Autoria: Sara Rijo (LEIC-A)
A ideia de um metro de Lisboa foi proposta, pela primeira vez, em 1888, tendo sido apenas criado em 1948 e aberto ao público em 1959. Consistia apenas numa linha que englobava 11 estações. Atualmente, com 4 linhas e 56 estações, serve cerca de 470 mil pessoas por dia, mas, comparado com sistemas de áreas metropolitanas da mesma dimensão, como Toulouse, os problemas são bem mais evidentes.
O tempo de espera de 4 a 5 minutos em horas de ponta do metro de Lisboa contrastam com o 1 minuto e 20 segundos de frequência do metro de Toulouse, que, embora mais moderno, serve uma área cerca de 1.5 vezes menor.
Talvez não seja justo comparar o metro lisboeta com sistemas metropolitanos com metade da idade deste, mas será que isto justifica outros problemas como a sua alarmante falta de acessibilidade?
Dia 26 de setembro, terça-feira, rumamos ao metro de Saldanha, uma das principais estações usadas pelos estudantes do Instituto Superior Técnico para acesso à faculdade. Entrando pelo Arco do Cego, notam-se as evidentes caras de esforço de um grupo de pessoas a subirem as escadas visto que estão, não uma, mas duas das escadas rolantes avariadas. Já não é a primeira vez que isto acontece. Há quem já não se lembre do tempo em que as 4 escadas rolantes funcionavam ao mesmo tempo. É de notar que ainda não existe qualquer outra opção de acessibilidade ao exterior nesta saída, como um elevador. O que faria um idoso? Um viajante com uma mala pesada? E uma pessoa de mobilidade reduzida? Teriam apenas a opção de usar um elevador de uma outra saída, tendo de atravessar a Linha Vermelha até encontrar os elevadores que sobem até às saídas da Avenida da República e, finalmente, deslocar-se até ao Arco do Cego pelo exterior.
São 15h05 e iniciamos a procura por um trabalhador do metro. No balcão de atendimento não se encontra ninguém. São 15h38, 33 minutos passaram e depois de percorridas as 2 linhas do Saldanha não encontramos qualquer trabalhador, estando também vazios os balcões existentes nas próprias linhas e nas saídas da Avenida da República. Encontra-se mais uma escada rolante avariada, mas, neste lado da estação, os elevadores estão funcionais.
Rumo à estação da Alameda, outra opção popular para o acesso ao Técnico. Logo após a saída da linha vermelha, em direção à linha verde, encontramos a mesma situação: um grupo de pessoas faz fila para subir as escadas, uma vez que as escadas rolantes também não se encontram em funcionamento. Existem elevadores funcionais, mas, havendo apenas 2 neste local, se a maioria, ou mesmo mais de 1 ⁄ 3 das pessoas escolhessem este método para se deslocarem, estes teriam de realizar inúmeras viagens.
São 15h55 e até agora recusaram-se à entrevista 2 grupos de polícias, um segurança do metro e até um trabalhador da limpeza. 50 minutos depois do início da procura por um funcionário do metro, finalmente alguém aceita falar sobre o que se passa: uma vendedora de uma banca de açaí.
“Os elevadores e as escadas avariam pelo menos uma vez por dia.” – testemunha a vendedora – “E, às vezes, há pessoas, idosos, pessoas com deficiências visuais e turistas, perdidos por aí. Houve uma vez que tive de encerrar a banca para ir ajudar um senhor que estava há 20 minutos confuso e perdido sem que ninguém o ajudasse.”
Após este testemunho, tentamos a sorte com um trabalhador do metro que preferiu manter-se anónimo, com medo das represálias que poderia sofrer. Este afirma que quer dar a sua opinião e ajudar a mudar as condições do metro.
“Isso é um caso crítico.” – diz o trabalhador, referindo-se ao estado dos elevadores e escadas rolantes dos metros lisboetas – “Estão a substituir atualmente as escadas rolantes e elevadores da Baixa-Chiado mas as estações mais antigas nem sequer têm nada e uma pessoa de cadeira de rodas nem sequer consegue sair de lá.”
De facto, se acedermos ao website do metro, encontramos uma aba com o diagrama das estações com acessibilidade e as diferenças com o mapa original são extremamente notáveis. Das 56 estações ativas atualmente, reduzem-se para 43 as totalmente acessíveis (quando funcionais). É de salientar que várias estações com grande movimentação, tais como o Campo Grande, não estão incluídas nesta lista de estações acessíveis.
“Às vezes, são as próprias pessoas que desligam (as escadas rolantes), sabes?” – continua, acendendo um cigarro – “Aqui, na Alameda, na parte da Linha Verde, o nosso elevador do exterior: esse vai ser substituído. Está previsto que até ao final deste ano esta estação tenha os elevadores todos novos. Mas já estou a dizer mais do que devia, se eles descobrem que sou eu…”
Após esta pequena entrevista, afirma que terá de voltar ao trabalho rapidamente, visto ser fim do mês e haver pessoas a necessitar de assistência.
Com isto, ficamos com a promessa de melhoria, mas ainda persistem algumas dúvidas: porque é que as escadas rolantes avariam com tanta frequência, e porque não investir em técnicos próprios em vez de recorrer a outsourcing a empresas externas? Além disso, questiona-se a razão pela qual, em locais igualmente movimentados como aeroportos e centros comerciais, raramente se detetam avarias nestes equipamentos que se prolonguem por muito tempo.
Agradecendo a entrevista e garantindo o anonimato, verificamos as horas: 1h30 minutos desde o começo da nossa viagem no metro Saldanha.
1h30 para percebermos que, talvez, após 63 anos do metro de Lisboa, este ainda deixa muito a desejar para proporcionar uma melhoria de condições quer a residentes, estudantes e trabalhadores da cidade de Lisboa.