Técnico aposta nos Teaching Assistants para revitalizar o modelo de ensino

Autoria: Laura Ildefonso (LMAC), Mariana Campos (MEAer) e Maria Rosa (LEIC)

O Técnico atingiu no ano letivo 2022/2023 o valor de 0,65 Teaching Assistants (TA) por cada docente de carreira, um aumento significativo em relação a anos anteriores. Para averiguar o sucesso da integração desta nova massa de alunos nos quadros de docência, o Diferencial entrevistou alguns estudantes que estão a desempenhar o trabalho de TA para os seus respetivos Departamentos.

Durante a próxima década é previsto que aproximadamente metade dos professores do Instituto Superior Técnico (IST) atinjam a idade da reforma, o que possibilita uma mudança profunda no modelo de ensino da instituição. Uma das estratégias implementadas para lidar com esta transição é o aumento da proporção de Teaching Assistants por docente de carreira até ao rácio 1:1. Este aumento possibilitará uma redução da proporção de alunos por professor, aumentando o nível de apoio académico e permitindo que os professores dediquem mais tempo à investigação.

Em 2020, a proporção era de 0,3 TA por professor, com metas de aumentar para 0,5 até 2024 e 1,0 até 2028, conforme o Plano Estratégico do IST 2020-2030. No entanto, no ano letivo 2022/2023 já foi atingida uma proporção de 0,65 TA por professor, ultrapassando assim largamente a métrica estabelecida para o final de 2024.

Evolução estimada do número de TA ao longo dos anos. Fonte: IST

Considerando uma taxa de substituição de professores reformados de 1:1, e com a implementação da meta de 1 TA por professor até 2028, a proporção de alunos por docente poderá ser reduzida para 8,9. Este valor superará os benchmarks de referência de instituições como o MIT (Massachusetts Institute of Technology) com 10,8 alunos por professor.

Cartazes espalhados pelos campi.
Fotografia: Maria Rosa | Diferencial

O Diferencial entrevistou alguns alunos que exerceram as funções de TA, com o objetivo de recolher informação sobre as suas experiências, inseridas no contexto do Departamento para o qual trabalharam. Em relação a detalhes contratuais, as respostas pouco variaram: para 6 horas de trabalho semanal formalmente estipuladas – distribuídas por aulas práticas, laboratórios, horários de dúvidas e correção de trabalhos – a remuneração mensal ronda os 450 euros líquidos ao longo do ano letivo, ou, nalguns casos, apenas vencidos durante o período de lecionação. Alguns dos alunos que entrevistamos realçaram ainda a inclusão como beneficiários da ADSE (Instituto de Proteção e Assistência na Doença) no contrato.

Relativamente à carga de trabalho, Miguel Faria, TA do Departamento de Matemática (DM), refere ter gasto cerca de 2 horas semanais em preparação de aulas para além das horas remuneradas. Efetivamente, vários monitores constataram que o período semanal de serviço ultrapassou o previsto no Regulamento de Prestação de Serviço dos Docentes do IST, Secção IV, Artigo 13.º, 2: “[…] o período semanal de serviço é de seis horas […]”. Muitos indicam ter lecionado 6 horas de aulas, às quais ainda se acrescentam horários de dúvidas, correção de trabalhos e projetos e preparação de aulas, resultando numa carga de trabalho superior às horas contratualmente estipuladas.

Alguns, no entanto, desvalorizam o impacto do trabalho extra, considerando a remuneração adequada. Relativamente à relação entre a remuneração e a carga de trabalho, Eduardo Espadeiro, TA do Departamento de Engenharia Informática (DEI), diz não ser desadequada: “apenas o número de horas é um pouco desonesto.”

Segundo Miguel Faria, “o critério mais importante em relação a quão difícil é estar a lecionar uma cadeira é sempre o professor responsável” e, de facto, quando questionados sobre a preparação que receberam por parte do Técnico, alguns dos nossos entrevistados aproveitaram para elogiar os regentes: “Sinto que me tratava como um professor ‘a sério’. Dividimos bem as tarefas, discutimos os testes e exames. Ele até me deu liberdade para fazer exercícios para os projetos”, acrescenta Miguel sobre o professor que o acompanhou nas cadeiras de Matemática Computacional e Matemática Experimental. 

