Testemunho 1: Anónimo
Infelizmente já tive mais do que uma má experiência. Lá estou eu a chamar-lhe má experiência, por ingenuidade, por querer esquecer/abafar, quando as coisas deviam ser chamadas pelo nome. Assédio. A primeira foi num ginásio 24h. Estava eu a sair do Técnico, já era quase meia noite, depois de um dia longo de estudo. Precisava de aliviar stress, não tinha sono. Lembrei-me que o ginásio em que estava inscrito fica aberto 24h e ainda não tinha treinado nessa semana e pensei “Porque não?”. Passei em casa para buscar as coisas para treinar e lá fui. Quando cheguei já era quase 1 da manhã, estava quase vazio, apenas outros dois a treinar. Estava a fazer o meu treino quando reparo pelo canto do olho que um deles estava a examinar-me o corpo todo com o olhar. Comecei-me a sentir bastante desconfortável, mas mudei de sítio e deixei passar. Fui continuando o treino e ele continuou, mas decidi não dar importância. No fim do meu treino, fui para os balneários masculinos. Despi-me e fui para os chuveiros, sem divisões, que estavam junto dos cacifos. Como estava sozinho, deixei a toalha em cima dos bancos, perto dos chuveiros. Fui tomando banho até que oiço alguém entrar, mas não pensei nada demais. Quando dou por isso era ele, estava a arrumar as suas coisas enquanto olhava para mim. Fiquei bastante desconfortável e assim que cruzei olhar com ele, ele aproximou-se e ficou a tapar a passagem para os cacifos e começou a meter conversa. “Vens aqui com frequência?”. Eu nem sabia para onde me virar, estava completamente nu e não tinha maneira de sair do chuveiro sem passar por ele. Fingi que não tinha ouvido, para ver se ele saía. Continuou lá por mais uns segundos a olhar, que mais pareceram minutos. Finalmente, ele saiu para ir buscar as coisas do banho e eu aproveitei e fui direto à minha toalha. Tapei-me e comecei-me a secar o mais rápido que conseguia. Ele começou a meter conversa novamente e eu fui dando respostas o mais curtas possível enquanto me despachava para sair. Nisto ele vai para os chuveiros e pergunta se não me quero juntar. Eu só disse “não, obrigado” e comecei a meter tudo dentro do saco, ao molho, e a vestir o que faltava ainda mais rápido. Quando me virei para ir embora estava ele a olhar para mim e a tocar-se. Peguei só em tudo e saí dali logo. Cheguei a casa e nem acreditava bem naquilo que tinha acabado de acontecer. Nunca mais voltei a pôr os pés naquele ginásio.
Testemunho 2: Anónimo
Quando um homem me agarrou na rua, quando vinha de uma serenata (consegui fugir essencialmente ilesa), não reportei porque não tive confiança que a polícia fosse fazer algo. Isto porque, entre outras situações, quando um homem se fechou numa casa de banho pública onde estava eu e outra rapariga (com cerca de 8 e 7 anos) a masturbar-se à nossa frente e a nossa babysitter falou com um polícia, ele simplesmente acenou e não perguntou ou fez algo quanto a isso.
Testemunho 3: Alexandra
Ainda no secundário, estava em casa com três amigas e organizámos uma espécie de jantar com três rapazes, também eles amigos, o chamado três para três, de grosso modo. Como ficou tarde, eles acabaram por dormir lá em casa, sendo que o rapaz com quem tinha simpatizado acabou por dormir no meu quarto. Antes de dormir ainda rolaram uns beijos, mas não queria que a coisa evoluísse mais que isso. Ele perguntou se eu tinha preservativos, e eu disse que não, mas que também não íamos precisar porque não queria avançar mais. Comecei a sentir-me pressionada, e acabei por pedir que fossemos dormir. Ele ficou surpreendido (pela negativa claro), e perguntou-me indignado se eu nem sequer o ia masturbar, como se fizesse parte da minha obrigação naquela noite dar-lhe algum tipo de prazer, só porque o deixei dormir ali. Disse que não, virei-me para o outro lado e, por falta de coragem, não o mandei embora. Ele dormiu, mas eu não. No dia seguinte, quando “acordei” e ele finalmente saiu, contei a uma dessas amigas o que se tinha passado, e mais tarde recebi uma mensagem dele a dizer que não gostava que eu andasse a falar dele e do que se passava entre nós. No entanto, pouco depois um amigo dele veio ter comigo com um sorriso estampado a dizer que já sabia o que se tinha passado no meu quarto, e que tinha sido “bem quente”. Senti-me diminuída, senti vergonha, uma certa repulsa, e nunca lhe disse nada. Hoje penso nisso e percebo o quão fácil é normalizar o desconforto, e o quanto é preciso educar, especialmente quando ainda estamos a descobrir a nossa sexualidade.
Testemunho 4: Anónimo
É um dos mais consagrados treinadores Portugueses de formação em Portugal… mas há histórias sem fim de assédio que se têm mantido no escuro. Não sei se por medo, se por vergonha. Passou por inúmeros clubes de formação e em todos eles há histórias de raparigas que se viram envolvidas com ele. Para além de toda a parte física que existia, todas estas atletas eram constantemente vítimas de abusos psicológicos durante treinos e jogos. A pressão a que eram submetidas, para além da forma como eram tratadas em frente de fosse quem fosse, sempre foi o que mais me deixou chocada. Nunca se aproximou de mim, mas bem sei quantas das minhas colegas eram as suas “namoradinhas”… Várias ao mesmo tempo. Pergunto-me quando é que vai ser suficiente e esta pessoa será afastada de lidar com jovens… até hoje continua ligado à formação.
Testemunho 4: “É um dos mais consagrados treinadores Portugueses de formação em Portugal” e conta com a fisioterapeuta Mariana Maia como “pupila”?
Testemunho 3, é preciso criar toda uma geração de pais e educadores, que finalmente potenciem “a real contribuição de cada um, para um progresso”, daqueles que ainda estão por nascer: https://archive.org/details/absorbentmind031961mbp/page/n439/mode/2up