sporting. No torneio em si, emprestaram-me uma camisola da AEIST que devolvi dias depois. Fiquei surpreendido pelo nível da competição porque não havia limites de idade; por exemplo, um dos participantes era um aluno de Mestrado/Doutoramento notoriamente mais velho.
Em relação aos estatutos, revelou-nos que apenas usufruiu dos mesmos uma vez, para fazer um exame de Época Especial: “É o único bónus real que temos. De resto, não temos nenhuma ajuda extraordinária”, explica. Também explicou que quando tinha o estatuto de Atleta de Alta Competição, tentou enviar mail à Área de Graduação para ter prioridade de horário, mas disseram-lhe que não tinha. Também desabafou que conciliar entre a vida de atleta e académica está totalmente ao cargo dos estudantes.
Esta entrevista precisa, infelizmente, de um fact check…
Não foi a primeira prova universitária organizada da modalidade, visto haver registo no portal da FADU que vem desde 2016/2017 (com uma pausa devido ao COVID).
Não foi realizado nenhuma competição Indoor em 2022/2023, apenas Outdoor, essa sim organizada pela NOVA.
Não existem campeonatos europeus universitários de Tiro com Arco. Existem campeonatos mundiais universitários da modalidade, mas cabe às federações associadas (FADU e FPTA) a confirmação de participação e posterior nomeação de atletas a representar Portugal.
Acreditando que o Duarte desconhecia destas 3 afirmações, o que é perfeitamente razoável, o próprio jornalista devia conferir e corrigir, para não induzir o leitor em erro, as afirmações realizadas. A própria entrevista também é conduzida com duas questões que, para um leitor não familiarizado com o Desporto Universitário, podem induzi-lo em erro, nomeadamente:
Associar uma suposta fraca divulgação à “baixa adesão” ao Desporto Universitário (deduzo que como um todo, pelo menos assim se entende da forma que foi redigida). Relativamente à modalidade, segundo notícias de 2023, o Tiro com Arco contava com 500 a 700 atletas federados em Portugal. Participarem 25 estudantes no CNU desse mesmo ano é, por si só, um número percentualmente maior do que o verificado noutras modalidades.
Não sendo a melhor pessoa para julgar em números absolutos a participação em competições do Desporto Universitário como um todo, em termos relativos acho que o IST está bem melhor do que 99% das outras AAEE’s/IES, segundo números publicitados no final do ano letivo transato. Posto isto, não acreditando que exista, para este caso em específico, uma relação entre “pouca divulgação” e “fraca adesão”, existe sempre espaço para melhoria às formas já decorrentes, deixando desde já a sugestão da AEIST trabalhar em conjunto com o IST numa divulgação por e-mail das competições, que é sempre uma forma mais ‘garantida’ de contacto com os estudantes.
Por último, questionar um atleta que pratica uma modalidade com baixa adesão a nível federado se treina pela AEIST revela um profundo desconhecimento de como funciona o mundo do desporto universitário e, neste caso, a própria modalidade. E, como se por magia, o Duarte Cattoni ainda fala sobre estatutos sem ter sido questionado sobre isso (ou pelo menos, a redação não documentou essa parte!)….
Não sou um leitor muito assíduo do Diferencial mas considero-o uma iniciativa importante para os estudantes do IST, pelo que pedia um maior cuidado na forma como uma notícia é conduzida e posteriormente divulgada, para não induzir em erro leitores que desconhecem o tema em questão.