Entrevista a Beatriz Isidro, membro do Conselho Pedagógico

Nos últimos dias, a comunidade estudantil do IST tem expressado um descontentamento profundo com o comunicado do professor Rogério Colaço, bem como com a dificuldade de adaptação de alguns professores ao regime não presencial de avaliações. Tive a oportunidade de falar com alguns membros do Conselho Pedagógico, para perceber qual a posição deste órgão em relação ao comunicado e para saber qual o trabalho que têm desenvolvido para nos proteger destas situações.

Autoria: Carolina Bento, MEBiom (IST)

Fotografia: Débora Rodrigues

Com o início das avaliações on-line no IST, começaram também as denúncias de fraude, as queixas de professores intransigentes e os constantes problemas de ligação à internet. As primeiras tomaram proporções incontornáveis que levaram a um grande descontentamento por parte da comunidade académica. 

No dia 29 deste mês, todos os alunos do IST receberam um e-mail do presidente Rogério Colaço onde as fraudes eram condenadas e a respetiva punição máxima apresentada. O e-mail foi criticado, não pelo seu conteúdo, mas pelo seu tom. No mesmo, fomos acusados de beneficiar desta situação trágica, mensagem que não foi bem recebida. No entanto, talvez a maioria dos estudantes não conheça os acontecimentos que levaram ao envio deste e-mail. 

No dia 12 de janeiro, cerca de 600 alunos realizaram o segundo teste de Gestão através de uma plataforma on-line, a ExonlineX. Uma fragilidade da plataforma foi explorada por um número muito significativo de alunos para obterem melhores classificações de forma moralmente questionável. Esta situação foi identificada pelo docente da cadeira e comunicada ao Conselho Pedagógico (CP). Na página da cadeira pode ler-se, como resposta a esta situação, “decidiu este mesmo órgão no sentido de ser anulada essa prova e reagendada uma prova substituta para todos os alunos”. 

Esta fraude não terá sido, obviamente, única. Todos nós conhecemos (ou em momentos de desespero, fomos) pessoas que já recorreram a material das aulas (e outro tipo de consulta) para realizar os exames on-line. De forma a entender esta decisão do CP, bem como procurar responder a várias questões dos alunos do IST, procurei falar com os membros estudantis deste órgão, nomeadamente com a Beatriz Isidro e a Inês Sá, cujo contributo foi importante para contextualizar o assunto. 

A Beatriz quis, em primeiro lugar, esclarecer uma das questões mais ouvidas no último mês. Em março do ano passado, o Técnico foi pioneiro na sua atuação. Antes do Governo decretar um confinamento obrigatório, antes da Reitoria tomar qualquer decisão, recebemos um e-mail que nos comunicava que a partir dessa quarta feira, dia 11, e durante quinze dias não iríamos ter aulas. Depois desta atuação exemplar no início da pandemia, qual foi a razão para que, com este número elevadíssimo de casos, não tivesse sido tomada agora a mesma atitude? A Beatriz explicou que, nessa altura, toda a situação era nova, pelo que não havia limitações à ação tomada por cada faculdade. Agora, “a tutela quis assegurar que todas as universidades andavam ao mesmo ritmo, limitando a margem de manobra de cada faculdade”. Explicou ainda que, para que qualquer decisão pudesse ser tomada, era necessário haver concordância por parte da tutela e da Reitoria. No entanto, a Beatriz diz ainda que devemos “estar orgulhosos, porque demos um murro na mesa e dissemos que não íamos adiar os exames”, ao contrário da maioria das faculdades da Universidade de Lisboa. A verdade é que muitos de nós aplaudimos este gesto e não terá sido fácil para a nossa instituição ir contra a vontade da Reitoria e das acusações de possíveis fraudes. Assim que se confirmou a realização das provas em formato não presencial, o CP enviou uma diretriz com as indicações para a realização das mesmas a todos os docentes.

No caso da cadeira de Gestão, a Beatriz afirma que muitos alunos se aproveitaram de uma fragilidade na plataforma. Apesar de vários órgãos terem tido intervenção na decisão, o CP deliberou que a avaliação não havia sido justa e que tinha sido comprometida. Como tal, a solução mais justa seria anular todas as provas e realizar um novo teste, numa data a definir entre o docente e os alunos. Acabei por questionar porque é que esta situação tinha acontecido, porque é que houve exames on-line que não foram devidamente executados. A Beatriz frisou que tanto o CP como o professor Rogério Colaço haviam desde o início do ano letivo transmitido a todos os docentes que tinham de se preparar para uma eventual avaliação on-line, especialmente porque em qualquer momento de avaliação havia a possibilidade de existirem alunos em isolamento profilático ou infetados. Foi também pedido aos professores que este método fosse facilmente escalável. Questionei, por isso, se não poderia ter havido uma maior pressão por parte do CP para que esta diretriz fosse seguida. A Beatriz respondeu que “Quando comunicamos uma diretriz, partimos do princípio que é cumprida”. Desta forma, frisou o importante papel que o feedback dos alunos e dos delegados tem, “espera-se que os alunos e os delegados avisem o CP, não podemos andar a bater de porta em porta” e ,aqui, o apelo é claro, “a atuação do CP está limitada à informação que nos chega, pelo que agradecemos os comentários, os avisos e as dúvidas que os alunos possam ter e que nos enviem, é para isso que o CP tem alunos. O CP de facto está cá e recebe e-mails e lê os e-mails”.

