Autoria: Ana Sousa (LMAC)
Há cerca de um mês, estavam os alunos do Instituto Superior Técnico, bem como os das outras faculdades da Universidade de Lisboa, a aproximar-se do tão inevitável primeiro dia de aulas. Na azáfama de arranjar novo material, ou reutilizar o que quer que tenha sobrado do ano passado, pairava no ar um ambiente recheado de familiares promessas, das quais eu sou cúmplice: “Vou ter sempre a matéria em dia!”, “Este ano vou a todas as aulas! Até às teóricas!”.
Embora de curta duração, estes conhecidos ditados não são totalmente incompatíveis com a realidade. No decorrer da primeira semana, o aluno está presente nas teóricas e esforça-se para estar a par dos infinitos slides submetidos no adorado Fénix, tentando ao máximo suprimir a parte de si que filtra quais aulas valem (ou não) a pena.
Eventualmente, o aluno cede: “Para quê ir a uma aula em que só vou ouvir metade?”, mas continua a fazer outras pequenas promessas: “Vou aproveitar este tempo para estudar um bocado.” Começa então o nosso querido aluno a procurar um espaço propício a um estudo rentável, dirigindo-se, esperançoso, ao Aquário. Ao chegar lá, depara-se com uma sala espaçosa cheia de luz natural, mas, infelizmente, sem nenhum lugar vago. O aluno já devia saber que a probabilidade de arranjar mesa no Aquário é menor que a de ganhar o Euromilhões! Mas o problema da gestão de espaços do Técnico não é bem o foco do dia…
Após percorrer uma boa parte das zonas de estudo da faculdade, este finalmente encontra aquela que lhe vai proporcionar o foco necessário para compensar a hora e meia de aula já perdida. Ao abrir o Fénix e clicar em “Prosseguir” no pop-up do pagamento das propinas, o aluno é bombardeado por inúmeras sebentas e séries de exercícios, que já há muito deviam estar resolvidas. Afinal, como bem se sabe, o conciliar da vida pessoal e das responsabilidades académicas é um fator de grande relevância nesta instituição.
Entretanto, termina a aula em que o aluno devia ter estado presente, e este decide que também não irá à próxima, já que se encontra totalmente embrenhado numa sessão de estudo autónomo intensivo. “Mas como é possível tanta matéria num tão curto espaço de tempo?” Pois. Talvez, em tempos, o programa das cadeiras tivesse estado mais justamente distribuído, mas não vale a pena entrar em nostalgias.
Depois de umas boas horas dedicadas a correr atrás do prejuízo, o aluno decide que está na altura de apanhar ar fresco e espairecer um bocado. Este sente-se cansado, e, embora tenha passado uma quantidade de tempo considerável a estudar, parece que ficará sempre para trás. Começa a surgir um sentimento de culpa, de desmerecimento e de desamparo. O aluno questiona-se acerca de como poderá ele se sentir tão à deriva passado apenas um mês de aulas: será que devia mesmo frequentar a “melhor faculdade de engenharia do país”? Para tristeza do aluno, o pior ainda está por vir! Afinal, ainda nem ultrapassamos a primeira ronda de testes.
Como escapatória ao inevitável declínio mental, é necessário encontrar algum tipo de conforto no meio da tão aparente confusão que o cerca. Decide então o aluno dirigir-se aos seus prezados amigos e colegas, em busca da resposta à derradeira pergunta que assusta qualquer universitário: “Meus caros, como é que vocês estão na matéria?”
Imediatamente, este sente um alívio ao saber que o triste estado de espírito também habita a alma dos demais. O egoísmo por vezes prevalece.
Não resta ao aluno outra opção a não ser submeter-se à situação por que tanto lutou para conseguir. Os anos de esforço, que tornaram possível frequentar esta tão prestigiada instituição, com certeza valeram a pena! Ou, pelo menos, irão valer. De facto, o aluno está a viver a vida que ele um dia sonhou alcançar, e não há maior gratificação que essa.