PISA 2022: Análise à queda do ensino pela Europa

Autoria: Alexandre Ferreira (MECD), André Santos (MEEC), João Pedro Matta (LEMec), José Santos Corte (LEIC), Tiago Fernandes (MEEC), Vasco Carvalho (MEAer)

Resultados obtidos no PISA 2022 (Programa Internacional para Avaliação dos Alunos) revelam a deterioração do ensino não só em Portugal, mas também nos restantes países da Europa. Uma análise cuidada dos resultados mostra que, para além da pandemia COVID-19, existem outros fatores, de cariz socioeconómico, que também apresentam uma influência significativa.

O Programa Internacional para Avaliação dos Alunos (PISA) é um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), realizado com alunos de 15 anos e tem como objetivo avaliar conhecimentos de Matemática, Leitura e Ciências. Este tem em conta o patamar social e outros fatores externos que podem afetar o desempenho escolar. Foram 690 mil os estudantes avaliados pelo PISA 2022, que representam 29 milhões de estudantes de 81 países participantes. Especificamente em Portugal participaram 6 793 alunos de 224 escolas, uma amostra dos cerca de 96 600 alunos de 15 anos no país. A escala do PISA varia entre 0 e 1000 pontos, e organiza-se em níveis de proficiência.

Para a realização deste artigo, foram analisados seis países: para além de Portugal, foram estudados os resultados de Espanha, Itália, Alemanha, França e Finlândia. Esta seleção permite comparar resultados de países por toda a Europa, com sistemas de ensino e culturas vastamente diferentes.

Os resultados obtidos pelos alunos portugueses desceram consideravelmente, tal como nos restantes países da Europa. Apesar desta queda, os valores obtidos mantêm-se iguais à média da OCDE. A média obtida pelos alunos portugueses foi de 472 pontos em Matemática, 477 pontos em Leitura e 484 pontos em Ciências. 

A Finlândia é o único país analisado que não apresenta resultados próximos da média da OCDE. Apesar de também se verificar uma queda em relação aos resultados obtidos em 2018, estes continuam a ser mais elevados, sendo de 484 pontos em Matemática, 490 pontos em Leitura e 511 pontos em Ciências.

Resultados dos alunos portugueses. Fonte: OCDE, PISA 2022 Database, Tabelas I.B1.5.4, I.B1.5.5, I.B1.5.6 [1]

O índice de estatuto económico, social e cultural do PISA permite dividir os alunos em quatro grupos de igual tamanho, ficando deste modo ordenados de acordo com o seu nível socioeconómico. Em todos os países estudados, os resultados obtidos pelo grupo pertencente ao escalão mais elevado foram, a Matemática, superiores aos obtidos pelo grupo pertencente ao escalão mais baixo. Para Portugal, esta diferença foi de 101 pontos, valor mais alto do que o observado nos restantes países e do que a média da OCDE. A partir destes valores, é possível concluir que o estatuto socioeconómico se apresenta como um forte preditor do desempenho em Matemática. É de referir também que o ensino privado em Portugal supera o público em apenas 8 pontos a matemática, não sendo um fator decisivo. Singapura, o primeiro classificado no ranking do PISA, apresenta um número de alunos nos escalões inferiores muito baixo; como tal, a influência destes alunos, cujos resultados tendem a ser inferiores, é reduzida, podendo explicar deste modo os resultados elevados.

Ao longo dos últimos dez anos, o número de estudantes imigrantes aumentou em todos os países estudados. Em Portugal, 11% dos alunos avaliados pelo PISA são imigrantes, enquanto que, na Finlândia, esta percentagem é de apenas 7% e na Alemanha atinge os 26%, um dos valores mais elevados entre todos os países da OCDE. É também de notar que estes alunos tendem a apresentar um estatuto socioeconómico mais baixo do que os não imigrantes. Em todos os países analisados, quer a Matemática, quer a Leitura, observa-se uma diferença de pelo menos 30 pontos a favor dos alunos não-imigrantes. A única exceção a esta regra é Portugal, onde a diferença relativa a Leitura é de apenas 22 pontos. Para alunos dentro do mesmo escalão socioeconómico, esta diferença desce consideravelmente em todos os países, sendo completamente nula em Itália. Este facto indica que, apesar de existir uma diferença considerável nos resultados entre imigrantes e não-imigrantes, esta está relacionada, maioritariamente, com outros fatores, como o escalão socioeconómico.