Finalmente, quando interrogada relativamente ao comunicado do professor Rogério, Beatriz clarificou que os alunos do CP não se revêem no mesmo e não tinham conhecimento do seu conteúdo. A Beatriz explicou, ainda, que “os alunos estiveram envolvidos no processo de adaptação da avaliação ao regime não presencial. Para o CP o que é importante é o valor e qualidade de ensino. Há alunos que copiam, sim, mas não todos e, nesse sentido, não nos revemos no comunicado”.

Pelo que a Beatriz e a Inês me transmitiram, os órgãos do Técnico estão sobre uma enorme carga de trabalho e também nos compete a nós ajudá-los a ajudarem-nos. Se tiveres queixas que sejam justificadas, não fiques a reclamar só para o ar, há pessoas no Técnico cuja função é ajudar-te. Podes contactar o Conselho Pedagógico através de: cp@tecnico.ulisboa.pt

Da parte do Diferencial, boa sorte para o resto da época de exames!

8 comentários

  1. É de notar que a “vulnerabilidade” na plataforma do exame era o facto das respostas das perguntas estarem acessiveis através do inspect element…
    Caso não tenham conhecimentos minimos de informatica, uma vulnerabilidade destas é simplesmente incopetencia por quem toma a decisão de a usar
    O Exonline é uma das ferramentas recomendadas pelo CP em https://sartre.tecnico.ulisboa.pt/metodologias-e-ferramentas/ferramentas/exonlinex-mooc-tecnico/ logo contribuiu para a decisão acima mencionada.

    É triste que tal vulnerabilidade tenha passado pela calada durante quase um ano em que o Sartre e as suas guidelines existem.
    Ainda para mais, é do meu conhecimento que a coordenação de Gestão vai repetir o exame na mesma plataforma.

    A minha pergunta é, se o exame foi anulado pois a plataforma e por consequinte, a prova “não havia sido justa e que tinha sido comprometida”, como pode o exonline ainda estar presente nas recomendações. E como pode a repetição acontecer na mesma plataforma? E se a primeira prova aconteceu no mesmo formato e plataforma do que a primeira, porquê que apenas se cancela a segunda?

    Nem de perto quero justificar as ações dos alunos que copiaram. E o anulamento da prova parece me o mais correto. Mas não lidar com a causa original demonstra uma cagatividade para a situação.

    • Coloco aqui a resposta da Beatriz Isidro do CP em relação ao comentário do Jonyleo:

      “Certo, pertinente. Essa advertência à plataforma existe no SaRTRE e os professores sabem dessa fragilidade e adaptam a plataforma para fortificar e não permitir o Inspect Element ou qualquer outro sistema.

      No primeiro teste, tal foi tido em conta, no segundo teste, essa particularidade não vincada uma vez que se pressupunha que os alunos fizessem o teste e não andassem à procura de fragilidades. Tal não se verificou, a confiança dos docentes nos alunos foi quebrada, foram tratados com alguma elasticidade e sem focar com unhas e dentes na fraude e em vez de se provarem dignos dessa confiança, grande parte dos alunos acabou por defraudar o teste. Daí ser a segunda a prova cancelada, e agora, mantendo a plataforma esta irá ser de tal modo fortificada de forma a não dar qualquer tipo de margem de manobra a atos como esses.

      Foi aconselhado pelo CP usar plataformas conhecidas/métodos tradicionais a quem não tenham tido bons resultados no semestre online. Isto é, enviar pdf por email e submissão no fénix, por exemplo. A escolha do docente, perante esta recomendação não pressupunha a atitude dos alunos uma vez que teve sucesso no primeiro teste e no semestre online do ano letivo passado.”

      Cumprimentos.

