Alunos na Comissão Executiva do CP: “Maior parte dos nossos colegas não têm noção da importância que os QUC têm.”

Autoria: Francisco Raposo (MEFT) e João Carranca (MEiC)

Numa altura em que a discussão sobre o método de ensino no Técnico é novamente trazida à luz da ribalta, o Diferencial sentou-se com os representantes dos alunos na Comissão Executiva do Conselho Pedagógico (CP), Bruna Fernandes, Jorge Marques e Laura Zappavigna para falar sobre os objetivos do atual mandato, a auscultação dos estudantes e qualidade do ensino no Técnico.

Foi no dia 7 de janeiro que os novos membros eleitos dos Órgãos da Escola do Técnico, entre eles o CP, tomaram posse oficialmente, na sequência das eleições de dezembro de 2024. O voto estudantil deu a vitória à Lista I em todos os órgãos, com a obtenção de 4 dos 6 mandatos no CP, o único com paridade entre alunos e docentes, e a ocupação dos 3 lugares estudantis na respetiva Comissão Executiva.

Os objetivos – a auscultação dos estudantes 

Em relação aos objetivos para este mandato, que ocuparão até 2026, os três mencionam que há alguns objetivos específicos que foram definidos durante as eleições, nomeadamente a requalificação das Unidades Curriculares de Humanidades Artes e Ciências Sociais (HACS) e a reformulação dos QUC, para serem mais rápidos. Além disso, admitem que é um foco a aproximação do CP à comunidade estudantil e a auscultação dos estudantes para a tomada de posições. Segundo as palavras de Laura, “o nosso objetivo inicial vai ser recolher o máximo de informação possível para podermos tomar as decisões da forma mais correta.”

Para realizar essa recolha, o principal modo é utilizar a conexão direta que o CP tem com os delegados de ano e com os delegados de ciclo de cada um dos cursos. Este ano já aconteceram dois conselhos de delegados, o que, segundo Bruna, “foi muito importante para tirar opiniões relevantes sobre as alterações que estão a acontecer ao documento PERCIST”. Fala-se dos Princípios Enquadradores para a Reestruturação dos Cursos de 1º e 2º ciclo do Instituto Superior Técnico, que voltam a ser discutidos após a proposta de revisão por parte do atual presidente do Técnico, Rogério Colaço.

Mencionam também o regresso da iniciativa de chamadas do CP aos delegados, de modo a obter feedback atualizado e que consiste num “passo intermédio entre os QUC, para não recebermos a informação só no fim e ter algum género de atuação durante a execução das unidades curriculares”, nas palavras de Jorge. Isso porque, como diz Laura, o facto de essa informação só chegar no final “é uma das falhas dos QUC”.

Mas é Jorge que diz também que já existem iniciativas a ser trabalhadas com direcionamento para os estudantes como um todo, e não apenas para os delegados. Acerca de específicos, responde: “Não podemos ainda falar sobre elas, porque não foram aprovadas em plenário. Mas estamos a pensar em coisas que irão recolher o feedback da escola e não simplesmente através dos delegados.”

A revisão do método de ensino e do calendário escolar e académico

Em relação a uma eventual alteração do PERCIST, que virá, se aprovada em Conselho de Escola, segundo a proposta de revisão do Presidente do Técnico, o Professor Rogério Colaço, a aumentar de 2 para 5 o número máximo permitido de Unidades Curriculares (UC) com funcionamento de 14 semanas por semestre em cada curso, resta saber se estas alterações irão de encontro às necessidades e vontades dos estudantes. Segundo Laura,

“Eu acho que isso vai depender muito de qual é que é o papel do estudante nestas decisões, ou seja, quanto é que os departamentos estão dispostos a incluir as vozes dos estudantes.”

Sobre esse ponto, Jorge menciona que “houve uma crítica que os delegados fizeram e que o parecer da AEIST ao PERCIST também sugeria, que era a condição de que os delegados teriam de ser ouvidos” e que “o professor Rogério também meteu isso como condição”.

Em geral, Jorge acha que a escola convergiu toda um “bocadinho para um sentido, apontando como uma coisa benéfica esta flexibilização que a proposta de revisão do PERCIST traz”. De facto, finalizou-se no dia 20 de março, com o parecer positivo do Conselho de Gestão à mencionada proposta de revisão do PERCIST, a segunda fase de auscultação dos órgãos consultivos do Técnico. O documento obteve também pareceres favoráveis do CP, Conselho Científico, dos delegados de curso e dos coordenadores de curso, segundo informações fornecidas pelo Professor Rogério Colaço ao Diferencial. Agora, a sua aprovação será proposta pelo próprio em Conselho de Escola, para que possa ser implementada.

É do entender da Laura que essa alteração também vai ter de implicar outras alterações na calendarização académica, no regulamento da avaliação, com base nas propostas para os diferentes planos curriculares que os diferentes órgãos de escola receberem. “Porque claro que pode deixar de fazer sentido, como agora, haver 50% de exames e 50% de avaliação contínua, porque pode haver a tendência, nalgum caso, de haver 5 exames numa semana. Óbvio que isso não vai acontecer, nem o CP quer que isso aconteça.”, explica.

Em particular sobre eventuais alterações ao calendário escolar, Bruna acha que “é uma discussão muito complicada de ter, porque há muitas visões diferentes. E, tendo em conta agora a proposta do PERCIST, isto vai ainda divergir um bocadinho mais, porque pode haver cursos que mantêm os períodos, pode haver cursos que passam a ser só semestrais”.