Os sentimentos de segurança e de pertença dos alunos também se apresentam como fatores que influenciam veemente os resultados obtidos no PISA. Em média, 82% dos alunos portugueses sentem que pertencem ao seu ambiente escolar e estão satisfeitos com a sua vida. Este valor é significativamente mais alto do que a média da OCDE (75%), e mais elevado do que o observado em 2018 (80%). É de notar que todos os países analisados apresentam resultados inferiores aos obtidos pelas nações ibéricas, sendo que em Espanha se verifica o valor mais elevado com 86%. Itália, em contraste, exibe resultados muito baixos, com apenas 64%, valor inferior aos 66% verificados em 2018. Os restantes países encontram-se próximos da média da OCDE, sendo que apenas nos resultados Finlandeses se verifica uma evolução significativa, de 75% para 79%.

Na generalidade dos países analisados neste artigo, a discrepância mais evidente nos resultados surge entre 2018 e 2022, sendo a base desta queda a pandemia COVID-19. Na Alemanha e em Itália, a percentagem de alunos que viram impossibilitado o acesso ao edifício escolar durante pelo menos 3 meses (71% e 61%, respetivamente) supera os valores médios da OCDE (51%). Por outro lado, a Finlândia regista o valor mais baixo entre os países analisados, 31%, seguida da França (36%), Portugal (42%) e, finalmente, Espanha (46%). O país escandinavo diferencia-se na área do ensino durante períodos de  normalidade, como também durante um evento pandémico pela sua rápida resposta e adaptabilidade [3].

Dos países analisados, a Finlândia apresenta-se tendo o sistema de ensino mais distinto, em especial no que toca à forma de avaliação. Enquanto que os restantes países utilizam avaliações padrão, iguais para todos os alunos, no país escandinavo, cada aluno tem direito a uma avaliação personalizada e orientada para os seus objetivos. Deste modo, é possível direcionar a mente dos estudantes desde cedo e impulsionar a sua capacidade nas suas áreas de referência, sendo que fica a cargo de cada professor a criação de sistemas de avaliação individualizados [2]. Esta abordagem tem como objetivo reduzir a ânsia pela excelência sentida pelos alunos, e priorizar a saúde mental e igualdade de oportunidade. Na Alemanha, foi tentada uma alteração diferente: a extensão do dia escolar no Gymnasium – nível mais alto da secundária alemã. Ao contrário do que se observa na Finlândia, esta alteração aparenta não ter tido qualquer efeito quer nas notas, quer no bem estar dos alunos. É de notar que esta não correspondência é confirmada em outros países que também aumentaram a carga horária, sugerindo que esta possa não ser a melhor abordagem face às necessidades do ensino moderno.

Conforme a análise cuidada acima, os resultados obtidos pelos alunos, no contexto geral, são influenciados fortemente por um conjunto de fatores minuciosamente estudados pelo programa PISA. É com alguma preocupação que se verifica o decréscimo das capacidades cognitivas dos alunos portugueses nas 3 áreas de abrangência aqui estudadas, ainda que a maioria se mantenha na média da OCDE ou acima desta. Os resultados obtidos pelo PISA, bem como por outras análises ou estudos,  podem ser utilizados para a tomada de decisões informadas e com pensamento futurista, deixando para trás métodos de ensino que podem ser considerados inapropriados para os alunos de hoje. 

Referências:

[1] PISA 2022 Database (Acedido em 20/04/2024)

[2] World Economic Forum – 10 reasons why Finland’s education system is the best in the world (Acedido em 21/04/2024)

[3] Finland: A role model in dealing with the coronavirus? (Acedido em 30/04/2024)

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