Testemunho 1: Anónimo
Não só fui assediada diversas vezes, desde o típico assobio ou piropo (que hoje felizmente se vê cada vez menos) até aos toques impróprios nos transportes públicos, como também fui violada em criança (em idade da escola primária) por um familiar maior de idade. Muita gente pergunta porque não existem mais denúncias às forças de autoridade. Existem várias respostas. A minha é que eu não sabia que o que tinha acontecido era errado até muito depois de ter acontecido. Ainda hoje, muito depois do acontecimento, estou sentada de forma anónima à frente do PC e as mãos tremem, a garganta está seca e as lágrimas estão prontas a cair. Os traumas são muitos e ainda hoje me culpo mesmo sabendo que a culpa não é da vítima (e se eu não tivesse estado lá?). Esses traumas ditaram a minha vida, uma tentativa de suicídio, depressão, uma incapacidade de manter concentração, entre muitas outras coisas. Ditaram também as minhas relações, por escolher sem critérios achando que já não tinha mais nada para oferecer. A inocência foi-me retirada. Há 3 anos procurei ajuda, e faço terapia desde então. Primeiro 3x por semana, depois duas, depois uma, agora 1 de 15 em 15 dias. Hoje estou melhor.
Testemunho 2: Anónimo
O comboio estava cheio, parecíamos sardinhas numa lata. O homem ao meu lado, com cerca de 30 anos, não parava de me tocar e de se aproximar. Pensava que estava a ser empurrado por outra pessoa mas, ao fim de algum tempo e de algumas tentativas de me afastar, virar, pôr a mala entre nós, percebi que ele estava propositadamente a roçar-se em mim. Prosseguiu, metendo conversa comigo e insistindo que lhe dissesse em que estação ia sair. Eu respondia com frases curtas e sem partilhar informação pessoal, porque aprendi cedo que não responder podia provocar uma reação negativa em quem me assediava. Dei por mim e ele estava com uma perna a impedir que saísse por uma das portas e o braço esticado no outro lado, sendo fácil agarrar-me se saísse pela outra. Eu estava claramente desconfortável, a pedir que não falasse comigo e a dizer que não ia partilhar onde morava. A senhora à minha frente ainda olhou para mim, mas não me ajudou. Quando chegou a minha paragem esperei até ao último segundo, dei-lhe um pontapé na perna para conseguir sair e fui para a casa a correr. Tinha 14 anos.
Testemunho 3: Anónimo
Era apenas mais um dia de verão onde ia lanchar a casa dos meus avós. Tinha cerca de 13 anos e como moro perto, estava habituada a fazer o caminho sozinha, a pé. Ia com phones nos ouvidos, no meu mundo. Comecei a notar que alguém me estava a seguir, mas ignorei. Costumo ser um pouco paranóica com estas situações e era de dia, não dei importância. Entrei no prédio do meu avô, já sem phones nos ouvidos para ter controlo da situação. Estava a subir as escadas e notei que a porta da rua (que por defeito não fechava) abriu e alguém subia apressado as escadas. Subi mais depressa, pensei que estava a ser paranóica e podia ser só um vizinho ou o neto de alguém que mora no prédio. Subia as escadas, nervosa, e finalmente cheguei ao andar dos meus avós. Toquei à campainha. Nesse instante, ELE apareceu no meu campo de visão. Eu estava a tremer e só desejei por tudo que os meus avós se despachassem a abrir a porta. ELE olhou-me de cima a baixo e passou a mão dele no meu rabo, continuando a subir as escadas, que só tinham mais um patamar. O meu avô abriu a porta e eu entrei, meio tonta e sem conseguir dizer o que tinha acabado de acontecer. O meu avô perguntou-me se estava tudo bem e eu disse que sim, com vergonha do que tinha acontecido. Pensava que a culpa era minha. Eu é que ia de phones, eu é que ia com um vestido, eu é que me deveria ter apressado para que a porta se abrisse mais cedo. Ainda hoje me lembro desta situação e de como me senti na altura. Penso nos “ses”. E se aquela fosse a minha casa e não estivesse ninguém em casa, teria entrado para dentro comigo? E se os meus avós não estivessem em casa, teria acontecido algo mais grave naquele prédio? Na altura esqueci o assunto porque tive vergonha. Contei à minha mãe e tinha receio de ela achar que eu estivesse a mentir. Porque é que o primeiro sentimento a aparecer é a culpa, a vergonha? O problema não foi eu ter usado um vestido, o problema foi ELE ter-me seguido, ter entrado no mesmo prédio que eu e ter-me tocado. Este estigma de que a culpa é da vítima tem de acabar.
Testemunho 4: Anónimo
Tinha 9 anos e ele uns 11 ou 12, mas éramos da mesma turma, e passou por mim uma vez e apalpou-me a vulva. Apesar de ser pequena, fiquei enojada e só corri a chorar enquanto ele e os amigos se ficaram a rir. Não disse nada a ninguém mas marcou-me muito…
Testemunho 5: Anónimo
Foi no meu primeiro emprego. Um homem que lá trabalhava tocava-me na cintura quando eu passava, agarrava-me pelos braços e enconstava-me a paredes para se roçar em mim e depois ria-se. Fazia questão de ficar à espera do fim do meu turno para me obrigar a fazer a viagem de comboio com ele. Todos os nossos colegas e superiores adoravam-no porque ele era super simpático com toda a gente e ele chegou a ser promovido. Nunca consegui dizer nada a ninguém porque tinha a certeza que ninguém ia acreditar.
Testemunhas: este proscrito
https://expresso.pt/actualidade/violador-de-telheiras-pedia-desculpa-as-vitimas=f571610
só deve ser descrito no idioma dos Aliados de Windsor?
https://en.wikipedia.org/wiki/Henrique_Sotero
Testemunhas, este proscrito só precisa estar descrito no idioma dos Aliados de Windsor?
https://en.wikipedia.org/wiki/Henrique_Sotero