Na sequência do Dia da Mulher, o Diferencial reuniu-se na já comum mesa online com o núcleo WiE – Women in Engineering – onde foram discutidos os seus objetivos, planos e ambições futuras, numa conversa informal que agora damos a conhecer.
Autoria: Inês Xavier, MEBiom (IST)
Aline Fragas e Sara Santos são as atuais responsáveis pela coordenação do WiE, nas posições de Chair e Vice-Chair, respetivamente. Sendo este um núcleo pouco conhecido, questionamos acerca do que era e de quais os seus objetivos. A isto Aline respondeu, dando-nos alguma contextualização, que o WiE é um “grupo de afinidade do IEEE”, acrónimo para Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrónicos, “a maior organização técnico-profissional para o avanço tecnológico”, sublinhou Sara. Esta instituição compreende um conjunto de grupos mais voltados para a parte técnica e outros para a parte social, como o caso do WiE, onde o principal objetivo passa por “promover a mulher nas áreas da engenharia e tecnologia, mais especificamente e de uma forma mais geral, trabalhar para alcançar a igualdade de género”, como explicou Aline. O núcleo WiE não é exclusivo do Instituto Superior Técnico e, muito menos, de Portugal: Sara fez notar que existem “900 grupos da WiE espalhados por mais de 100 países”, com dimensões variadas e que, em Portugal, aquele com dimensão mais representativa é o de Coimbra, que conta com mais de 30 membros. Seguidamente questionamos se os núcleos eram exclusivamente femininos. Aline respondeu que, apesar de esse ser o caso na maioria dos núcleos, inclusive no próprio IST, não existem barreiras de entrada a qualquer género. Em relação a este mesmo ponto, deram o exemplo do núcleo de Coimbra que contava com um homem nos seus constituintes e acrescentaram que, no mandato anterior, o Vice-Chair da WiE Portugal foi um homem. Sara acrescentou que “apesar do nome do núcleo ser ‘Woman in Engineering’, era bom que entrassem homens, gostava que vissem a perspetiva que oferecemos” e Aline concordou, realçando que isso, no caso do IST, seria ainda mais relevante “por causa da maioria masculina” existente no campus.
De seguida, perguntamos quais as principais atividades que promoviam, ao qual Aline respondeu que a sua dinâmica atual estava “maioritariamente focada nas redes sociais”, especialmente no Instagram. Começou por listar algumas atividades: todas as quartas fazem uma publicação “acerca de uma mulher que tivesse tido relevância na área da ciência e que tivesse sido especialmente inovadora”; realizam debates, como foi o caso de um debate anterior em parceria com a SDUL, também no âmbito do Dia da Mulher; workshops e talks informais, como ocorreu no ano passado onde a convidada foi Salomé Azevedo, alumni do IST, sobre o tema burnout, com o Movimento Não É Normal, com Inês Santos Silva, co-fundadora do Portuguese Women In Tech, ao abrigo do tema das mulheres portuguesas na indústria tecnológica, e mesmo Isabel Costa, alumni e engenheira de software. A isto somam-se mais palestras e eventos, que hoje são “de cariz mais recreativo”, como explica Sara.
Na sequência do Dia da Mulher decidiram criar a “Semana da Mulher”, um conjunto de eventos online diários que se iniciaram dia 8 de Março, com a Semana Empresarial e Tecnológica do Tagus que, como Aline esclarece, teve “um painel com oradoras que irão partilhar as suas experiências, e onde a WiE foi convidada a participar. Nesse dia, também foi revelado o vencedor do concurso de talentos promovido também por este núcleo. Quando questionada acerca do objetivo deste concurso Aline foi pronta na resposta: “dar a conhecer iniciativas interessantes e criativas, como textos, fotos, desenhos, que permitam mostrar que os alunos do Técnico são mais do que engenheiros”. Passando para terça, foi preparada uma Quizz Night, em parceria com o QueerIST; na quarta cumpriram a rotina de dar a conhecer uma mulher relevante na área da tecnologia e, para fechar a semana, na quinta, tiveram uma talk informal com a professora catedrática Isabel Ribeiro, onde esta falou acerca das suas experiências como aluna e professora na instituição.
Com uma mão-cheia de atividades quisemos saber qual o impacto que elas achavam que estas teriam tido nos participantes. Aline começou por explicitar que as atividades, para ela, serviam como um abre olhos, mas que “não dá para ver qual é o impacto, há pouca gente a participar”. Sara concorda, “fizemos coisas interessantes, mas não há pessoas suficientes a participar. Ainda tentamos convencer os nossos amigos e eles até dão feedback positivo, mas não é o suficiente”. Aline acrescentou ainda que a própria WiE Portugal tem esse problema, mas diz que “se o evento inspirar alguém, então já valeu a pena”. Intrigados com esta informação, tentamos perceber o porquê de haver tão pouca adesão. Aline é da opinião que “as pessoas até concordam com os valores que promovemos, mas não se inscrevem no evento. É mais inércia do que desinteresse”. Deu ainda vários exemplos: um grupo totalmente masculino pode achar que não faça sentido ir, tal como um grupo maioritariamente feminino, uma vez que pode não sentir os estereótipos e injustiças. E mesmo um grupo onde haja poucas mulheres pode não ter espaço para desenvolver este assunto. Sara acrescentou que a pouca participação constitui quase como um choque, porque, na sua opinião, o que fazem é importante e “o problema não se trata da divulgação”. Acrescentou ainda que os eventos que promovem são variados e mesmo assim não há participação. Um dos problemas que aponta é o facto de não terem redes sociais próprias – as suas publicações são no Instagram e Facebook do IEEE.
De seguida, quisemos saber quais as vantagens, na perspetiva de Aline e Sara, que poderiam advir da existência de um núcleo desta natureza no IST. Falaram em duas vertentes, pessoal e geral. A nível de vantagens para os estudantes, Aline salientou que era importante “trazer o tema para o debate, uma vez que o IST é das universidades com menos representatividade feminina, e que, partindo desse ponto, torna-se relevante discutir onde é que se encontram os problemas que ajudam a formar esta realidade”. Sara concordou e, numa nota mais pessoal, acrescentou que o facto de ter que “fazer posts a cada duas semanas, permitiu que investigasse e encontrasse muitos assuntos que afetam as mulheres, como a diferença salarial. Essa investigação levou a que me tornasse mais curiosa e que visse o assunto de outra perspetiva. E comecei a dar mais valor ao IEEE”. Acrescentou ainda que a equipa trabalha muito bem e que existe um grande espírito de entreajuda. Aline concordou e salientou que tinha desenvolvido “muitas competências, como a edição de vídeos e fotos” e também encontrado “muitas iniciativas interessantes e outros lugares onde é possível discutir este tema”.
Finalmente, em jeito de despedida, questionamos quais os seus planos para o futuro. Aline focou-se nos eventos que iriam fazer, especialmente no recrutamento, que se iniciou no dia 10 de Março. Para Sara, os objetivos futuros prendem-se com “dar mais visibilidade ao núcleo, de maneira a termos mais opiniões, ideias para eventos e alargarmos a nossa rede de contactos”. “No fundo”, acrescentou, “crescer como núcleo e atingir os nossos objetivos”.
O núcleo WiE vai ter as suas inscrições abertas desde 10 de Março a dia 20 do mesmo mês. Se tiveres interesse em participar podes contactá-las através das redes sociais do IEEE:
Instagram: https://www.instagram.com/ieee_ist/
Facebook: https://www.facebook.com/ieeeist
E-mail: contact@ieee-ist.org