  2. Acho espantoso que a culpa de ter havido fraude numa avaliação seja dos professores, que “deveriam ter evitado” essa hipótese. Parece-me uma clara desculpabilização por parte dos alunos que cometeram fraude, e uma óbvia inversão da culpa

    • Não se trata disso, ninguém está a dizer que os alunos não têm culpa, mas era algo que era extremamente previsível e os professores ou são muito ingénuos ou não queria minimamente saber e agora apanham os alunos honestos por tabela devido à desonestidade de uns e à incompetência de outros. Uma boa analogia para explicar isto seria se por exemplo deixasses de propósito uma carteira com 100 euros no meio da rua, era óbvio que ela seria roubada e sendo que quem a roubou (se fosse apanhado) seria responsabilizado, tu também serias considerado idiota por ter deixado a carteira onde a deixaste, agora imagina que não só responsabilizavas quem roubou a carteira, mas toda a gente nas proximidades de onde ela estava e imaginas porque é que essas pessoas estão irritadas com o facto dos professores não terem “evitado essa hipótese”.

  3. É engraçado como claramente também houve fraude (descrepancia de notas entre a maioria do curso e de um grupo de alunos com 19) no primeiro teste mas como a media rondava os 5/6 valores o professor não se preocupou minimamente (nem com a fraude nem com o falhanço no teste de um curso inteiro). Agora em que a fraude teve maior volume decidiu atuar e fazer “justiça” por baixo. Para não falar de que este reagendamento do teste foi publicado 5 dias antes do proprio teste, o que está claramente contra as regras mas enfim os alunos honestos são sempre os prejudicados… Esperemos apenas que não volte a dar aulas porque claramente não está capaz e espero que mais nenhum aluno do tecnico tenha que fazer a cadeira desta forma.

  4. Boa noite.

    Acabei de ver a resposta ao email do JonyLeo e não podia deixar de comentar essa afirmação. Ora, questiono-me quanto à veracidade da mesma
    Acho que mesmo alguém sem qualquer conhecimento da situação conseguia olhar para a pauta do primeiro teste (uma maioria dos alunos com notas entre o -0,5 e o 5 e uns quantos 19) e estranhar. Isso aliado ao facto de ser na mesma plataforma faz com que seja uma situação, no mínimo, suspeita. E tendo conhecimento da situação, sabe-se perfeitamente que a “confiança dos professores nos estudantes no segundo teste” é uma farça.
    A dita vulnerabilidade esteve presente no segundo teste, esteve presente no teste de treino e, para o choque (ou não) de todos os telespectadores, também esteve presente no primeiro teste. Não quero nem procuro desculpar quem fez batota, mas acho uma barbaridade tremenda estarem a dizer que os professores confiaram nos alunos quando, após ter aulas durante um semestre com o professor João Soares, sei bem o que a casa gasta.
    Pelo que me chega, até os delegados se sentem exasperados a tentar falar com o professor, chegando a dizer que o mesmo lhes disse numa reunião “Não percebo como é que não podem entender o meu português”. Claro que é um excerto descontextualizado e não pinta a situação toda, mas acho que dá para perceber a condescendência presente por parte do professor, algo que se notou ao longo do semestre inteiro.
    Não digo isto como forma de ataque a ninguém. Acho que toda a gente pode mudar para melhor e não questiono as capacidades teóricas do professor. As atitudes que tem vindo a ter ao longo do semestre torna quaisquer afirmações de “confiança nos alunos” bastante questionáveis e incongruente com o que o professor tem vindo a demonstrar.
    Como tal, e mais uma vez não tentando desculpar quem cometeu fraude, acho uma barbaridade estarem a tentar explicar a incompetência do professor ao não seguir diretrizes como sendo “confiança nos alunos”. O professor não quer saber. Não quis saber quando os alunos tiveram uma quantidade extraordinária de notas negativas no primeiro teste que tinha uma dificuldade altíssima e só quer saber no segundo porque as notas subiram no geral (tanto porque mais alunos ficaram a par da vulnerabilidade como pela dificuldade reduzida do teste em comparação com o primeiro).
    Acho mesquinho procurarem defeitos quando as notas estão altas, mas não quando estão baixas. Acho ridículo repetirem um teste, mas não o outro que aconteceu nos mesmos moldes.
    E acho ridículo tentarmos justificar as ações questionáveis de professores que nos estão a prejudicar a qualidade do ensino como sendo “confiança nos alunos” quando, pura e simplesmente, não o são.

    TLDR: Houve fraude em ambos. No segundo foi mais generalizada. Os professores não cumpriram as diretrizes corretas para a plataforma nem num, nem no outro. Quem diz o contrário claramente não está a par da situação (não estou a tentar criticar o CP, apenas estou a afirmar que quem lhes disse que no primeiro não existia vulnerabilidade nenhuma, mentiu).

  5. Não querem que haja fraude, mas quem sai prejudicado são aqueles que nao
    a cometem. Para quem já teve nota maxima no primeiro teste de gestão está facil, agora para quem teve negativa e vai ter que repetir o teste que provavelmente vai ser mais dificil que o original… O homem que seja despedido, isto está uma palhaçada autentica.

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