Do mesmo modo, Raquel Roxo Couto, TA do Departamento de Engenharia Mecânica (DEM), sublinha a sua experiência positiva ao lecionar Mecânica dos Materiais e dos Sólidos: “tive um grande apoio dos professores, em e-mails e reuniões e chamadas para o que eu precisasse”, afirma com agradecimento.

“Quero frisar aqui a grande vantagem de ter afinidade com os conteúdos – o que tem de ser essencial numa posição destas, acredito que se esse não fosse o caso estaria a falar de o dobro ou triplo das horas de preparação e maturação”, acrescenta Filipe Piçarra, TA do DEEC.

“Os professores sempre se mostraram disponíveis para ajudar”, contudo, “nas aulas práticas não tive qualquer tipo de orientação por parte de nenhum professor, exceto os enunciados e resoluções de exercícios fornecidos, que também o foram aos alunos”, revela João Gaspar, TA do DEEC que, todavia, vê este distanciamento como uma oportunidade de desenvolvimento. “Comecei por não concordar mas no fim do semestre acredito ter sido das melhores oportunidades que tive enquanto monitor.” No entanto, outros alunos, que desejam permanecer anónimos, expressam sentir nesta falta de apoio algum abandono por parte da docência: “Nós não fazíamos nada dos enunciados [dos projetos], mas os projetos eram atirados para cima de nós para corrigir. Não nos davam critérios nem cotações. Isto tornava a correção bastante subjetiva”; “Os professores davam a resolução, que era apenas uma pequena parte do laboratório, mas de resto nada.”

Em relação a apoios prestados pelo Técnico enquanto instituição, foi mencionada a existência de um workshop de preparação para monitores, promovido pelo Núcleo de Desenvolvimento Académico (NDA). Intitulada Teaching STEM Students, Transformation guide for Teaching Assistants, a oficina decorreu durante os dias 7 e 8 de setembro com o propósito de auxiliar o desenvolvimento de competências pedagógicas naqueles que viriam a desempenhar funções de TA no presente ano letivo. Apenas Diogo Cardoso, TA do DEI, refere ter comparecido a duas das sessões, e, quando questionado sobre a sua utilidade, relata que foi “minimamente útil”: “discutiu-se muita coisa mas tinha e tenho dúvidas relativamente à aplicabilidade do que se falou”.

Salários e horários à parte, o balanço geral da experiência é positivo para a vasta maioria dos TA com que falámos, que expressam satisfação com o trabalho realizado. 

Raquel Roxo Couto expressa satisfação por ter experimentado a docência: “É algo que eu sempre quis averiguar e que ainda considero como profissão futura”. Aproveita também para deixar um conselho a futuros TA – “Recomendo que desde o começo comunique clara e abertamente com os regentes.” 

Estevão Gomes, TA do Departamento de Física (DF), acrescenta num tom jocoso: ”Fica bem no currículo e depois o dinheiro também dá jeito”. “Tem sido espetacular sim, com a sua carga de trabalho e noitadas… Mas sinto que me mudou para o melhor!”, complementa Filipe Piçarra. 

“É uma experiência muito enriquecedora”, afirma Duarte Silva sobre o seu trabalho como TA no Departamento de Engenharia Química (DEQ), “Posso dar o meu contributo e sentir-me útil a ajudar alunos mais novos com tudo aquilo que fui aprendendo durante a minha passagem pelo Instituto Superior Técnico.” 

Com o equilíbrio de um TA por professor à vista para os próximos anos, resta apenas esperar que o crescimento acelerado do número de TA não comprometa o desempenho escolar dos estudantes com horas excessivas de trabalho, e que os seus contributos ao Técnico não cessem de se converter no enriquecimento dos seus percursos académicos.

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