Jorge sumariza com “Comentarmos isso agora era quase como fazermos futurologia. As hipóteses dependem muito do que a comunidade adotar”, embora creia que a maior parte dos departamentos está inclinada para passar várias cadeiras para funcionamento semestral. “Entre isso e depois ser compatível com toda a mudança que isso implica, devido às unidades curriculares que são lecionadas a diferentes departamentos e para as cadeiras baterem certo nos planos curriculares, a perspectiva que o Presidente do Técnico passa, pelas estimativas que já fizeram, é que será possível e será fazível.”

QUC

Laura considera que uma das maiores fragilidades dos QUC é a escala: 

“De um a nove não faz de todo sentido. Muitos alunos não compreendem a escala. O regulamento dos QUC tem 60 e tal páginas, ninguém vai ler aquilo.”

Jorge acha que falta comunicar à escola a importância dos QUC e o seu modo de funcionamento: “A maior parte dos nossos colegas não têm noção da importância que os QUC têm.”

Considera também que muitos alunos, por esta razão, acabam por responder “ao calhas” ou não responder, algo que depois tem um impacto real nos resultados.

Do ponto de vista de sugestões que têm para melhorar a situação atual ou decisões que tenham tomado com este objetivo, Bruna, ela própria delegada, refere que tem havido um incentivo mais forte a que os delegados procurem as opiniões dos alunos o máximo possível, de modo a redigir relatórios o mais informativos e úteis possível.

Para Jorge Marques, os estudantes deveriam, logo quando entram no IST, ser informados sobre como funcionam os QUC e a sua importância no contexto da faculdade.

Acumulação de cargos nos Órgãos de Escola e nos Órgãos da AEIST

Além de fazer parte do CP, Jorge Marques é presidente da Mesa da Assembleia Geral de Alunos (MAGA) da Associação dos Estudantes do IST (AEIST). Já um seu antecessor no CP, o estudante António Jarmela, ocupa agora um dos lugares reservados a alunos no Conselho de Escola (CE), sendo também presidente da direção da AEIST. Sobre essa acumulação de cargos, Jorge acredita que, por um lado, advém de haver muita falta de envolvimento estudantil no Técnico: “Temos 10.700 estudantes e poucos são aqueles que são interventivos e que se envolvem nas coisas e não é por falta de tentarmos de tudo. (…) E havendo falta de estudantes com essa iniciativa, isso acaba sempre por fazer com que sejam os mesmos a assumir.”

Dá como exemplo as Assembleias Gerais de Alunos (AGA), cuja adesão tem sido consistentemente baixa nos últimos anos: “Eu não sei bem que mais meios posso utilizar para comunicar as AGA, já o fiz por [email] institucional, pelas plataformas da AE, enviei email a todos os núcleos estudantis, e não há aqui muito mais formas de conseguirmos envolver a comunidade. Parte muito dos estudantes, se querem ou não estar envolvidos.” De facto, entre 2019 e maio de 2024, 25% das AGA contaram com menos de 20 participantes

Em relação a se é benéfica ou não a concentração de cargos, responde que “depende sempre da forma como desempenhamos os nossos cargos”.

Eu gosto de ver o meu cargo, seja do lado da AEIST, seja no lado do CP, como auscultação dos estudantes, porque a posição que eu levo ali não é a minha, terá de ser sempre a dos estudantes.”

 Além disso, assinala que a presença em vários cargos e a experiência associativa “fazem com que já tenhamos esse contacto com os estudantes, faz com que já conheçamos o Técnico e as suas estruturas e saibamos onde procurar a informação e consigamos compreendê-la mais facilmente (…). Eu considero que, por exemplo, o facto de ser Presidente da MAGA, atualmente, é uma mais valia.”

Em particular, menciona a presença do Professor Rogério Colaço na 2ª AGA Extraordinária de 2024/2025, onde foi apresentar as suas propostas de alteração do PERCIST e responder às questões dos estudantes: “Se não estivesse no CP, se calhar, não teria tanta facilidade em fazê-lo.”

Relação entre estudantes e docentes na comissão executiva do CP

O CP é constituído por um número igual de docentes e alunos, sendo constituído por um total de 24 membros. Também na Comissão Executiva há paridade na composição, entre professores e estudantes, com o Presidente do CP, o Professor Miguel Teixeira, e os vice-presidentes Professor Carlos Silva e Professora Ana Galvão a trabalhar em conjunto com os três entrevistados. No que diz respeito à relação com essa comissão e com os restantes professores do CP, Laura responde que “Sim, acho que até está positiva.”

Já Bruna diz que “existe muita abertura para a partilha de opiniões entre os professores. Acho que ambos os lados estão sempre dispostos a ouvir”. Não obstante, Jorge afirma que “há algumas temáticas em que vamos sempre discordar. Há a perspectiva do docente, há a perspectiva do aluno, é por isso que o CP é o único órgão que tem paridade”. Estende: 

“Se os membros estiverem presentes, nenhuma decisão será tomada sem que seja encontrado um meio termo para a escola.”

Laura concorda, dizendo que “é bom ter opiniões diferentes e distintas, há imensos departamentos diferentes, que têm todos representatividade”. Acrescenta: “É bom termos a perspectiva dos vários departamentos. Há atritos, se calhar, em algum assunto, mas eu acho que isso é uma coisa benéfica.” 

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