Testemunho 1: Anónimo
Não denunciei, porque foi com a minha melhor amiga e com o namorado dela. Porque eles brincavam com o facto de quererem ter algo a 3 e eu achei que era apenas isso, uma brincadeira. Não denunciei porque achei que a culpa era em parte minha por estar bêbada. E porque, embora lhe tenha pedido várias vezes que não me penetrasse, continuei naquela cama sem saber como reagir. Não denunciei porque foi a minha primeira vez, mas não queria que ninguém soubesse que tinha sido assim. E porque eu própria queria ignorar que aquilo tinha acontecido.
Testemunho 2: Anónimo
Estava sozinha numa rua, à espera do autocarro do costume, e um homem que me pareceu muito desequilibrado começou a aproximar-se de mim. Começou a olhar para mim, de cima a baixo. Começou a olhar de forma nojenta para o meu peito, para as minhas pernas. Ele estava a comer-me com os olhos. Continuava a não aparecer ninguém na rua e, como os olhares não paravam, eu fiquei em pânico e a pensar logo no pior. O homem aproximou-se mais, agarrou-me no braço, e perguntou-me: “estás aqui sozinha é?”. Eu tentei controlar o medo e menti-lhe, dizendo: “estou à espera do meu namorado, deve estar mesmo a chegar”. Ele olhou mais uma vez para o meu corpo, olhou para a rua que não tinha ninguém, e decidiu deixar-me em paz. Quando ele saiu, chorei de alívio. Tive a sorte de ter dito o suficiente para ele ir, mas muitas de nós não tiveram.
Testemunho 3: Anónimo
Não sei se é justo da minha parte partilhar o que aconteceu aqui porque ainda sinto culpa em relação a isto, mas também sei que não sou só eu e acredito genuinamente que outras pessoas não devam sentir culpa. A culpa é sempre do agressor. Estava num churrasco com um rapaz que achava conhecer bem mas que se foi embora e me deixou sozinha quando se apercebeu que só estava interessada numa amizade com ele. Estava num dos pontos mais baixos da minha vida, tinha estado a beber e em vez de ir para casa juntei-me a um grupo de pessoas do meu curso que reconheci. Um dos rapazes comprou-me mais bebida e levou-me para a sua casa. Foi a minha primeira vez, lembro-me pouco do que aconteceu e demorei mais de um ano a aceitar o quanto me afetou. Durante meses senti que a culpa tinha sido minha, que não devia ter estado a beber quando me sentia tão mal, que não devia ter ficado sozinha, que devia ter sido mais responsável. Disse a mim mesma e a amigos meus que não fazia diferença, que virgindade era um conceito misógino de qualquer maneira e que estava tudo bem, eu é que me tinha posto a jeito. Mas a verdade é que nunca pensaria isso sobre mais ninguém e estou lentamente a tentar perdoar-me e compreender que a culpa não foi minha. Não foi justo alguém ter-se aproveitado da minha falta de consciência para sexo fácil, não foi justo a decisão ter-me sido roubada, não é justo eu ainda estar a lidar com o quanto esta situação me faz odiar a mim mesma e com o trauma que me causou sequer pensar no que aconteceu, enquanto o rapaz nem se deve lembrar da miúda bêbeda que apanhou num churrasco. Da primeira vez em que dormi com alguém com o meu consentimento tive um ataque de pânico, só recentemente comecei a conseguir sequer pensar no que aconteceu sem ficar sem ar. Não é justo que me sinta assim por ter cometido o erro de beber numa festa sem pessoas em quem pudesse confiar. Ainda hoje não sou capaz de dizer que a culpa não foi minha nem sou capaz de me desculpar por ter deixado isto acontecer.
Testemunho 4: Anónimo
Tinha só ido dar uma volta à rua sozinha para pensar. Estava num descampado e do nada reparei que um homem estava a andar atrás de mim. Continuo a minha vida normalmente e ele começa a aproximar-se de mim. Não havia mais ninguém lá e comecei a estranhar a aproximação. Passado uns minutos percebo que ele me estava a seguir e começo a correr, à procura de ajuda. Quando olho para trás vejo que ele está a correr também, e que se estava a rir. Ele estava a rir-se do meu pânico. Ele estava a rir-se de ter poder sobre mim. Ele estava a rir-se porque sabia que não lhe ia acontecer nada. E eu fiquei com o dia estragado a pensar no que podia ter acontecido.
Testemunho 5: Anónimo
Claro que isto não será tão grave como muitas situações que aqui serão partilhadas. Uma vez ia no autocarro, com os meus 18 ou 19 anos, quando um homem de pelo menos 40 ou 50 se sentou ao meu lado. Ele não parava de olhar para mim, mas eu ia distraída, a ouvir música, e não fiz caso. Quando olhei para ele, passado algum tempo, o homem estava-se a masturbar através das calças enquanto olhava para mim, sem tentar sequer disfarçar. Notava-se que ele queria que eu visse. Acho que foi das vezes na minha vida que senti a minha integridade física mais ameaçada. Saí a correr do autocarro, com medo que ele me seguisse. Felizmente não o fez, mas foi muito assustador.